CAPÍTULO 24

15 1 0
                                    

Sentindo a luz do sol no rosto, Cassandra abriu os olhos lentamente. A cabeça lhe doía e sua garganta estava seca. Fez menção de levantar-se, mas uma onda de enjôo obrigou-a a cair de costas outra vez.

Após alguns minutos, tentou de novo, e desta vez conseguiu sentar-se na beirada da cama de lona onde se encontrava.

Devagar, girou a cabeça para os lados, observando o ambiente. Era um quarto pequeníssimo, com duas janelas altas, protegidas por grossas barras de ferro. A única peça de mobília era a cama.

Com grande esforço, ela se ergueu na ponta dos pés para espiar através da janela. Avistou apenas um imenso vinhedo, aparentemente vazio. O que ela fazia no meio daquela plantação?

Aos poucos, lembrou-se do acontecimento. O acidente, o pano com clorofórmio... Não podia se iludir. Estava presa. Seqüestrada! Mas por quem? E por quê?

De repente, escutou o som de um carro que se aproximava, levantando uma nuvem de poeira na estreita trilha de terra batida. Esforçando-se para ver alguém, avistou somente um pequeno caminhão, que parou em frente à janela. Com o coração acelerado, Cassandra se encolheu num canto do quarto, apreensiva.

Então a porta se abriu e dois homens e uma mulher, carregando revólveres, entraram sem dizer palavra. Um deles era aquele que recebera o pontapé, e, como que em represália, deu-lhe um violento empurrão, jogando-a de volta à cama.

A moça que os acompanhava jogou no chão um pacote de comida. Em seguida, pôs um jornal nas mãos de Cassandra e tirou uma foto.

O terceiro membro do grupo aparentava vinte e poucos anos e possuía a pele escura típica do Oriente Médio. Talvez fosse árabe. Ele a examinava com curiosidade, e Cassandra, não querendo mostrar-se apavorada, sustentou-lhe o olhar com firmeza, o que o fez desviar a vista, embaraçado.

Depois de quinze minutos, os três saíram sem terem trocado uma só palavra. Cassandra correu para a janela e viu-os partir, ao mesmo tempo em que lia o número da placa do caminhão.

De volta para o meio do quarto, apanhou o saco de papel, que continha um sanduíche e uma lata de soda. Tomou um pouco da bebida, sentando-se na cama para ver o jornal que seus seqüestradores haviam trazido.

A primeira página do diário estampava a notícia do seqüestro, dando detalhes sobre as exigências que o grupo fizera para soltá-la. Cassandra ficou apavorada. O governo italiano não costumava negociar com terroristas e ela sabia que estes não teriam piedade.

Pouco a pouco, porém, uma calma surpreendente invadiu todos os seus membros, numa estranha lassidão. Embora se sentisse impotente para sair daquela situação, restava uma luz no final do túnel: Franco. Ela confiava na coragem e na habilidade de seu marido para tirá-la daquela prisão. Se houvesse um único meio de salvá-la, Franco o descobriria.

Apesar de otimista, Cassandra pensou com tristeza no irmão pequeno. Se ela morresse, o que seria de Sam? Iria morar com tia Emily

Franco caminhava de um lado para o outro da sala, torcendo as mãos e olhando desesperado para o telefone, ansioso para que ele tocasse, pois talvez viesse alguma notícia de Cassandra. Pela primeira vez, desde a infância, sentia-se perto das lágrimas.

Naquele instante, Tadeu entrou no escritório e estendeu-lhe um envelope de papel pardo.

— Isso acaba de chegar.

Franco abriu o envelope com mãos nervosas e retirou de dentro uma foto de Cassandra, sentada numa cama e segurando o jornal do dia. Cerrou os olhos, com um suspiro de alívio. Ela ainda estava viva!

— Pelo jeito, ela não parece machucada, você não acha?

Tadeu debruçou-se sobre a foto e concordou, enquanto seu irmão buscava de todas as maneiras enxergar ali algum detalhe que revelasse o local onde ela estava.

Furioso por não chegar a nenhuma conclusão, esmurrou a mesa com violência.

— Se tocarem num único fio de cabelo de Cassie, matarei um por um desses bandidos, nem que leve a vida inteira para isso.

— Não se desespere, Franco. Algo me diz que ela vai escapar desta. Você está apaixonado de verdade, não?

— Sim, Tadeu, é a primeira vez que me acontece isso. Se ela morrer, não sei o que vai ser de mim...

Nesse momento o telefone tocou e Franco correu para atendê-lo.

— Alô, Franco? Sou eu, Forli. Infelizmente meu pessoal até agora não conseguiu nada. A polícia está agindo? Descobriu alguma pista?

— Nada... — respondeu Franco, com o coração apertado.

Após o telefonema, Tadeu mostrou-se preocupado com o abatimento do irmão e procurou consolá-lo.

— Descanse um pouco, por favor. Você está sem dormir há dois dias.

Franco assentiu com um gesto de cabeça. Realmente, precisava juntar forças para aquela luta sem trégua. Então, estendeu-se no sofá e adormeceu no ato, vendo o rosto de Cassandra com os olhos da emoção.

AO SABOR DOS TEUS CAPRICHOSOnde histórias criam vida. Descubra agora