Capítulo 1 - Os selecionados (Parte 3/3)

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VI

Fazia frio naquela manhã de sexta-feira em Sofia, na Bulgária. Lubinka Kolenkova estava dentro de um táxi. Apesar de ter nascido na Rússia, a jovem de mais de um metro e oitenta de altura era friorenta. Botas de camurça, gorro de lã cobrindo as orelhas, cachecol, calça e luvas de couro, casaco de pele. Todo este aparato a protegia, literalmente, da cabeça aos pés. A única parte descoberta de seu corpo era o seu belo rosto. O desenho de sua boca rosada, o nariz arrebitado e os pequenos olhos azuis amendoados facilmente confundiam-na com uma boneca.

Mesmo assim, Lubinka tremia dentro daquele táxi que acabava de deixar o hotel. Abriu sua valise e retirou outro cachecol. Enrolou-o em volta do rosto, deixando só os olhos e o nariz de fora. O motorista do táxi, comovido com o sofrimento da moça, tentou tranquilizá-la:

― Senhorita. Gostaria de avisá-la que já estamos a poucos minutos do seu destino.

― Excelente notícia. Estou congelando. ― respondeu com a voz sem nenhuma emoção.

― Geralmente as espanholas sofrem com o frio daqui. ― comentou.

― Eu sou russa. Mas nunca me acostumei com o frio. ― respondeu Lubinka.

O motorista ergueu as sobrancelhas.

Pouco depois eles ouviram um barulho vindo da parte de trás do veículo. O motorista parou para ver o que era. Por um golpe de azar, os dois pneus do lado direito estavam furados. Após ser avisada sobre o imprevisto, a russa parecia demonstrar bastante calma.

― Sinto muito, senhorita. Mil perdões. O táxi deve ter passado por cima de um prego grosso. Talvez demore um tempo para consertar. A senhorita pode pegar outro táxi, caso desejar.

― O senhor não tem culpa alguma. Quanto foi a corrida até aqui? ― disse ela enquanto retirava algumas notas da carteira.

O motorista, constrangido pela situação, relutou em aceitar o pagamento, mas cedeu à insistência de Lubinka.

Ela perguntou quanto tempo levaria se caminhasse até Bulgaville.

― Dez minutos. Se quiser, eu acompanho você. Posso te ajudar a carregar sua valise. ― O motorista tentava se redimir.

A russa recusou friamente. Limitou-se a ouvir as orientações do educado motorista, que, pacientemente, ensinava-lhe o trajeto. Ela pegou sua valise dentro do táxi e decidiu completar o restante do percurso a pé.

Ela parecia incrédula com os imprevistos daquele dia. Já não bastava o garçom do hotel em que se
hospedara ter derramado leite na sua calça. Ela associou o atraso por ter que se trocar novamente à infeliz coincidência de pegar justamente o taxista azarado.

Lubinka estava apenas a um quarteirão de Bulgaville quando notou que um jovem baixo com a cabeça raspada e sorriso maroto a seguia com os olhos. Ele carregava uma bagagem nas mãos.

"Era só o que me faltava.", murmurou para si mesma.

Apressou o passo. O jovem abordou-a em francês:

― Desculpa se assustei você. ― E quando ela virou o rosto para ele, completou: ― Eu não sabia que boneca andava.

Ela voltou a olhar para frente e o ignorou.

― Bonecas não falam. ― insistiu o rapaz, com sorriso nos lábios.

― Você não percebeu que estou atrasada e não quero conversar com ninguém?

― Aposto que é italiana. Espanhola ou talvez...

― Sou russa. ― interrompeu.

― E eu sou búlgaro. Moro aqui em Sofia. Penev Krushov, ao seu dispor.

A equação imperfeita (COMPLETA) #CPOWOnde histórias criam vida. Descubra agora