20:45pm sábado 28/01
Entrei no hospital desesperada e assustada.
- Eu vim ver Leandra Gomes!
Falei na recepção, a mulher começou a digitar no computador, olhei em volta impaciente e a vi.
- Kate?!
- Oi Julia, veio ver a Léa?
- Sim, como ela está?
- Em cirurgia. Estão extraindo a bala.
A menina tinha olhos fundos e avermelhados. Estava incomodada comigo ali, isso era óbvio.
- Cadê minha filha?
Escutei uma voz grave dizer.
- Oi Tio Raul, está em cirurgia faz uma hora. Eles estão parando o sangramento e retirando a bala.
- Como isso aconteceu meu Deus??
Ele passava as mãos pelos cabelos desesperado. Os olhos lacrimejando. Kate não conseguiu mais segurar, colocou a mão na boca e começou a chorar, soluçando inconsolável. Vi Laís aparecer com dois cafés nas mãos, entregou um a Kate e a abraçou de lado, cumprimentou a mim e ao pai de Léa. Me sentei em um dos bancos, amarrei meus cabelos, e suspirei cansada.
Observei a todos se movendo, indo de um lugar para o outro. Tomando um café atrás do outro, esperando notícias.
Enfim um homem de cabelos grisalhos apareceu, ainda de roupas leves azuis, do procedimento cirugico.
- Eu só vim avisar que foi tudo bem. A bala foi retirada, mas alguns estilhaços não puferam ser retirados pelo risco de uma nova hemorragia. Ela vai precisar de uma transfusão de sangue.
- Transfusão?O pai perguntou alarmado.
- Sim, com tantas amigas tenho certeza que alguém vai servir. Quem ai é O negativo?
Eu esperei observando a todos, estava aliviada dela estar se recuperando. Todos se entreolharam esperando alguém dizer que tinha o tipo certo. Mas ninguém se pronunciou.
- Ninguém?
O doutor perguntou. O pai o interrompeu.
- Não tem como ela receber doaçao do hospital?
- Esse tipo sanguíneo é raro. Está em falta.
- Eu posso doar.
Falei me colocando de pé. Todos me olharam em silêncio, por fim eu acompanhei o médico e fui doar o sangue.
- Você pode ir no quarto dela se quiser. Vocês são amigas?
- Namoradas.
- Ah...
O doutor me levou, eu a vi. Pálida deitada, com o corativo aparecendo no decote da blusa.
Fiquei a observando por um momento, antes dela me olhar nos olhos e sorrir. Sem dizer nada eu fiquei ali segurando sua mão, então ela pegou no sono novamente. Ouvi passos e vozes alteradas no corredor do lado de fora, sai pra ver o que era.
- Você está louca mulher? A filha é minha! E ela vem comigo.
- Raul! Você não pode levar minha filha!
- Não só posso, como vou. Ela toma um tiro e você só chega agora?
- Eu vim o mais rapido possivel!
Os pais da Léa discutiam, eu fiquei parada, estática. Ele queria a levar pra longe.
- Assim que ela receber alta eu a levo daqui.
- Raul!
Ele saiu dali pisando firme. A mulher procurou consolo nos braços do novo namorado com cara de lenhador psicopata.
Voltei para o quarto.
- O que houve Julia?
Ouvi a voz fraca dela perguntar. Me sentei na beira de sua cama e afastei os cabelos do seu lindo rosto.
- Seus pais estão brigando... Acho que é pra ver com quem você vai morar.
- Ah...
Ela ficou silenciosa. Isso preocupou, então perguntei;
- Você quer ir embora?
- Seria bom ficar longe dessa confusão por um tempo.
- Mas e eu?
- Nem tudo se trata só de você Julia.
- Eu sei... Eu quero o seu bem mas... Preferia que ficasse perto de mim.
Ela fez uma cara estranha. Eu a observei com atenção. O que aquilo significava?
- Quer ficar longe de mim também?
- Julia. Eu amo você. Mas... Nosso relacionamento começou errado demais. Não acha que precisamos de um tempo pra pensar nas coisas?
- Não. Não acho Léa.
Falei me levantando indignada. Ela suspirou e tentou se sentar.
- Deita, não faça esforço!
Pedi, ela se deitou cansada. Colocou a mão no rosto, e falou;
- Julia eu vou avisar meu pai que quero ir com ele. Chama ele pra mim.
Engoli em seco. Senti meu corpo gelar, ela ainda estava com a mão no rosto, eu não via seus olhos. Sua voz estava sobria e séria, ela não estava brincando e nem emocionada. Estava decidida.
Engoli minhas palavras não ditas e sai dali sem nem me dar ao trabalho de fechar a porta.
Passei por todos eles feito um furacão, não chamei ninguém. Entrei em meu carro e com ódio eu soquei várias vezes o volante.
Eu sabia que havia errado muito com ela.
Mas minha raiva não diminuia por causa disso, acelerei até o limite, ultrapassei todos os sinais vermelhos que vi pelo caminho. Mal via a estrada a minha frente devido as lágrimas embaçando minha visão. E com isso eu simplesmente acelerei ainda mais. Eu queria morrer, eu queria sumir.
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Até O Fim
Teen FictionMe trouxe aqui só pra depois fugir de mim? - Eu não estou fugindo! - Você está correndo de mim Leandra! Isso na minha terra se chama fugir. - Eu não... Tentei argumentar, mas parei de andar e a olhei. Estavamos a uns bons metros de distância. - Eu...