CAPÍTULO 21

17 1 0
                                    

Na mansão Luciano, Cassandra caminhava de um lado para o outro da sala, sem conseguir disfarçar a apreensão. Eram quase oito da noite e ainda não tivera qualquer notícia sobre o paradeiro de Franco. O que estaria acontecendo em Roma? Será que havia prendido os criminosos? Por que Franco não telefonava?

Enquanto ela se fazia essas perguntas, Tadeu apareceu na villa, mas tampouco trazia novidades.

— Falei com meu irmão pela manhã. Ele me contou sobre o atentado. Nunca vi coisa tão absurda. Foi um erro eu ter deixado você ontem à noite.

— Estou preocupada com Franco. Não tenho pensado nos bandidos. Para mim, tudo pareceu um pesadelo.

Continuaram conversando na sala por mais algum tempo, até que a governanta apareceu para avisar que Franco chegara fazia dez minutos.  

Mais do que depressa, Cassandra correu em direção ao quarto. Seu marido estava lá, ocupado em arrumar uma mala.

Quando ouviu a porta se abrir. Franco voltou-se, abrindo os braços para recebê-la. Estreitando-a contra o peito, fez Cassandra recostar a cabeça no seu ombro. Depois eles se beijaram com ternura e paixão, como se há dias não se vissem.

— Por que você está fazendo as malas, Franco?

— Vou me hospedar num hotel até consertarem o apartamento.

— Não acha melhor ficar aqui?

— Não. Minha presença poria a villa em perigo.

Explicando isso, ele tomou-lhe o rosto entre as mãos e contemplou-o demoradamente, como se desejasse gravá-lo na memória.

— O que há de errado, Franco? — Cassandra perguntou, apreensiva.

— Por enquanto nada. Mas vou tomar algumas precauções. Você terá que viajar pelo menos até terminar o julgamento.

— Isso eu não aceito. Meu lugar é aqui, ao seu lado.

— Não confunda as coisas, Cassie. Você tem que ficar com Sam, nos Estados Unidos.

— Nada nos prende a meu país. Nem casa nós temos lá.

Sacudindo a cabeça, Franco foi até a escrivaninha, de onde voltou com uma pasta na mão.

— Veja esses papéis, Cassie. Comprei sua propriedade de volta. O casal não estava disposto a vendê-la, mas fiz uma oferta irrecusável. Agora, você já não pode dizer que não tem para onde ir.

— Isso é um absurdo, Franco! Se eu somar o que devo a você, vou passar o resto da vida pagando. Não quero essa casa.

— Por favor, não fale desse jeito, Cassie. Dinheiro é o que menos importa na história. Essa casa é o seu lar, um presente que lhe dou...

— Por que você faz tanta questão de se ver livre de mim?

— Não estou querendo me livrar de você, meu amor. Quero apenas protegê-la.

— E quem garante sua segurança?

— Eu sei me cuidar sozinho, Cassie. E, se não precisar me preocupar com você, então não haverá problema.

— Se eu fosse embora, quando poderia voltar?

— Depois do julgamento de Genco.

— Ora, Genco é apenas um caso. Outros virão enquanto a Máfia existir. Você pretende me mandar embora cada vez que houver um julgamento?

Sem olhar para ela, Franco anunciou:

— Estou pensando em dedicar mais tempo à minha clientela particular e trabalhar menos para o governo.

— Por que essa mudança? — Cassandra perguntou, intrigada, enquanto ele voltava a arrumar a mala.

— Bem, estou há cinco anos como promotor público. Creio que chegou a vez de outra pessoa lutar e correr riscos.

Perplexa diante daquela atitude, ela elevou o tom de voz, obrigando-o a encará-la:

— O que diabos está acontecendo, Franco?

— Você não acha que o atentado desta manhã é resposta suficiente?

Cassandra sacudiu a cabeça, inconformada. Tinha certeza de que ele estava escondendo alguma coisa.

— Conheço você o suficiente, Franco, para saber que houve algo depois do acidente que o deixou transtornado. O que foi?

Franco enlaçou-a com força contra o peito.

— É inútil me fazer tantas perguntas. Não posso responder a tudo. Mas, pelo amor de Deus, atenda meu pedido. Pegue Sam e volte para os Estados Unidos até acabar essa confusão. Irei ao seu encontro assim que puder.

Cassandra pôs os braços em volta do tronco forte, como se assim pudesse evitar a separação. Gostaria de continuar argumentando contra sua partida, mas sabia que seria pura perda de tempo.

Segurou as lágrimas ao se afastar dele e sentou-se na beirada de uma poltrona.

— Está bem, Franco. Quando você quer que viajemos?

O marido suspirou, aliviado.

— Obrigado, Cassie. Eu tinha certeza de que você seria compreensiva. Comprei as duas passagens para depois de amanhã

Houve um silêncio carregado, durante o qual ela se limitou a fazer que sim com um gesto resignado de cabeça. Então Franco perguntou:

— Por que você não me disse que estava pintando um retrato de Alessandro Forli?

— Você tentaria me fazer desistir da idéia — retrucou ela, o olhar fixo no chão.

— Se sabia disso, por que assumiu esse compromisso?

— No começo foi por curiosidade. Achei que podia ouvir ou ver algo que fosse útil a você.

— E depois, por que continuou indo lá?

— Não sei ao certo. Eu sinto um certo prazer de ir até a casa de Forli. Ele não é má pessoa, Franco.

Novamente ele a puxou para si.

— Você é tão boa, tão ingênua, que sempre tenta descobrir qualidades nas pessoas. Isso pode ser perigoso. Não confie tanto nos outros, Cassie. — Depois de beijá-la no rosto, ele completou: — Preciso ir embora. Telefono para você amanhã.

Cassandra sorriu, aparentando tranqüilidade, embora seus lábios tremessem.

— Minha querida, não me olhe desse jeito. Essa situação não vai durar muito. Quando eu estiver trabalhando só no escritório, esse tipo de coisa não acontecerá.

Depois que ele saiu do quarto, Cassandra dirigiu-se à janela esperando vê-lo no jardim. De fato, quando Franco ia entrar no carro, pareceu sentir a força de seu olhar e então ergueu a cabeça para encará-la.

Sorrindo, ele estendeu a mão até uma roseira, colheu uma rosa e lançou-a para o alto, gritando:

— Eu te amo!

Cassandra pegou a flor com ansiedade, fazendo o possível para esquecer a tristeza. De modo algum duvidava do amor dele, mas parecia que uma força maior não lhes permitiria serem felizes. Se Franco renunciasse à promotoria, como anunciara, será que no futuro não a culparia por prejudicá-lo na carreira? Por que ele tomara uma decisão tão importante assim de repente? Sem dúvida, devia haver algo para justificar aquilo...

AO SABOR DOS TEUS CAPRICHOSOnde histórias criam vida. Descubra agora