44- Caminho livre

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Nossos caminhos se separaram, se embolaram, se esbarraram e depois voltamos ao mesmo ponto; o ponto em que sentimos que nos conhecemos mais do que nosso tempo juntas  permitiria, o momento exato em que eu olho no castanho  dos seus olhos, o momento em que ela olha no fundo  dos meus olhos, e eu vejo o brilho ali. Eu vejo o brilho que somente a biologia explica; ela vê o que deseja, o que gosta, talvez até algo que ame. Quando os olhos brilham, a pupila dilata, as sobrancelhas ficam levemente levantadas, a boca suprime um sorriso doce. Os cabelos dela estavam em um coque apertado, uma regata branca que exibia seu top azul escuro por baixo, sua pele estava  levemente bronzeada. Enquanto eu olhava seus mínimos detalhes, percebi seus lábios perfeitos se moverem. O som baixo e sério de sua voz me atingiu, como se eu estivesse surda e só agora a pudesse  ouvir, além de ver.

- Entendeu o que eu disse? Eu  falei rápido demais?

- O que?

- Porra Danielle, assim fica difícil.

- Eu entendi! Juro.

- Não jure em vão, isso me irrita.

- Você é toda irritadinha Léa, isso não me surpreenderia muito.

Lembrei da primeira vez que a vi, numa briga de time, e depois disso a vi inúmeras vezes mais... Namoramos escondido, descobri as coisas que ela fazia escondido, além de mim. Vi o mundo dela desabar quando fotos íntimas vazaram. Vi seu pior. E vi seu melhor.

- Até que eu tenho andado bem calma.

Ela falou sorrindo abertamente dessa vez.

- Eu não duvido. Seu pai te pôs em rédeas curtas foi?

- Na verdade até que não...

Disse mergulhando uma batata no molho ketchup.

- ... até me deixou vir até aqui te ver.

- Não seria ver tua mãe?

Ela mordeu a batata, e fez que não com o queixo.

- Claro que não. Vim ver minhas amigas, e você.

- "minhas amigas e você" isso me enquadra em qual quesito? Pensei que fossemos amigas.

- Nunca poderemos ser isso. Não de verdade.

- Não?

- Nop!

- Porque não? Posso saber?

- Só porque você me ama. E quer me comer.

Me engasguei com meu milk shake enquanto ela segurava o riso.

- Eu não!

- Não quer?

Ela zombou, eu resolvi sair desse assunto que mais parecia um campo minado.

- E as suas amigas, aceitaram bem a sua mudança? E sua treinadora?

- Ex!

- Ex o que? Ex professora? Ex treinadora? Ex amante? Ela deveria estar presa sabe?!

Mordi a língua tentando conter a enxurrada de besteiras que estava prestes a dizer. Ela me olhou se sentindo ofendida, pude perceber por sua boca em linha reta, ia colocar uma batata frita na boca mas parou no meio do ato e a recolocou na bandeja.

- Isso não é da sua conta!

- Esquece o que eu disse. Não vamos brigar.

- Você fala demais nela sabia? As vezes acho que você está afim dela, ou com inveja! Eu não sei... Mas não importa o quanto eu demonstre que é com você que quero ficar, você sempre volta no mesmo assunto!

Até O FimOnde histórias criam vida. Descubra agora