"Eu ainda estou me perguntando o que caralhos estou fazendo da minha vida! Dani, Júlia, minhas amigas cada uma seguindo seu rumo. Meus pais, meu padrasto, a escola, a faculdade. Parece tudo um turbilhão como se eu fosse ser engolida. Parece que foi ontem mas tudo começou meses atrás, quando eu resolvi terminar tudo. Quando percebi que o jeito que estava não poderia continuar. Eu acho que me tornei uma pessoa melhor. E talvez, só talvez tenha ajudado outras pessoas a serem melhores. Não sei. Só sei que ando confusa"
- Está bem instalada?
- Estou papai. Obrigada.
Ele assentiu e saiu do quarto. Em dois dias eu iria começar na nova escola. Estava em pânico e com saudade das minhas amigas. Abri o Skype no chat em vídeo em grupo. Cada uma foi atendendo.
- Olá!
- Oi gente, como estamos?
Estávamos todas de uniforme. Kate, Nanda, Laís, Paola, e eu em vídeo. A única de uniforme diferente era eu, que usava uma blusa branca com o logotipo do colégio particular em que iria frequentar.
- Todas nós vamos estudar na parte da manhã?
Laís perguntou.
- Parece que sim, estou ansiosa pra ver a barriguinha da Kate! Deve estar linda!
Disse Paola. Kate ficou vermelha de vergonha e se aproximou da câmera.
- Eu estou ENORME de tão gorda e a primeira que me chamar de baleia ganha um olho roxo! Estou dizendo!
- Calma fofinha, logo logo o baby sai.
- Do que me chamou, Leandra?
- Nada! Nada!
E todas começamos a rir. Nanda era a única que assistia tudo sem falar nada, por um momento pareceu que iria dizer algo, mas ajeitou o cabelo ruivo e continuou ouvindo nossas brincadeiras. Não me contive e perguntei;
- E você Nanda, não diz nada?
- Hã? Eu?
-É a única Nanda do grupo. Então sim, você.
- Ah...
Ficou mais vermelha que seus cabelos cor de fogo. Pigarreou e disse baixinho.
- Vou sentir saudades suas. Só isso.
- Ah... Isso que dá chamar ex em chamada de vídeo.
Disse Kate e todas gargalharam menos eu e Fernanda.
- Também vou sentir sua falta Nanda, sentirei de todas vocês.
A chamada terminou e eu fui buscar minha mochila para ir a escola. Não reconheci coisa alguma naquele lugar. Me sentei escondida de todos tentando passar despercebida. Mas vi alguns olhares curiosos dos meninos, um olhar ou outro hostil das meninas mais bonitas da sala. Mal sabiam elas que eu não era ameaça pra elas em relação aos meninos.
-Oi
-OiRespondi e levantei os olhos que estavam pregados em meu caderno. Olhos azuis muito claros me encaravam.
- Tudo bem?
- Tudo.Eu usava um moletom preto por cima do uniforme. Pensava seriamente em usar ele o resto do ensino médio, pra ver se ignoravam meu corpo que muitos julgavam atraente e me deixavam em paz.
- Qual seu nome?
- Léa. E o Seu?
- Taylor.
Eu estava distraída olhando a sala mas ao ouvir o nome, prestei mais atenção em quem falava. O rosto era fino e bonito, um cabelo preto na altura do queixo, o uniforme era folgado me impedindo de notar se havia o elevado dos seios, eu não conseguia perceber se era uma menina ou um garoto. De qualquer jeito Taylor tinha uma beleza invejável. Minutos de aula se passaram, tentei ficar atenta somente a aula, e não aos cochichos ao meu respeito.
- Vamos pro intervalo Léa... Vem comigo.
-Okay.
Segurou minha mão e eu acabei deixando, era uma pele macia. Saímos pelos corredores do colégio, na fila para o refeitório Taylor me olhou e com um meio sorriso tirou o capuz da minha cabeça, deu um leve suspiro ao olhar meu rosto, fiquei nervosa e muito vermelha. Taylor também ficou sem graça, e saiu na frente entrando no refeitório.
"Eu já deveria estar acostumada a isso quando vêem meu rosto"
Vários garotos falavam gracinha enquanto eu caminhava rapidamente. Quando vi que o lugar onde Taylor havia ido era enorme e barulhento, coloquei meu capuz novamente para evitar ser notada.
- Senta aqui.
Escutei sua voz dizer, eu peguei meu almoço e me sentei.
- Você é de onde? tem namorado? Eu aposto que tem... Tá gostando daqui?
Ela finalmente deu uma pausa para comer, mas ainda esperava minhas respostas.
- Não.
Ela ficou com a colher na boca esperando, eu dei de ombros não querendo falar da minha vida. Ela revirou os olhos e continuou comendo.
- Ei! Eu não te conheço de algum lugar?
Um garoto enorme disse colocando a mão pesada em meu ombro.
- É! Eu já te vi em algum lugar também.
Todos eles riam e apontavam pra mim. Eu já imaginava o motivo da piada. Comecei a sentir vertigem, parecia que o refeitório estava rodando. Precisei sair correndo dali.
Quando finalmente cheguei ao banheiro lavei o rosto várias vezes, senti uma mão em meu ombro, uma mão leve e suave. O primeiro pensamento totalmente primitivo me trouxe um nome que me deu frio na barriga; Júlia.
Mas não havia nada lógico nesse pensamento. Ela havia ficado para trás assim como minhas amigas, eu não tinha mais ninguém ali. Olhei para o lado com medo, era somente uma professora aleatória.
- Está tudo bem?
- Sim. Estou.
E eu tentei ficar, passei despercebida o quanto pude naquele novo ambiente. Não contei a ninguém que era lésbica. E ninguém pareceu adivinhar também.
Os meses de passaram e minhas amigas pareciam cada vez mais ocupadas até mesmo para me mandar mensagem, eu não as culpava. Todo mundo tinha uma vida. Menos eu. Amizades de colégio realmente não são para durar... Mas eu queria que fossem.
...
- Tem certeza filha?
- Tenho pai. Não quero nada disso. Só quero meu diploma.Eu estava finalmente me formando no ensino médio. Estava afogada em trabalhos, mas todo mundo sabia que eu já estava aprovada. Só não sabia o que fazer após tudo aquilo. Eu estava a um ano no piloto automático.
- Filha... E a faculdade? você não fala mais na faculdade de educação física, e eu acho que seria perfeito para você.
- Pai, eu não... Não quero mais isso eu não acho... Enfim; nem tenho jogado mais entende? Não tem razão.
Eu estava me sabotando. Quem havia me dito lá atrás que seria bom essa faculdade havia sido ela. E Dani havia me ligado a quase duas semanas me perguntando como andava os preparativos da formatura. Eu disse que teria que viajar, ela disse que entendia mas não pareceu entender.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Até O Fim
Genç KurguMe trouxe aqui só pra depois fugir de mim? - Eu não estou fugindo! - Você está correndo de mim Leandra! Isso na minha terra se chama fugir. - Eu não... Tentei argumentar, mas parei de andar e a olhei. Estavamos a uns bons metros de distância. - Eu...