20. UMA CHANCE PARA TYLER

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Duas horas se passaram até que uma voz soou em meio ao silêncio.

-Senhorita, o senhor Gusttamant vai recebê-la. Pode entrar naquele elevador e entre na última porta do corredor.

-Obrigada!-Pricila responde sorridente, se levanta e aperta a pasta que trazia consigo.

Não era de hoje que Paulo era conhecido por seu bom trabalho na área da advocacia, então na internet o que não faltava era fotos suas e de sua família.

-Com licença...-Ela diz abrindo a porta e entrando.- Bom dia!

- Bom dia senhorita. Sente-se!- Ele se levanta para cumprimentá-la com simpatia. Não parecia nem um pouco com o monstro que Tyler havia descrito. -Gostaria de alguma coisa? Um suco, uma água?

-Não, Obrigada!

-Então, o que deseja?- Paulo pergunta se sentando novamente ajeitando levemente o terno caro.

-Bom... Meu nome é Pricila e eu sou amiga do seu filho. -Nesse momento o sorriso simpático do senhor sumiu e deu lugar a uma carranca mal humorada.-E eu gostaria de te fazer uma pergunta: Você ama seu filho?

-Claro que amo! Que pergunta besta menina.

-Então porque o faz sofrer tanto?

-Você não sabe nem da metade das coisas que aconteceram na minha família e quer se intrometer? Olhe, eu vou pedir que se retire do meu escritório agora, por favor!- Ele fala se levantando.

-Pelo menos ouça o que eu tenho a dizer!

-Não quero ouvir nada! É claro que esse moleque inventou um monte de coisas para colocar todos contra mim!

-Não é verdade! Você tem que assumir as consequências dos seus atos e deixar esse orgulho de lado por que você está perdendo o seu filho! Quando ele for embora, não irá voltar mais e o senhor sabe disso!

-O que você quer de mim pirralha insolente?!

-Eu quero que você me responda por que faz ele sofrer tanto? Você não liga para o fato do seu filho não parar em casa, não ter uma família de verdade que o acolha?

-Ele tem uma família de verdade!

-Mas ele sabe disso? Por que ele não considera mais vocês como família dele. O Tyler está sozinho, com medo e confuso! Uma hora ou outra ele vai fazer uma besteira!

-Isso que ele está fazendo é drama! Não consegue aceitar a morte da mãe e fica infernizando a minha vida. Agora saia da minha sala.

-Tudo bem, eu vou. Mas quero que fique com isso e dê uma olhada.- Ela diz lhe entregando um envelope, o homem pega e Pricila sai.

Assim que vê a porta sendo fechada à sua frente, Paulo não pensou duas vezes antes de jogar o envelope no lixo.

-Garota intrometida, onde já se viu querer se meter na vida dos outros agora. -Ele falou se sentando e começando a ler alguns papéis.

Mas a curiosidade falou mais alto.

Paulo pegou envelope da lixeira abrindo-o.
Dentro havia algumas fotos impressas. A primeira foi uma que saiu no site da cidade quando Tyler nasceu.
Na imagem, Paulo segurava o bebê com brilho nos olhos e ele pôde se lembrar de como foi um dia incrível na sua vida e de como ficou nervoso nas horas anteriores.

A outra foto, mostrava os três numa premiação de empresas. Naquele dia Tyler que segurou o prêmio que seu pai recebeu e todos se comoveram pois o garoto tinha apenas três anos.

Em outra mostrava o aniversário de sete anos do menino em que pai e filho jogavam bola e se divertiam juntos. Paulo se lembra então, de que seu filho amava futebol e era o melhor jogador da escola, recebeu até algumas medalhas e prêmios.

A foto seguinte era uma mais recente. Tyler estava apresentando um trabalho e mostrava seriedade e precisão no que estava falando.

Nesse momento Senhor Gusttamant se lembrou de todos os planos que havia feito para seu filho e que sempre sonhou que seu garoto se interessasse pela mesma profissão de seu pai.

E então seu peito apertou.

-Com licença Senhor Gusttamant, sua reunião com os Rimelton começa em cinco minutos.

-Cancela.

-Tudo bem.

Um click soou na cabeça de Paulo e ele se viu em meio de um labirinto sem saber o que fazer. Estava com medo e confuso. Ele não tinha ninguém para confiar. A única mulher que ele já amou de verdade está morta por sua culpa, seu filho o odiava e sua nova mulher o repudiava.

A pequena Melissa era a única que ainda lhe restava. Mas de que isso adiantava se não poderia ser um bom pai para ela.

-Preciso falar com ele.-O homem se levantou de pressa e caminhou para fora da empresa. Chamou um carro que quando estava faltando pouco para chegar na rodoviária ficou parado num engarrafamento que houve por causa de um acidente.

Não aguentando, ele entregou o dinheiro para o motorista e saiu andando. Precisava encontrar seu filho antes que seu ônibus partisse.

Precisava pedir desculpas.

Precisava dizer o quanto o amava e o quanto se arrependia de tudo o que havia feito.

Agora ele estava quase chegando na rodoviária quando viu o acidente. Um homem estava estirado no chão e um carro todo amassado na frente. As pessoas se aglomeraram ao redor e Paulo não conseguia ver direito o ferido.

Algo dentro dele o puxou para se aproximar para ver o homem no chão quando se aproximou, a cena soou como um tiro no coração da sua alma.

-NÃO!! TYLER!!!!- Paulo empurrou as pessoas para passar e se ajoelhou ao lado do corpo ensanguentado do filho.- TYLER!!! -Seu rosto pálido agora está avermelhado por causa das lágrimas.- Não, não, não, não!! Você não! Tyler acorda!! Meu filho! Por favor! Alguém me ajuda!! -Ele berrava. Até que sentiu uma mão o puxando para se afastar, ele relutou mas parou quando viu que eram os bombeiros.

-Papai!! -O pequeno garoto comemorou ao ver seu pai chegar para buscá-lo em seu primeiro dia de aula.

-E garotão?! Não foi tão ruim não é?

-Não, foi muito legal!! A gente brincou bastante!!- Tyler dizia ainda se enrrolando com as palavras.

- Que bom que você gostou, por que vai ter que vir aqui sempre!

-Eu te amo muito papai!-O garoto surpreendeu Paulo com essas palavras cheias de gratidão.

-Eu também te amo moleque.

UMA CHANCE PARA TYLEROnde histórias criam vida. Descubra agora