Capítulo trinta - Tudo valeu a pena!

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          Bratt está assustador. Nunca vi tanto ódio numa só pessoa. Seus olhos azuis estão queimando de raiva e pelas suas palavras, eu começo a rezar para que ninguém se machuque.
         Eu sei que ele fez muita coisa errada para me separar de Liam, mas o que sinto nesse momento não é ódio. É outra coisa.
          Bratt não está bem. Ele está tremendo e não parece sóbrio. Seu sofrimento é um pouco angustiante. Liam está assustado assim como eu.
           — Bratt, você não está bem! — Liam me protege. — Você está bêbado. Olhe para você!
           — Eu vou acabar com você, Lambert! Eu odeio você! — Ele aponta o canivete para Liam. Eu quero poder fazer alguma coisa, mas não posso. Nem sei se Liam pode.
           — Bratt, por favor, não faça nada. Deixe Liam em paz! — Eu peço.
           Ele olha para mim. — Tem razão. Eu não devo machucar Liam. — Felizmente. — Eu devo machucar você! — Ele olha para mim.
         O quê?
         Tanta raiva! Tanto rancor! Não posso dizer que não entendo, afinal Liam transou com a irmã dele e com a namorada, engravidou elas e uma delas se foi junto com os bebês. O que Liam fez não foi acertado, mas vingança não é a solução.
          Olho para ele todo magoado e em sofrimento tangível. Não imagino o que está sentindo. Só imagino que deve ser horrível.
          — Bratt, pára com isso. Blaire não te fez nada.
       — Você não entende? Quero que você sinta como é perder a pessoa que você ama. Sua namorada! — Ele diz ainda mais irritado.
         Eu fico atrás de Liam, com medo. Me escondo como se Bratt não podesse me ver. Como se o corpo de Liam fosse um escudo protetor.
           — O que aconteceu com Elisa foi um acidente. Eu tentei salvar ela, mas não consegui. — Liam responde.
           — Você engravidou ela e depois a matou! — Ele se aproxima, mas Liam me afasta.
         — Toca num fio de cabelo da Blaire e eu mato você! — Liam diz. Não era a resposta que eu esperava.
          — Uau! Você está mostrando o seu verdadeiro "eu". Você está admitindo que é um assassino. — Bratt ri.
          Liam olha para mim. — Blaire, vá para o quarto. Eu resolvo isso.
           — Não quero que você fique sozinho com ele, Liam. — Eu abraço ele por trás.
           — Blaire! — Ele repreende.
           — Que bela demonstração de amor! Você não merece ser amado desse jeito depois de tudo que fez com Jolene e comigo. — Bratt se aproxima mais.
          Eu apoio a minha cabeça nas costas de Liam e fecho os olhos. Estou com muito medo. Não quero que Bratt machuque Liam. Eu não sei o que vou fazer sem ele.
           — Blaire! — Liam me chama. Ele quer que eu saia, mas eu não quero. Aperto ainda mais o abraço.
         Liam me afasta de todas as maneiras, e eu desisto de lutar. Não quero que Bratt se aproveite disso. Liam me fecha no quarto e tranca a porta. Eu não consigo abri-la. Tento, mas não consigo.
         — LIAAAM! — Eu grito.
           Bratt e Liam estão discutindo, mas não entendo o que estão dizendo. O que será que esta acontecendo?
          Oiço um gemido de dor e um corpo caindo no chão. Meu coração some e eu caio no chão. O que eu ouvi pode significar muita coisa.
         Minhas lágrimas caem e eu apoio a cabeça na porta. Se aconteceu o que estou pensando, então acabou para mim. Eu não sei o que vou fazer.
        A porta é destrancada e eu olho para cima. Me afasto e pego num abajur para bater em Bratt, mas é Liam que entra no quarto.
         Eu deixo o abajur cair e pulo nos braços de Liam. — Eu pensei que ele machucou você. — Olho para todo o seu corpo para ver se não está ferido.
          — Estou bem, mas ele não. — Ele olha para a porta.
          — Como assim? — Limpo as lágrimas. Ele me leva para a sala e eu vejo Bratt no chão.
          Ele está chorando e eu sinto pena dele. É impossível não sentir. Ele está destruído, seus olhos estão sem vida e ele não se move. É triste isso. Percebo que Jolene pense que não vai conseguir se recuperar.
         Às vezes, saber que não podemos ajudar as pessoas é frustrante. Bratt precisa de ajuda, mas não podemos fazer nada.
         — Não olhem para mim! — Ele diz. — Não quero que me olhem com pena!
          — Bratt você precisa de ajuda! — Eu digo sentando ao seu lado.
         — Blaire, cuidado! — Liam toca no meu ombro. — Não fique perto dele.
           — Ele não é uma ameaça, Liam. Ele precisa de ajuda.
          — Pra quê? Nada vai funcionar. Já passou um ano e a dor é a mesma. — Bratt limpa as lágrimas, mas elas continuam caindo pelo seu rosto bonito e triste.
          — Você só vai conseguir ultrapassar se quiser. Levante o rosto e escreva um novo caminho para você. — Digo. — Você tem muita gente a sua volta que pode ajudar nisso.
          Ele olha para mim. — Antes de você dizer essas coisas, se coloca no meu lugar. Você estava com raiva de Jolene só porque ficava o tempo todo perto de Liam. Imagina se ela tivesse namorando com Liam enquanto Liam está com você, Liam a engravidasse e fizesse com que as duas perdessem o bebê. O que faria?
          — Você machucou a gente, mas ninguém quis se vingar de você. — Liam responde. — Entendo que pense que a culpa é minha. É, mas não tenho toda a culpa. Não na morte de Elisa. Ela estava dirigindo, você sabe!
           — Você era meu amigo, Liam! Não tinha que fazer aquilo comigo. Tudo bem, com Jolene não foi tão grave, mas com a minha namorada? E eu passava o tempo todo dizendo que gostava dela na sua frente. Você não tem escrúpulos!
           — Eu me arrependo muito, Bratt. — Liam desvia o olhar.
           Silêncio.
           — Respondendo a sua pergunta, Bratt, eu não sei o que faria. Mas eu sei que não ia querer machucar ninguém só para dar o troco. Por vingança.
          — Você não entende, Blaire! — Ele olha para Liam. — E eu não entendo você. Você tinha muitas garotas e só queria Elisa? Mesmo sabendo que eu gostava dela?
           — Quantas vezes, eu vou pedir desculpas, Bratt? — Liam limpa as lágrimas.
           — No hospital, você achou mesmo que eu ia perdoar você? Eu já estava pronto para me vingar de você.
           — Eu...
           — Não, Liam! — Bratt fala em voz alta. — Você não sente muito. Eu sim. Eu não sou seu amigo. Não vou perdoar o que você fez.
          — Espero que o faça. Eu quero ser seu amigo novamente. — Liam olha para Bratt.
          Ele levanta com dificuldade. — Eu vou embora.
           Vejo ele saindo cabisbaixo, completamente arrasado. É uma pena que esteja nessa situação. Ninguém pode ajudá-lo. É horrível.
            Olho para a porta. Mesmo sendo desprezível, não quero que sofra. Mas talvez seja por isso que ele seja tão desprezível. Por causa do seu tortuoso passado.
          — Ele nunca vai me perdoar! — Liam senta no sofá. Eu faço o mesmo e seguro a sua mão com força.
         — Não fala assim. Claro que algum dia ele vai.
           — Não quero mais falar sobre isso. — Ele diz.
          — Tudo bem. — Digo.
          — Vamos dormir. Amanhã a gente tem aulas. — Ele levanta e me leva no quarto. Eu não sei se devo fazer alguma coisa.
           Eu coloco as mãos no rosto dele. — Ele vai ficar bem. Nós vamos ficar bem.
        — Eu sei, mas sinto culpa. Ele está assim por minha causa. — Ele apoia o rosto no meu ombro.
          — Um dia, isso tudo vai passar. — Eu acaricio o seu cabelo.
          — É melhor a gente ir para a cama, Blaire. Estou cansado. — Ele segura a minha mão e me leva na cama para finalmente dormimos.

Malditamente quebradosOnde histórias criam vida. Descubra agora