39- Mais cedo ou mais tarde

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- Você?

Disse ela assim que abriu a porta, estava com aparência péssima, senti um aperto no coração por tudo que a fiz passar. Eu já não sabia o que queria, não fazia idéia do que deveria fazer.

- Me perdoa... Vir aqui foi um erro... Esquece.

Dei meia volta e caminhei a passos largos, ouvi seus passos atrás de mim, então sua mão me segurou.

- Léa, porque veio? Achei que era o fim entre nós.

- E é! Era... Eu estou confusa!

- Entre, vamos conversar.

- Não posso.

- Anda logo.

Não esperou minha resposta e me arrastou para dentro, do jeito típico da Júlia. A familiaridade com aquela casa era enorme.

- Sente-se.

Eu obedeci, ela sentou de frente para mim, colocou uma mecha dos seus cabelos atrás da orelha e tentou parecer séria.  Mas estava triste, magoada. Isso eu podia ver de longe.

- Júlia foi um erro eu vir aqui. Ultimamemte eu tenho cometido inumeros erros. Me perdoa, preciso ir.

- Antes de ir. Me conte o motivo de ter vindo.

- Eu não sei.

- Veio se despedir?

- Acho que sim.

Ela assentiu vagarosamente, se levantou e andou pela sala.

- Sinto muito pelo o que eu te disse naquele dia. Você não errou sozinha, tambem tive minha parcela de culpa.

Ela continuava de costas, me levantei e me aproximei.

- Ju olha pra mim, preciso olhar nos seus olhos e pedir perdão. Por favor.

- Pare de tentar soar como despedida. Já é ruim o suficiente sem eu escutar tanta pena na sua voz.

- Não é pena!

- Ah não? Então o que é?

Ficou de frente para mim, e de repente eu não conseguia encara-la.

- E.. Eu...

- Pare de gaguejar! Responda!

- M-mas... Julia eu

- Se veio mesmo só se despedir você deveria ir embora. Eu ja fui presa por sua culpa. Já precisei lidar com meus pais, com toda a sociedade. Tudo para me trocar por uma garotinha na primeira oportunidade.

- Julia você estava desvairada! Me dava medo! Eu precisei seguir em frente. E a queixa foi retirada, isso não é mais um problema.

- É um problema para mim, Léa, eu juro que queria muito que você voltasse a falar comigo. Mas não quero mais. Eu cometi erros por te amar demais, e ter medo de te perder. Mas agora já perdi. Meti os pés pelas mãos...  E agora estou bem melhor.

- O que quer dizer com isso?

- Vou sair do país.

- O que?

- É isso mesmo, não deu pra notar? Olha a sua volta!

E olhei, estava tudo empacotado, poucas coisas estavam em seus lugares de sempre. Engoli em seco, era tarde demais.

- O que esperava Léa? Que eu ficasse a vida toda aqui remoendo o que tivemos? Desejando voltar pra você?

- Eu...

- Melhor você ir.

Foi ai que percebi, era tarde demais. Meus sentimentos misturados e confusos diziam só uma coisa; é tarde demais. Depois de todos esses anos, depois de tantos erros... Agora já era tarde demais.

Caminhei até a porta, me perguntava se eu amava duas pessoas aos mesmo tempo. Ou se havia só me apaixonado pela Dani. Isso explicaria eu ter vindo até aqui, explicaria porque eu desisti dela, os motivos de eu ter conseguido me afastar da Dani e nunca ter conseguido o mesmo da Júlia.

- Eu... Eu amo você.

Sussurrei fechando a porta. Não esperei uma resposta, era demais pra mim escutar as besteiras que ela estava louca para me dizer. Eu não queria... Não conseguiria olhar em seus olhos azuis e ver seus lábios que tanto beijei... Que tanto amei me dando um adeus doloroso.

Provavelmente a pior coisa de se amar alguém, é perder esse alguém por culpa sua.

Quando dei por mim eu já estava no ponto de ônibus, me sentei e deixei as lágrimas me inundarem.

- Não acredito que me deixei envolver tanto assim... Não é possivel que eu a ame de verdade! Não!

- Seria tão ruim assim?

Levantei a cabeça imediatamente, os olhos embaçados de lágrimas, ela estava ali; alta, linda e loira me olhando com seu jeito superior.

- Seria péssimo.

Admiti com um meio sorriso, ela se sentou ao meu lado, nunca deixando de me olhar nos olhos, eu via sinceridade ali.

- Não acho. Na verdade, na minha humilde opinião, seria ótimo...

Ela sorriu leve, e secou minhas lágrimas.

- Eu sempre soube. Mas nunca quis admitir. Me desculpe.

- Não posso te desculpar Léa. O erro foi meu, você era nova demais... Ainda é nova demais.

- O que quer dizer com isso?

- Quero dizer que vou agir certo dessa vez.

- O que vai fazer Julia?

- Ir embora. Volto daqui a um ano. Quando você estiver com 18 anos. Ai conversamos.

- Um ano? Não! Como é possível você querer isso?

- Vamos começar de novo, Léa. Vai ser bom para nós.

- Não!

- Léa... Me entende por favor.

- Não! Não, eu não aceito isso.

- Nem é questão de você aceitar ou não. É questão de eu precisar me afastar. E amadurecer. Me afastar do que me faz mal...

- Te faço mal??

- Nos fizemos mal mutuamente. Se daqui a um ano o sentimento for o mesmo, nós tentaremos novamente.

- Isso não faz sentido algum!

- Ah faz... Oh se faz. Você estará na faculdade. Morando sozinha.

- Julia e se eu não te amar mais? Ou se você não me amar mais?

- Léa eu te amo e te desejo desde o primeiro dia em que te vi. Se seus sentimentos mudarem... Será uma pena. Porém um bom motivo para nos provar que não era para ser.

Fiquei pasma a olhando falar.

- Mano do céu como você é otaria!

Ela deu uma alta risada. Eu me levantei e entrei no primeiro ônibus que veio. Não tinha mais estômago para olhar pra ela. Eu me humilhei, me declarei. Me abri, e tudo para ela dizer que vai embora.

- Não ter razão pra ficar, é um ótimo motivo pra partir.

A escutei sussurrar atrás de mim. Ela virou as costas, eu a vi se afastar pela janela do ônibus. Me sentei e a perdi de vista.

- Eu já devia ter percebido... Deveria ter deduzido que mais cedo ou mais tarde ela me deixaria.

Até O FimOnde histórias criam vida. Descubra agora