49- Nunca aconteceu

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- Que?

- Que??

Brincou me imitando. Saiu andando e descendo as escadas até abrir a porta da cozinha, eu fui logo atrás querendo entender aquela história. Mas o cheiro e o lugar familiar me trouxe uma enxurrada de lembranças tão forte que senti uma dor aguda no coração.

- Eu disse o que eu disse. Não quis dizer nada, eu disse e ponto.

- Meu Deus você se esforça pra não fazer sentido algum Júlia!

- É meu charme.

Disse piscando, seus cílios loiros enormes fizeram sua piscadela ser extremamente envolvente e sexy. E mais uma vez senti um arrepio, afastei qualquer lembrança sexual e tentei produzir frases inteiras.

- Seu charme uma ova. Você deveria ter me levado pra casa da minha melhor amiga, e agora estou aqui. Porque Júlia?

- Porque eu queria me trocar e agora quero um sorvete.

Disse se fazendo de inocente. Mas o "porque Júlia?" Era obviamente muito mais profundo. E ela sabia disso.

- Não faz isso comigo de novo.

- Oque eu estou fazendo?

- Está... Meu Deus eu não vou entrar nessa novamente com você Júlia! Eu vou embora.

- Mas Léa?! Volta aqui!!

Eu saí a passos rápidos e ela só me alcançou na garagem, abri a porta de seu carro e puxei minha mala lá de dentro.

- Não quer me levar? Ótimo. Vou a pé! Andar nunca matou ninguém!

Sai arrastando a mala pesada e ela que ainda estava com uma taça de sorvete na mão falou toda engraçadinha;

- Conheço alguns motanhistas que discordam dessa afirmação. Deixa. Eu te levo.

- Não. Fica longe!

Tentei me fazer de difícil. Mas a mala estava realmente pesada. Julia com uma só mão a pegou de mim, colocou na mala do carro e fechou o porta malas.

- Vamos?

Perguntou passando a língua nos lábios. Estavam rosados devido ao sorvete, desejei tão ardentemente beijar aquela boca que me assustei. Não era seguro entrar no carro dela. Fiquei parada no meio do caminho indecisa, ela entrou no carro, deu a ré e do banco do motorista abriu a porta do carona pra mim. Aquela imagem me fez voltar ao dia em que foi me buscar no meio de uma chuva torrencial. Isso amoleceu meu coração e eu entrei no carro.

- Fica tranquila, não vou te agarrar.

- Isso sim seria novidade.

Respondi com acidez. Ela freou o carro, e me olhou.

- O que?

- Precisamos conversar, você sabe disso, não sabe?

Engoli em seco, ela está séria, e isso sim era novidade.

- Sobre o que?

- Sobre tudo que nunca conversamos antes. Por tudo em pratos limpos.

- Júlia, está tudo mais do que conversado. Não há mais o que dizer.

Isso era uma baita mentira minha.

- Está mentindo. Vejo no seu olhar, você tem perguntas a fazer e mágoa de coisas do passado. Eu entendo. E quero resolver isso tudo.

Eu não queria, eu não podia, eu absolutamente não deveria em hipótese alguma cair nesse Papinho. Mas cai. Vou fazer oque? Cai mesmo.

- Então tá bom. Vamos conversar. O que você quer dizer?

Até O FimOnde histórias criam vida. Descubra agora