Capítulo 27 - Pedro

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  Quando Flávia e eu nos conhecemos, a impressão que eu tive, era de que seria para sempre. Sua morte prematura e pior, o fato de ele não ter podido conhecer a Lorena, acabou por me fazer encarar a vida de um jeito diferente, com mais amargor. Depois da Mariana, todas as minhas perspectivas mudaram, como se Deus estivesse me dando outra chance para ser feliz. Mesmo assim, vez por outra eu me pegava pensando se minha ex-esposa aprovaria os rumos que eu estava dando àquela família que ates era sua.Aproveitei outra tarde de sono da Mariana, e decidi levar a Lorena ao parque perto de nossa casa. Aquele era o lugar onde a Flavia e eu, costumávamos planejar nosso futuro. Ela sentava no balanço e eu a empurrava enquanto escolhíamos nomes para o nosso bebê. 

—Quer brincar no escorregador com o papai? —perguntei, colocando-a sobre o brinquedo.Lorena laçou-me um sorriso largo enquanto deslizava pelo brinquedo. Ela tentava se soltar, mas preocupado como eu era, não larguei suas mãozinhas por nem um minuto. 

—Ma...mã... —ela resmungou. 

—Trapaceira! Diga pa-pai. —Apertei-a em meus braços e insisti por mais de uma vez que ela me chamasse de papai.Ainda estávamos no meio de nossa aula de português, quando uma senhora de meia idade e sorriso gentil, chegou ao parquinho, trazendo com ela um casal de crianças. 

—Tenham cuidado! —ela gritou enquanto eles correram na direção da gangorra. 

—São seus filhos? —perguntei quando ela se sentou no banco ao lado do meu.Ela balançou a cabeça em uma negativa.

 —Netos. Minha filha começou cedo, agora, o pai da criança sumiu, ela está no último ano da faculdade, e eu tomo conta dos gêmeos. —Ela soltou um suspiro que denunciava seu cansaço. —E você? É sua filha ou irmãzinha? 

—Minha filha. Lorena—declarei orgulhoso. 

—E a mãe dela, onde está? Enruguei a testa diante do questionamento. 

—Ela faleceu...Nem chegou a conhecer a filha. —Encolhi os meus ombros, voltando a me sentir triste com as lembranças dolorosas. 

—Oh meus Deus! Eu sinto muito. —Ela mostrou-se constrangida. 

—Não por isso. De um jeito ou de outro a gente vai se acostumando com a dor da perda. 

 —Isso mesmo. Você olha para essa coisinha linda e sabe que precisa ser forte por ela, não é? 

—Exato. —Dei um beijo na bochecha da minha filha que gargalhou, fazendo com que nós dois ríssemos também. —Apesar de tudo, não posso reclamar, vou ser pai de novo, não foi planejado, mas...acabei me apaixonando pela pediatra da minha filha.A mulher pôs-se a me encarar por alguns instantes, depois, lançou-me um sorriso largo como se eu acabasse de lhe contar a história maia bonita. 

—Posso te dizer uma coisa? —Ela inclinou o corpo na minha direção. 

—Claro. 

—A mãe dessa pequena aqui, deve estar muito contente por você estar construindo uma nova família para essa princesinha.—Ela acariciou o bracinho da minha filha.Olhei para o céu e depois para o nosso balanço. 

—Eu espero que sim...A mulher se levantou e caminhou na direção dos netos que se divertiam na gangorra. 

—Não tenha dúvidas—ela afirmou antes de partir.Permaneci por mais alguns minutos ali e então decidi que já era hora de voltarmos, imaginava que se a Mariana acordasse e não nos encontrasse em cada, poderia ficar preocupada. 

—E então filha...Vamos para casa?Ela piscou algumas vezes e esticou o bracinho para tocar o meu rosto. 

—Pa...pa... —ela murmurou.Achei que o meu coração fosse sair pela minha boca, e cheguei a cogitar que fosse coisa da minha imaginação. 

—Filha, você disse papai? —perguntei emocionado. 

—Pa-pai...Pa-pai... —ela repetiu e como um bobo eu chorei de emoção. Aquele fora sem dúvidas, um dos momentos mais importante da minha vida. Aquela foi a primeira vez que consegui voltar ao balanço. Coloquei minha filha sobre ele e enquanto a embalava com cuidado, entendi que a Flávia ainda vivia, afinal, Lorena era também uma parte dela e essa constatação, acabou por acalmar de vez o meu coração.  

Era para ser assim ( Degustação) Está Na AmazonOnde histórias criam vida. Descubra agora