Capítulo 3 - Mariana

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Acordei várias vezes naquela noite, ainda não conseguia acostumar-me com a mudança em meus horários. Ainda não era sete da manhã e eu já estava pronta, aproveitei que estava dentro do horário, deu tempo para me despedir do meu pai, ele era diretor de um colégio de primeiro e segundo grau que ficava no mesmo quarteirão da nossa casa.

— Precisa ir tão perfumada na academia? — Minha mãe resolveu brincar comigo, assim que meu pai passou pela porta acenando para nós duas.

Beijei seu rosto e gargalhei como se ela tivesse me contado uma piada.

— Não é a senhora que vive querendo me desencalhar? Quem sabe lá eu não encontro um pretendente?

Era brincadeira minha. Em momento algum eu pensava na academia como um ponto de encontro e, sinceramente, pra mim, os marombados que cultuam o corpo e que têm como objetivo ficarem parecidos com o "Incrível Hulk" nunca teria chance comigo.

***

A fachada era bonita, toda com luzes neon, lembravam-me um pouco as academias norte-americanas. Pela vidraça, vi a Luiza encostada no balcão e enquanto me encarava, bateu o dedo no relógio recriminando meu atraso.

— Quinze minutos Luiza... Míseros quinze minutos, eu precisava dormir bastante. — Me defendi enquanto a cumprimentava com um beijo. — Acha que meu primeiro dia no hospital foi fácil?

— Ela tem razão. — Uma voz masculina conhecida me fez olhar para o balcão. — Estou de prova, a Doutora Mariana teve um dia e tanto ontem e por isso, vai ganhar um bom desconto se fechar o plano semestral na minha academia.

— Você? — Apontei o dedo sem acreditar naquela coincidência. Pedro Motta Assunção era o dono daquela academia, onde por meses eu evitei pisar.

Enquanto ele sorria com o canto dos lábios, minha amiga me olhava como se quisesse me fuzilar.

— Se conhecem? — Ela alternou os olhares entre nós dois.

— Sim — dissemos ao mesmo tempo. Eu ri daquela sintonia. — Na verdade eu conheci o Pedro ontem, ele é pai da Lorena, uma das minhas pacientes.

— Hum... — A Luiza balançou a cabeça com a mão no queixo. Eu sabia bem o que ela estava tentando me dizer.

— E a Lorena? — Voltei-me ao Pedro. — Como está?

Ele debruçou no balcão de um jeito que seu rosto ficou próximo do meu... Muito próximo eu diria, tanto, que pude notar pela primeira vez o quanto seus olhos eram verdes. Ponto pra ele, eu tinha uma queda por homens com olhos claros.

— Graças aos seus conselhos, ela está bem melhor...

— Que bom... E, aproveitando esse nosso reencontro, acho que devo desculpas a você, eu fui meio ríspida, mas esse é meu jeito. — Encolhi meus ombros.

— Não. — Ele balançou a cabeça e tocou o meu braço. —Você tinha toda razão, eu deveria ter dado banho nela, essa é a primeira coisa a se fazer em casos de febre.

— Então vamos desfazer nossas primeiras más impressões. — Estendi a mão para ele. —Você esquece a minha grosseria e eu esqueço que você colocou em dúvida a minha capacidade, tudo bem?

Ele estreitou os olhos e segurou o queixo, como se considerasse a minha proposta.

— Negócio fechado. — Pedro escancarou um sorriso cheio de dentes bem alinhados e apertou a minha mão, me fazendo perder o ar.

Estávamos os dois, perdidos em um universo paralelo, quando a Luiza e seus pigarros falsos, nos trouxe de volta.

— Vai nos apresentar a academia? — ela interveio.

Era para ser assim ( Degustação) Está Na AmazonOnde histórias criam vida. Descubra agora