Quarta 15/02
- Filha! O que faz aqui? Como está?
- Estou linda como sempre mãe, cadê meu pai?
-Saiu.
-Ótimo!
Falei colocando minha bolsa na mesa de centro, e me sentando no sofá
- Quer falar com ele? Está voltando pra casa?
A esperança nos olhos dela era patética. Suspirei e bati no acento do sofá ao meu lado. Sinal para ela se sentar, se vestia impecável como sempre, os olhos na mesma cor dos meus tinham um breve brilho, coisa que eu via somente quando ela estava realmente muito feliz.
- Detesto tirar suas esperanças mãe. Mas não voltarei para casa nunca sou adulta e tenho minha vida agora. E tenho outra coisa para contar.
- O que?
Ela já estava levemente entristecida
Mas se agarrava na esperança da minha notícia ser boa, remexia as mãos nervosamente. E eu me perguntava quando ela deixou de ser um ser humano e se tornou somente a esposa do meu pai."obrigado universo por eu ser lésbica"
- Enfim, eu estou indo embora. Mas embora de vez. Vou sair do país.
- Por quanto tempo Júlia?
- Sem data. Talvez nunca volte.
- O que??
- Volto só pra te ver mãe. Ou você vai até lá me ver.
- Mas... Pra onde você vai filha! Meu deus! Teu pai precisa tirar essa ideia absurda da cabeça!
- Mamãe! Não é uma "idéia absurda". É a minha vida. E o rumo que eu quero dar para ela.
- Júlia você não sabe se virar!
- Pra isso meu dinheirinho vai servir direitinho mamãe. Vou em meu quarto buscar algumas coisas.
- Onde você vai Júlia?
Ouvi a voz estrondosa do meu pai ressoar. Engoli em seco, desde o dia em que admiti ser lésbica a voz dele me dava calafrios. Na verdade antes também não me causava boas coisas.
- Não é da sua conta.
- É da minha conta, você está debaixo do meu teto!
- Não por muito tempo!
Respondi e subi as escadas correndo, assim que abri a porta já comecei a pegar uma mala enorme no closet, a abri e comecei a jogada as poucas coisas que tinham ainda ali.
- Garota você não vai a lugar nenhum! Está indo atrás de alguma vagabunda? Aberração! Você fica!! E vai se casar com um homem!
- Eu tenho nojo de homens! Me deixe em paz!
- Eu vou te concertar nem que seja na porrada!
- PAI!!!
Gritei antes de levar o primeiro tapa.
- Falar nunca adiantou! Você não vai envergonhar a família! E nem destruir minha empresa!!!
- Com quem eu durmo tem a ver com a sua empresa porque??? Você está LOUCO!
- Garota, largue essa mala agora!
Eu me desvencilhei dele e fechei a mala. Fotos minha com meus antigos colegas de faculdade, com minha mãe e com a Léa estavam dentro dela, entre outras coisas como roupas que ainda estavam ali.
- Largue isso!
Ele puxou minha mão, eu a puxei tabem e ouvi um estalo, a dor foi lancinante, mamãe entrou correndo ao escutar meu grito, com a outra mão eu peguei a enorme mala. E desci as escadas chorando de dor.
- Júlia! Volte aqui! Seguranças! Seguranças segurem ela, agora!
Os mesmos homens que antes já haviam me seguido a mando dele, surgiram na sala, viram meu estado, mas todos os cinco que apareceram ficaram parados sem saber o que fazer.
- Segurem- na!
Eu chorava muito, larguei a mala e segurei meu punho, sentia ele inchar e latejar dolorosamente.
- O que!?
- Isso é uma ordem.
- Desculpe senhor, mas somos seguranças e não capatazes. A moça pode ir se quiser.
Disse William, o chefe dos seguranças. Ele tinha uns poucos anos a mais do que eu. E pela fala dele, eu pude ver alívio nos olhos dos outros seguranças, eles ficaram angustiados com as ordens do meu pai.
- Posso dar uma olhada?
O rapaz pediu. Papai subiu as escadas correndo. Resmungando algo sobre ter que resolver tudo sozinho. Dei meu pulso a William e ele associou ao ver o inchaço.
- Posso te levar a um hospital?
- Por favor, eu vou junto.
Minha mãe pediu, eu nem a olhei e nem respondi sua solicitação. Quem se omite, na verdade conscente. Ela não o impedir de me machucar, física e verbalmente é basicamente o mesmo que concordar. Entrei no carro de passeio da minha família com William dirigindo e minha mala no porta malas.
- Obrigada.
- De nada senhorita.
- Meu nome é Júlia.
- Eu sei.
Ele riu, seus cabelos eram cortados curtos e ele tinha um sorriso facil. Apesar de sempre se mantém sério, eu me lembrava de trocar poucas palavras com ele enquanto estava tomando banho de piscina. Eu sempre oferecia algum suco para ele beber. Só aceitou uma vez. Uma coca cola.
Assim que entramos no hospital, vi que meu seguro saúde ainda cobria tudo. Fizeram exames, dois ossos quebrados. Um comprimido pra dor e gesso depois, William me levou para o aeroporto.
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Até O Fim
Teen FictionMe trouxe aqui só pra depois fugir de mim? - Eu não estou fugindo! - Você está correndo de mim Leandra! Isso na minha terra se chama fugir. - Eu não... Tentei argumentar, mas parei de andar e a olhei. Estavamos a uns bons metros de distância. - Eu...