P.O.V HARRY - PART 1

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Se eu pudesse voar, voltaria para casa até você.

—Harry, descobrimos que é câncer. Eu sinto muito.

O meu mundo desabou.

—Em que estágio?

—Ainda podemos reverter, mas o tratamento vai ser intensivo e muito caro. Você pode se comprometer?

—Eu dou um jeito. Façam o que for preciso, mas salvem ele, doutora.

—Nós faremos o possível.

—Eu posso vê-lo?

—É claro que pode.

Eu vou até o quarto em que Robin está.

Ele está debilitado. Sua aparência cansada adormece, descansa, e tira um tempo do câncer.

—Vamos reverter isso, papa! Eu prometo, eu vou fazer por você 1% do que você fez por mim a vida inteira.

Sinto as lágrimas quentes escorrendo o meu rosto enquanto estou debruçado sobre o seu peito, sentindo-o subir e descer, sentindo seu coração lento.

Ouço a porta abrir atrás de mim, mas isso não é uma força que me move. Eu permaneço quieto.

—Querido... – A voz doce da minha mãe vem de encontro aos meus ouvidos. – Querido!

Eu permaneço em silêncio. As minhas cordas vocais estão tristes demais para que eu possa dizer qualquer coisa.

—Querido, precisamos ser fortes. – Sinto o ar quente sair de sua boca e bater na pele nua do meu pescoço. Seu corpo cobre o meu em um abraço que parece alcançar a minha alma fria. – Ele precisa que sejamos fortes.

Nós nos calamos. A família inteira, exceto Gemma, estão em um quarto da UTI de um hospital. O meu coração acelera, mas não sai uma palavra sequer da minha boca, e todos os meus medos me confrontam. O medo de perder tudo o que eu tenho, o medo de ver tudo isso ir embora e nunca poder fazer nada para mudar isso.

A sensação de ser inútil, a sensação de que nem que eu mova o mundo de lugar, nunca vou poder tirar do tempo, a crueldade que pertence somente a ele.

—Querido, me deixe a sós com ele um pouco? – Sinto suas mãos passarem devagar pelos meus fios longos do meu cabelo.

—Claro, mamãe. – Levanto, e antes que ela possa ver, limpo do meu rosto as lágrimas que derramara.

Anne me encara.

—Ele vai ficar bem. – Seus olhos enchem d'água. – Eu tenho esperança.

Não consigo dizer nada.

Talvez o reflexo faz com que a minha única ação seja abraça-la o mais forte que consigo, e seguro as lágrimas. Mas ela não.

—Agora vai. Preciso de um tempo sozinha com ele.

Faço que sim com a cabeça e saio do quarto, deixando-os.

Na sala de espera, Gemma está devastada. Seus olhos grandes estão pequenos, diminuídos pelas lágrimas.

Somos todos tão fortes, mas até que ponto?

Me sento ao lado dela, sem dizer uma só palavra.

—Lembra da vez em que a gente foi á praia... – Ela respira fundo. – E uma água viva me queimou e fez um buraco enorme na minha pele branca?

—Lembro. Você disse que foi a pior dor que já sentiu.

—Pois é, Harry. Não foi a pior. Eu estava errada. – Ela não me encara em momento algum. Sequer pisca.

Scandal • L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora