40- Deixe livre

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Domingo 12/02/2017. 16:19pm

- Já parou pra pensar que você deveria sentar com as duas e conversar?

- Dan e Julia... No mesmo local? Quer a terceira guerra mundial?

- Amiga você está confusa.

- Não estou. Já me decidi; Vou embora pra bem longe, onde ex-namorada nenhuma me encontre.

- E isso vai resolver?

- Tem que resolver!

- Você ama as duas.

- Não!

- Acha que não, mas ama. Julia foi seu primeiro amor. E Dani a primeira namoradinha. É de se esperar que não esqueça a treinadora tão fácil. E que ainda tenha saudades da Danielle.

- É estranho... Nem eu entendi. Laís como você pode achar normal?

- Amiga... Normal é um termo relativo. No Rio De Janeiro é normal colocar ketchup na pizza. Em São Paulo você só faz isso se quiser levar um soco.

- Paulistas são estranhos. Purê no cachorro quente prova isso; são estranhos demais.

- Já falei, é relativo.

Disse dando de ombros. Eu me sentei na grama. O céu estava limpo, atrás de nós a entrada do apartamento onde Laís morava. A nossa volta o estacionamento, e os muros altos do condomínio.

- Eu só não entendo...

- Você deveria ficar sozinha.

- Sozinha?

- Sim!

- Como assim?

- Se concentre em outras coisas Léa, tu só pensa em namoro. Isso te consome e te deixa exausta.

- Eu não sei ficar...

- Sozinha? Pode falar. Não é xingamento não.

- Eu sei. Mas...

- Quando vai morar com seu pai?

- Hoje. Já me despedi das meninas. Mas preferi vir aqui te ver... Não queria ir embora sem te dar um abraço.

- É nosso ultimo ano no colégio. E você nem vai estar lá.

- É... Me desculpem.

- Julia também vai se mudar?

- Sim, pra fora do país.

Deitei na grama e fiquei olhando o céu sem nuvens.

- Falou com a Nanda?

- O que?

- Ela está namorando... Um garoto. Parece que espalhou que você foi só uma fase. Mas a Naty não pareceu gostar de ouvir isso... Acho que as duas estão ficando escondidas.

- Nanda tem pais problemáticos. Por isso ela não sai do armário.

- Eu sei.

- Vai me visitar na casa do meu pai?

- Vou. E você vai tentar parar de depender de namoradas pra ser feliz?

- Vou tentar.

- Me diz uma coisa... Em quem você pensa mais?

- Julia.

- Porque?

- Não sei. Mas ela me disse umas  coisas... Acredita que quer me ver de novo daqui a um ano? Que louca.

- Louca porque? Parece uma boa. Já vai estar indo pra faculdade, sabendo o que quer.

- Ela quer passar o rodo em outras garotas isso sim!

- Isso é ciúme Leandra Gomes?

Engoli em seco e mantive silêncio.

- Amiga pensa bem... Olha tudo o que aconteceu! Você sempre esteve com a Julia... Perdeu a virgindade com ela.

- Nem me lembre.

- Fala sério Léa, vai cuspir no prato que comeu? Logo você? Se fosse tão ruim não teria ficado com ela 3 anos. Não é mesmo?

- Fica quieta Laís. Não quero ouvir asneiras!

- Não quer ouvir as verdades não é?

- Sim! Verdades! Eu a amo! Satisfeita?

- Sei que se apaixonou... E gostou de outras meninas. Mas por mais que ela tenha errado. Convenhamos, você realmente a ama. Então sossegue.

- Estou sossegada!

- Se ela voltar, casem-se. Se ela não voltar, viva a sua vida.

- Ela não vai voltar.

- Escreve o que eu te digo; ela voltará. Ela sempre volta.

- Eu não sei...

....

- Mas... Vai ainda hoje?

- Sim, acabei de vir da casa da Laís. Fui conversar com ela.

- E ai?

- E ai nada. Só fui bater papo.

- Ah... Tá.

- E você o que vai fazer?

- O de sempre. Minha mãe e a Lex vão fazer compras. Mamãe reclamou por perder a melhor modelo dela.

- Eu não levo jeito pra isso Dan. Você vai ficar bem?

- Já estou bem.

Estávamos sentadas na calçada em frente a casa do Luis Ricardo. Dan usava uma camiseta, e jeans surrados. Os cabelos chegavam no queixo agora, e eu me perguntava como a minha dyke preferida ficaria com os cabelos negros grandes.

- Vai sentir minha falta?

- Eu não.

- Como não?

Falei indignada. Dan deu uma enorme gargalhada, fiquei emburrada. Mas ela segurou firme meu queixo e parou de rir.

- Vou morrer de saudades. Mas vamos manter contato.

- Vai mesmo responder minhas mensagens? Ou vai me ignorar?

- Depende.

- Depende do que?

- Do meu humor na hora. Ué?!

E riu novamente. Ela ficou de pé. A cueca aparecendo, por causa dos jeans largos na cintura. O corpo dela continuava o mesmo, ombros largos, magra, porém com músculos. Típico de uma jogadora de vôlei.

- Para de me olhar desse jeito.

- Desculpe. Eu...

Comecei a dizer, mas o carro do meu pai subiu a rua e parou na nossa frente.

- Eu preciso ir buscar minhas coisas. Me ajuda?

- Claro. Oi Pai.

Falei quando o carro estacionou.

- Vou esperar aqui. Vai buscar suas coisas.

- To indo.

Falei pegando Dan pela mão, entramos na casa. Estava vazia, subimos as escadas e ela me ajudou a pegar minhas malas.

Papai abriu a mala do carro, colocamos tudo dentro. Abracei Dan, e ela me abraçou forte também.

- Tchau Dan.

- Até breve. É melhor do que tchau, não acha?

- Acho. Acho sim.

Sorri sem graça. O que me surpreendeu foi Dani me dar um beijo na testa, segurando meu rosto com ternura. Então eu entrei no carro, logo eu a perdi de vista. Nenhuma de nós duas chorou. Apesar de ainda haver sentimentos, sabíamos que tudo acabou, mas ainda restava o carinho.

Meu celular tocou, eu atendi sem ver quem era.

Eu ainda olhava para o retrovisor, pensando em tudo o que estava fazendo.

"Se você ama alguém, deixe livre... Deixe ir"

Até O FimOnde histórias criam vida. Descubra agora