45- Querido diario

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- "Querido diário, só hoje eu já quis morrer umas... 20 vezes. Mas não me matei em nenhuma dessas vezes. Isso é um verdadeiro milagre..." Quando você escreveu isso Lea?

Perguntei rindo, ela tentou tirar o caderninho surrado da minha mão. Mas eu o ergui mais alto do que ela poderia alcançar.

- Devolve!

- Ah não! Essa oportunidade eu não posso perder!

Corri para dentro do banheiro e me tranquei lá. Abri em uma página aleatória e acabei lendo o que eu não esperava. Era praticamente uma nota de rodapé, em uma letra tremida, ela escreveu;

"eu não acredito que isso aconteceu logo comigo, estou chorando muito, e não consigo parar, eu fui forçada a fazer aquilo, isso é tão horrível. eu não sei o que fazer além de chorar"

- Kate abre a porta! Por favor Kate eu não quero que você leia minhas coisas!

Eu percebi um choro em sua voz. Abri a porta, e entreguei o caderno sem falar mais nada.

- O que você leu?

Ela sacudiu o caderninho na frente do meu nariz. Eu a olhei assustada.

- Você foi forçada a fazer o que Leandra? Quando foi isso? Não há datas nesse caderno!

Ela ficou pálida. Amassou o caderno na mão, o apertando firme até que estivesse todo amassado dentro de seu punho.

A brincadeira acabou ficando seria demais. Estávamos arrumando o quarto dela a mais ou menos duas horas. Encontrei seu diário antigo, o único por sinal, dentro de uma caixa empoeirada com antigos troféus  e medalhas do time de vôlei.

- Não é da sua conta.

- É algo sexual? Foi um estupro?

-  E eu por acaso tenho cara de quem foi estuprada? Me poupe Kate!

Ela saiu a passos largos. Seu pai passou por nós duas. Ficamos em silêncio nos encarando, ele parou e nos olhou atentamente.

- O que está acontecendo?

- Nada pai.

- Kate, não minta também. O que há?

- Eu li o diário da Léa. E ela ficou brava comigo.

Resumi. Ela me olhou irritada, seu pai esticou a mão, e fez sinal para ela entregar o caderno. Nunca vi Léa ficar tão sem cor.

- Papai... Eu não.

- Me dê logo. E terminem logo a arrumação, eu te levo para casa amanhã de manhã Kate. E parabéns pelo bebê, a barriga está enorme.

- Ah... Obrigada. Eu acho.

Ele saiu com o caderno que Léa entregou de má vontade.

- Ele me chamou de gorda?

Perguntei, mas ela estava me ignorando.

- Foi mal amiga. Será que ele vai ler? Não foi minha intenção! Juro!

- Ele não vai ler. Ele não é assim, se fosse minha mãe já teria lido na minha frente. Ele só leria se eu pedisse que fizesse.

- Entendi. Por isso amo meu tio. Me diz... Vai me contar o que houve afinal?

- Não é da sua conta.

- Não precisa ser grossa!

Falei e senti o bebê mexer.

- Oh...

Os olhos dela brilharam com espectativa.

Até O FimOnde histórias criam vida. Descubra agora