31- Queria sumir

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20:45pm  sábado 28/01

Entrei no hospital desesperada e assustada.

- Eu vim ver Leandra Gomes!

Falei na recepção, a mulher começou a digitar no computador, olhei em volta impaciente e a vi.

- Kate?!

- Oi Julia, veio ver a Léa?

- Sim, como ela está?

- Em cirurgia. Estão extraindo a bala.

A menina tinha olhos fundos e avermelhados. Estava incomodada comigo ali, isso era óbvio.

- Cadê minha filha?

Escutei uma voz grave dizer.

- Oi Tio Raul, está em cirurgia faz uma hora. Eles estão parando o sangramento e retirando a bala.

- Como isso aconteceu meu Deus??

Ele passava as mãos pelos cabelos desesperado. Os olhos lacrimejando. Kate não conseguiu mais segurar, colocou a mão na boca e começou a chorar, soluçando inconsolável. Vi Laís aparecer com dois cafés nas mãos, entregou um a Kate e a abraçou de lado, cumprimentou a mim e ao pai de Léa. Me sentei em um dos bancos, amarrei meus cabelos, e suspirei cansada.

Observei a todos se movendo, indo de um lugar para o outro. Tomando um café atrás do outro, esperando notícias.

Enfim um homem de cabelos grisalhos apareceu, ainda de roupas leves azuis, do procedimento cirugico.

- Eu só vim avisar que foi tudo bem. A bala foi retirada, mas alguns estilhaços não puferam ser retirados pelo risco de uma nova hemorragia. Ela vai precisar de uma transfusão de sangue.
- Transfusão?

O pai perguntou alarmado.

- Sim, com tantas amigas tenho certeza que alguém vai servir. Quem ai é O negativo?

Eu esperei observando a todos, estava aliviada dela estar se recuperando. Todos se entreolharam esperando alguém dizer que tinha o tipo certo. Mas ninguém se pronunciou.

- Ninguém?

O doutor perguntou. O pai o interrompeu.

- Não tem como ela receber doaçao do hospital?

- Esse tipo sanguíneo é raro. Está em falta.

- Eu posso doar.

Falei me colocando de pé. Todos me olharam em silêncio, por fim eu acompanhei o médico e fui doar o sangue.

- Você pode ir no quarto dela se quiser. Vocês são amigas?

- Namoradas.

- Ah...

O doutor me levou, eu a vi. Pálida deitada, com o corativo aparecendo no decote da blusa.

Fiquei a observando por um momento, antes dela me olhar nos olhos e sorrir. Sem dizer nada eu fiquei ali segurando sua mão, então ela pegou no sono novamente. Ouvi passos e vozes alteradas no corredor do lado de fora, sai pra ver o que era.

- Você está louca mulher? A filha é minha! E ela vem comigo.

- Raul! Você não pode levar minha filha!

- Não só posso, como vou. Ela toma um tiro e você só chega agora?

- Eu vim o mais rapido possivel!

Os pais da Léa discutiam, eu fiquei parada, estática. Ele queria a levar pra longe.

- Assim que ela receber alta eu a levo daqui.

- Raul!

Ele saiu dali pisando firme. A mulher procurou consolo nos braços do novo namorado com cara de lenhador psicopata.

Voltei para o quarto.

- O que houve Julia?

Ouvi a voz fraca dela perguntar. Me sentei na beira de sua cama e afastei os cabelos do seu lindo rosto.

- Seus pais estão brigando... Acho que é pra ver com quem você vai morar.

- Ah...

Ela ficou silenciosa. Isso preocupou, então perguntei;

- Você quer ir embora?

- Seria bom ficar longe dessa confusão por um tempo.

- Mas e eu?

- Nem tudo se trata só de você Julia.

- Eu sei... Eu quero o seu bem mas... Preferia que ficasse perto de mim.

Ela fez uma cara estranha. Eu a observei com atenção. O que aquilo significava?

- Quer ficar longe de mim também?

- Julia. Eu amo você. Mas... Nosso relacionamento começou errado demais. Não acha que precisamos de um tempo pra pensar nas coisas?

- Não. Não acho Léa.

Falei me levantando indignada. Ela suspirou e tentou se sentar.

- Deita, não faça esforço!

Pedi, ela se deitou cansada. Colocou a mão no rosto, e falou;

- Julia eu vou avisar meu pai que quero ir com ele. Chama ele pra mim.

Engoli em seco. Senti meu corpo gelar, ela ainda estava com a mão no rosto, eu não via seus olhos. Sua voz estava sobria e séria, ela não estava brincando e nem emocionada. Estava decidida.

Engoli minhas palavras não ditas e sai dali sem nem me dar ao trabalho de fechar a porta.

Passei por todos eles feito um furacão, não chamei ninguém. Entrei em meu carro e com ódio eu soquei várias vezes o volante.

Eu sabia que havia errado muito com ela.

Mas minha raiva não diminuia por causa disso, acelerei até o limite, ultrapassei todos os sinais vermelhos que vi pelo caminho. Mal via a estrada a minha frente devido as lágrimas embaçando minha visão. E com isso eu simplesmente acelerei ainda mais. Eu queria morrer, eu queria sumir.

Até O FimOnde histórias criam vida. Descubra agora