Tyler
O celular no meu ouvido chamava pelo número do Bruno. Já fazia uns dez minutos que estava tentando ligar pra ele, mas o filho da mãe não atende. Realmente estou a ponto de desistir.
-Fala.
A voz do outro lado surgiu.
-Bruno?
-Não, é o Papa.
-Idiota. Hein... Eu tenho uma coisa pra te contar.
-Conta.
-Eu vou me mudar de cidade.
-O quê?! Sério?
-Sim.
-Mas como que seu pai decide isso assim do nada?
-Na verdade não foi ele quem decidiu. Foi eu.
-Por quê?!
-Bom, eu senti que precisava começar a viver minha vida sem o dedo do meu pai em tudo o que eu faço. Daqui a dois dias eu vou me mudar...
-Dois dias?! E você ia me contar isso quando?
-Com tanta coisa pra resolver eu acabei esquecendo de te falar... Foi mal.
-Bom... Só te perdoo se me prometer uma coisa.
-O que?
-Que vai pegar muitas gatinhas.
Não aguentei segurar e uma risada escapou de minha boca.
-Prometo.-Respondo cruzando os dedos sem que ele visse. Não sou do tipo que gosta de ficar passando o rodo nas festas ou pagando de pegador na faculdade. Simplesmente não acho a menor graça.
Depois de me despedir do meu amigo, voltei para casa e conferi novamente se não estava esquecendo nada fora da mala e fui assistir um filme. No dia seguinte eu precisava ir ao mercado comprar algumas porcarias para comer durante a viagem.
✳
-Tyler! -Senti alguém me balançando de leve, para eu acordar.
Melissa.
-Hum...
-Você tá acordado?
-Não...-Tentei.
-O papai e a mamãe estão brigando...
Só a partir desse momento comecei a ouvir a gritaria e me dei conta que acabei dormindo no final do filme.
-O quê?
-Eles não param de gritar um com o outro e a mamãe já jogou um vaso nele...
-Fica aqui e não sai. Eu vou ver o que tá acontecendo. Coloca isso. -Digo colocando os fones de ouvido nela e acessando um filme infantil qualquer no computador.
Ao sair, fechei a porta e consegui ouvir melhor os berros.
-SERÁ QUE VOCÊ NÃO ENTENDE?! EU NÃO QUERO DINHEIRO!! EU QUERO UM MARIDO E UM PAI PARA MINHA FILHA E NÃO UM LADRÃO.
-EU ESTOU FAZENDO O MEU MELHOR! QUANDO A GENTE NAMORAVA VOCÊ NÃO RECLAMAVA DOS PRESENTES CAROS QUE EU TE DAVA.
-OW! -Berrei terminando de descer as escadas e os dois olharam para mim.-O que está acontecendo aqui?! Vocês perceberam que tinha uma criança ouvindo essa gritaria? Vamos parar com essa porra agora e vão resolver isso dentro do quarto de vocês e em um tom baixo, por que nem eu, nem a Melissa somos obrigados a ficar ouvindo essas babaquices! Okay?
-Moleque quem você pensa que é pra falar desse jeito comigo?!
-Na verdade eu penso que não sou um idiota como você, por isso falo desse jeito.
Em poucos segundos ouço um estalo, meu corpo é quase jogado para o chão e um ardor toma conta do lado direito do meu rosto. Antes mesmo que eu pudesse tocar onde doía, sinto minha camisa sendo puxada, fazendo com que eu quase saia do chão.
-Escuta aqui moleque, você ainda está sob meus comandos, a qualquer hora eu posso cancelar a sua ida para aquela faculdade de merda e te colocar pra viver um verdadeiro inferno!- Paulo fala e me empurra, me fazendo cair no chão e sai bufando para o seu escritório.
-Tyler, você não devia...- A vadia me puxa pela mão para que eu levante.
-Me solta!- Puxo minha mão da dela e me levanto sozinho.- Isso também é culpa sua desgraçada.- Cuspo as palavras com nojo e vou para meu quarto. Pego minha mala que já está arrumada, coloco o que faltava dentro de uma mochila e saio daquela casa maldita.
Chamo um carro pelo aplicativo e vou até um dos hotéis mais simples da cidade. Não iria aguentar ficar naquela casa mais nenhum segundo.
Me sinto ameaçado e humilhado.
Quando eu completar dezoito anos esse homem não vai nem ouvir mais falar do meu nome.
-Deixa eu adivinhar. Você brigou de novo com o seu pai?- Bruno fala, entrando no quarto e vendo a mala ao lado da cama.
-Isso já é rotineiro.-Falo esperando Pricila entrar também. Chamei os dois aqui para contar o que aconteceu e para me despedir melhor deles.
-Não concordo com esse negócio de você ir embora sem se despedir de seu pai. Por mais que ele seja um idiota, ainda é o seu pai.
-Ele deixou de ser meu pai quando trocou minha mãe e eu por aquela vadia. Aquele homem não é meu pai.-Falo com rancor.
Pricila suspira pesadamente. Posso ver que ela não está conformada com isso, mas assim será.
Conversamos mais um pouco e um tempo depois, Patrick passou lá para buscar Pricila, mas como já estava tarde, deu carona para Bruno também.
Não gosto da ideia de deixar meus amigos aqui, mas eles não são o bastante para me fazer ficar. Cada um deles está construindo sua própria vida.
A Pricila vai ser professora e casar com o cara que ama.
O Bruno já até mora sozinho e não depende de ninguém para nada.
Só eu que ainda estou amarrado. Preciso pensar no meu futuro, e esse futuro não é aqui.
☸
Narrador
O dia da partida de Tyler amanheceu nublada e Pricila decidiu que precisava tomar alguma providência.
-Com licença, eu gostaria de falar com o Doutor Paulo.- a garota fala para a recepcionista.
-Desculpe, mas no momento ele está em uma reunião.
-Okay, eu espero. Vai demorar muito?
-Sim. Ele acabou de entrar.
Pricila entortou a boca pensativa.
-Tudo bem.
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UMA CHANCE PARA TYLER
Teen FictionTyler. O rapaz de belos olhos e cabelos castanhos está iniciando sua vida universitária, após se formar em seu antigo colégio. Agora cursando Direito, como bem queriam seus pais, tem se dedicado bastante aos estudos e passa quase todas as horas do...