37- Patéticamente patético

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Entrei no meu carro e dirigi pela cidade sem rumo, quando fiquei sem gasolina o larguei em qualquer lugar e voltei pra casa andando.
Em algum lugar entre minha casa e a estrada onde deixei meu carro, alguém me ofereceu carona. Entrei no carro, uma idosa com rosto afável. Me fez perguntas que respondi mecanicamente. Eu estava fora de mim, e não do jeito possesso de raiva e ódio. Estava fora de mim do jeito mais insoso possível. Como se minha alma houvesse sido apagada.

Entrei em casa, joguei as chaves no chão e me sentei nas escadas. Meu rádio tocava uma música antiga, registrei a letra imediatamente.

Here without you, baby
But you're still on my lonely mind
I think about you, baby
And I dream about you all the time
I'm here without you, baby
But you're still with me in my dreams
And tonight, it's only you and me

- Muito propricio, obrigado baú da mix.

Reclamei, e era mesmo o horário dessa programação na radio mix.

Querer ficar sozinha é uma coisa, se sentir sozinha e abandonada era outra. Eu olhava a casa, lembrava dela andando por aquele espaço. As vezes de toalha, as vezes de roupa de dormir. Ou até com uma das minhas blusas. Seu sorriso fácil, sua voz me chamando. Noelia apareceu e me olhou preocupada.

- Júlia? Meu anjo o que aconteceu? Está toda suja!

- Tire o dia de folga Nonô.

Pedi já me despindo, e subindo as escadas rumo ao meu banheiro.

- Mas menina. Você precisa de cuidados, isso é sangue??

Olhei para baixo e vi que meus sapatos deixavam pegadas vermelhas.

- Não sei.

E eu não sabia mesmo. Entrei em meu quarto deixando a porta aberta, quando tirei os sapatos, cacos de vidro caíram. Meu pé sangrava, mas eu não sentia dor.

Tentei lembrar o que havia acontecido, mas tudo era um borrão. Lembro de um estalo, uma batida.

"Bati meu carro?"

Sacudi a cabeça tentando desanuvia-la. Noelia entrou no banheiro sem me esperar reclamar, entrei na banheira. Ela a ligou, e me ajudou a tomar banho. Fez um curativo em meu pé. Logo depois fui dormir.

Quando acordei já era noite novamente. Eu estava esgotada e nem me lembrava do motivo de estar assim...

"- Você quer ir embora?

- Seria bom ficar longe dessa confusão por um tempo.

- Mas e eu?

- Nem tudo se trata só de você Julia.

- Eu sei... Eu quero o seu bem mas... Preferia que ficasse perto de mim.

Ela fez uma cara estranha. Eu a observei com atenção. O que aquilo significava?

- Quer ficar longe de mim também?

- Julia. Eu amo você. Mas... Nosso relacionamento começou errado demais. Não acha que precisamos de um tempo pra pensar nas coisas?

- Não. Não acho Léa.

Falei me levantando indignada. Ela suspirou e tentou se sentar.

- Deita, não faça esforço!

Pedi, ela se deitou cansada. Colocou a mão no rosto, e falou;

- Julia eu vou avisar meu pai que quero ir com ele. Chama ele pra mim.

Engoli em seco. Senti meu corpo gelar, ela ainda estava com a mão no rosto, eu não via seus olhos. Sua voz estava sobria e séria, ela não estava brincando e nem emocionada. Estava decidida.

Engoli minhas palavras não ditas e sai dali sem nem me dar ao trabalho de fechar a porta.

Passei por todos eles feito um furacão, não chamei ninguém. Entrei em meu carro e com ódio eu soquei várias vezes o volante.

Eu sabia que havia errado muito com ela.

Mas minha raiva não diminuia por causa disso, acelerei até o limite, ultrapassei todos os sinais vermelhos que vi pelo caminho. Mal via a estrada a minha frente devido as lágrimas"

A lembrança veio rápida feito uma enchurrada. Imediatamente peguei meu celular e tentei ligar para ela, não me atendeu. Joguei o celular na parede e ele se quebrou por inteiro.

- Merda!

Xinguei, senti lágrimas quentes inundarem meus olhos.

- Eu te odeio Leandra! ODEIO!

Gritei. E sem ter mais controle das minhas ações, fiz o que nunca havia feito na vida; quebrei tudo que encontrei pela frente. Principalmente as coisas que me lembravam dela.

- Porque? Porque me dizer que ia se casar comigo?! Pra que?! Só pra me destruir!

Joguei um jarro na tv e vi faíscas saírem dela com curto circuíto.

- Nunca me amou! Fui só um objeto na sua mão! Pirralha estúpida... Estúpida!

Joguei as cadeiras longe. O som dos vidros quebrando era ensurdecedor. Mas eu não ligava mais. Algum vidro cortou meu rosto. Também não me importei.

Quando a sala estava destruida. Fui até meu mini bar e peguei uma garrafa de uísque.

Não me servi de uma dose, me sentei ali na escada e bebi direto do gargalo.

- Fui tão burra...

Chorei limpando as lágrimas, e bebendo. E olhando a sala destruida... E bebendo mais. Olhei o teto tentando me acalmar, e bebi mais alguns goles. Comecei a ficar com a visão turva.

Já haviam me dito que aquilo não havia sido amor. E sim uma obsessão. Talvez fosse... Talvez fosse.

Lembrei de todos os nossos primeiros momentos, ela queria. Claro que queria. Mas era mais um desejo físico do que emocional.

Não havia sentimentos...

E doía em mim admitir isso. Portanto talvez pra mim houvesse sim, sentimentos. Mas não da parte dela. Ah não... Dela nunca. Ela ainda amava a Dani esse tempo todo.

- Eu sou um lixo!

Virei a garrafa mais um pouco, mas a olhei e vi que estava vazia.

- Patético! Eu sou PATÉTICA!

Ela queria distância de mim. Queria fugir. Eu fazia mal a ela.

- Mas então pra que fingir que se importava? Pra que mentir sentimentos!? Porra!

Joguei a garrafa longe e ela se estilhaçou no chão. Passei pelo meio da sala e saí pela porta de vidro. Entrei na piscina de roupa e tudo.

Parecia exagero mas eu queria morrer. Nada estava fazendo sentido.

Ela ainda amava a outra. Ela estava me deixando. E eu não podia fazer nada sobre isso... Patéticamente patético

Até O FimOnde histórias criam vida. Descubra agora