Capítulo 1

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Final de tarde, 31 de maio de 2016.

– Hora da morte: Dezesseis e cinquenta e cinco. – Susan caminhou até a banca de prontuários, não havia muito o que a médica pudesse fazer pela pobre mulher morta. O Centro Hospitalar Tríplice-Fronteira estava lotado. Os residentes e internos corriam de um lado para outro, em busca de ajudar a todos. Contudo, fora Susan Brandon que assistiu a paciente vir a óbito. – Alguém avisa ao necrotério, tenho outras vítimas do mesmo acidente para tratar. – Falou para o corpo de enfermagem, enquanto voltava sua atenção para um novo paciente. Porém a sensação em corpo a fez seguir para o banheiro.

Diante do espelho via os cabelos vermelhos como fogo, os olhos azuis celestes, a pele alva ligeiramente rubra, não de vergonha ou qualquer sentimento semelhante. Em seu íntimo a bruxa sentia seu sangue ferver. Em vão tentou se refrescar com a água da torneira, mas ela sabia que aquilo não resolveria, havia alguém de sua família perto, alguém forte o suficiente para deixar até mesmo uma bruxa de quatro séculos incomodada. – Foco, Susan! Você precisa se controlar. – Disse para o reflexo. A ruiva prendeu os cabelos em coque, ajeitou o jaleco, que já estava impecável e seguiu de volta para o pronto socorro.

Logo pode sentir a presença, um jovem com pouco mais de vinte anos, ela conseguia sentir o quão incomodado ele estava, talvez até mais que ela própria. Susan sentia de longe. Um ser tão sobrenatural quanto ela própria. A médica caminhou até o rapaz, ignorando seus instintos, que a essa altura imploravam para se afastar dele. – Posso ajudar? – Talvez polida demais para alguém em sua posição, mas ela o estudava, observando cada reação possível.

Já para Klaus, a sensação era diferente. Não o calor interno que a presença da médica causava, mas tudo o que seus sentidos extra sensoriais diziam. Algo estava errado. Disso ele tinha certeza. – Quem é você? – A pergunta não nutria nenhum tipo de emoção.

– Quem eu sou? – Ela fora pega de surpresa. – Eu sou a Doutora Susan K... – Por pouco não revelou seu nome de solteira, Susan Lowell Kane. Ela sabia que Henry não gostaria que ela negasse seu nome desta forma. – Susan Brandon. – Completou, mas logo em seguida emendou. – Você está se sentindo bem? Precisa de algo?

Os olhos azuis de Klaus continuavam fixos na mulher, havia algo de estranhamente familiar nela. No momento em que ele abriu a boca para responder um dos internos do hospital apareceu diante de Susan.

– Doutora, os exames estão normais, talvez... – A menina mal pode terminar.

– Peça um Raio X de corpo inteiro. Precisamos saber se há algum osso quebrado, depois o encaminhe para o ortopedista. Chame também o Doutor Henry Brandon, ele fará o exame neurológico.

Klaus ergueu uma sobrancelha, estava ali para falar com Henry Brandon e tudo parecia estar caminhando para o que era esperado. – Henry Brandon? Eu preciso falar com ele. – Respondeu a mulher quando já estavam a sós.

– Ele vai entrar em cirurgia agora e isso aqui está uma loucura, mas você pode marcar uma consulta na recepção. – Susan sequer pensou no que estava dizendo, sua voz era monótona e a resposta automática.

O rapaz suspirou fundo, captando a desculpa da mulher que nem sequer havia percebido o que havia falado. Klaus sabia que ela tinha algum parentesco com aquele com quem precisava falar. Mais uma vez os olhos se encontraram.

Para Susan era impreterível descobrir quem era aquele misterioso jovem, a conexão visual estabelecida tinha apenas um propósito: entrar na mente dele, descobrir o máximo possível e conseguir decidir o que fazer. Porém, mais uma vez o inesperado aconteceu. Susan escutou apenas o silêncio. A mente do outro era bloqueada e aquilo a irritou, em todos os seus séculos de vida, poucos haviam conseguido bloquear suas investidas mentais.

Ermickville - A Fúria da Besta [Livro 1 - COMPLETO] (EFCW)Onde histórias criam vida. Descubra agora