Capítulo 16 - Jolie Bardot (Parte 1/2)

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I

Thomas reabrira o livro de matemática em cujas páginas havia sido encontrada uma questão que, apesar de não ser idêntica à desafiante equação encontrada na cena do crime, ao menos apresentava uma linha de raciocínio similar para se chegar à solução. E a euforia com a qual Yannes reagiu, ao encontrar uma luz no fim do túnel para aquele enigma que consumia grande parte de sua atenção durante o tempo em que os demais participantes eram interrogados, não deixava dúvidas quanto à sua capacidade de raciocínio matemático. A solução da equação era questão de tempo.

Analisando com mais cuidado a questão que reacendeu a esperança do grego em resolver a equação imperfeita, Thomas, mesmo sendo leigo em matemática, percebeu alguma similaridade. Deixou o livro deliberadamente aberto na página que acabara de consultar e tamborilou na mesa, pensativo, à espera de Jolie.

Não demorou muito para que isso acontecesse. Pouco depois, Jolie Bardot estava parada de pé na soleira da porta. Com sua touca amarela e seus inseparáveis óculos escuros, ela mantinha a mão direita dentro do bolso do seu casaco de veludo amarelo. Com a outra mão apoiada na cintura, ela inclinava o corpo levemente para o seu lado esquerdo. A postura da francesa naquele momento não condizia com a de uma pessoa que estava prestes a depor como testemunha de um assassinato.
Assemelhava-se mais à conhecida postura séria que as manequins costumavam fazer quando encerravam um desfile nas passarelas.

No entanto, o sorriso que se desenhava no canto da boca de Jolie fez com que Thomas a fitasse com um ar inquiridor. A francesa, antecipando-se a qualquer pergunta do ex-policial, retirou a mão direita do bolso do casaco e exibiu o molho de chaves.

― Veja o que eu e Laudrup encontramos dentro do vaso sanitário.

Thomas empurrou sua cadeira para trás, mas Jolie já havia se acomodado na outra cadeira em frente à mesa atrás da qual ele se sentava.

― Vejam as iniciais. "F" e "V". Frank Van Der Vart. ― continuou Jolie, com um tom de voz entusiasmado. ― Uma destas chaves é a do quarto dele.

Thomas pegou o chaveiro e analisou-o minuciosamente. Seus olhos fitaram Jolie, mas ele não disse nada. Ela insistiu:

― Agora já podemos entrar no quarto e recolher mais provas para pegarmos o assassino de meu pai.

Thomas permanecia calado. Jolie começou a se sentir incomodada.

Passados alguns segundos de silêncio, Thomas começou a discursar em um tom de voz bastante sério:

― Jolie Bardot. Tenho observado que a senhorita vem tomando muitas iniciativas com o intuito de colaborar na solução deste caso. Primeiramente, ofereceu-se para acompanhar o exame do corpo pelo médico legista. Em
seguida, contrariando a lógica feminina, apresentou-se como voluntária para auxiliar Laudrup a desentupir aquele banheiro fétido. E agora ― olhou novamente para o objeto em suas mãos ―, aparece com a chave do quarto de Frank nas mãos.

― Mas estou sendo sincera. ― protestou Jolie.

― Eu acho que a senhorita tem muito coisa para explicar. Está sendo solícita demais. Engana-se se você pensa que, por ser filha de Frank, conforme você alega, terá privilégios durante a investigação. Pelo contrário, considero-a como a principal suspeita da morte de Frank.

― E por que eu seria a maior suspeita de ter cometido este crime? O simples fato de eu ser filha de Frank e de ter sido agredida por ele não prova nada
contra mim. Apenas que eu possuía razões plausíveis para assassiná-lo. Nada mais que isso. ― A respiração da francesa parecia mais acelerada.

Subitamente, Thomas deu uma risada e a expressão de seu rosto tornou-se mais relaxada.

― Meus parabéns. Você é bem preparada. Mas creio que não seja mais necessário manter o seu disfarce. Pelo menos comigo. Acho que nós, investigadores, nascemos com algum radar que nos permite detectar nossos semelhantes. Você foi muito perspicaz ― ele fez uma pausa ―, detetive Jolie, se posso lhe chamar assim.

A equação imperfeita (COMPLETA) #CPOWOnde histórias criam vida. Descubra agora