Capítulo 3 - O jantar de confraternização (Parte1/2)

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I

Após a palestra de inauguração do concurso, os participantes alojaram-se nos quartos. Pawel abriu sua bagagem para separar a roupa para se arrumar para o jantar de confraternização. Uma ponta de decepção pairou sobre ele ao lembrar que teria que dividir o banheiro com mais quatro estranhos.

Haviam definido uma sequência para tomarem banho. Pawel seria o penúltimo. Assim, teria tempo de ler um pouco na sala de estudos de Bulgaville. Procurou pelo livro que lia no voo para Sofia. Não o encontrava. Estranhou o fato e deitou-se na cama.

Minutos mais tarde, ele ouviu três batidas leves na porta. Jolie parecia trazer consigo algo na mão. Convidou- a para entrar.

― Tudo bem? Lembra-se de mim? ― disse a francesa.

― Claro. Só trocou a cor do gorro ― Pawel apontava para um gorro amarelo na cabeça dela. ― O que trouxe com você?

― Você o esqueceu no avião quando saiu de lá apressadamente. Eu estava ainda sonolenta por causa do efeito daqueles comprimidos para dormir.

― Estava procurando por ele agora mesmo. Bem que você comentou que nada de impossível poderia acontecer neste fim de semana. Estamos aqui juntos no Equation Awards.

― A pergunta daquele búlgaro me deixou com arrepios. ― disse Jolie com os ombros encolhidos.

― Creio que ele é do tipo falastrão. Concordo que aqui não seja um hotel cinco-estrelas. Mas comparar a um albergue beira ao exagero.

― Não tenho tanta certeza... Bem, foi um prazer revê-lo. Irei ao refeitório. As meninas combinaram de preparar o jantar.

Despediram-se. Pawel fechou a porta e retomou a leitura do livro.

II

Dio mio! Dio mio! Isso é frustrante. Nunca imaginei isso na minha vida. Era meu sonho participar deste concurso. Sonhava com um ambiente requintado, recepção de gala, um quarto com banheira... E agora, ― suspirou Francesca. ― estou aqui, descascando estas batatas com este avental ridículo. É ultrajante!

A voz fina e estridente da italiana deu lugar a uma voz rouca.

― Não seja tão fútil. Você mora em um castelo? ― rebateu Lavynia. ― Eu moro apenas com minha mãe há anos. Estou acostumada a preparar minha própria comida diariamente. Ninguém morre por causa disso.

― Entendo o ponto de vista de cada uma de vocês. ― interveio Krystyna, com sua voz macia e apaziguadora. ― Creio que ninguém aqui está plenamente satisfeito com as regras. Confesso que também estou um pouco desapontada.

― Um pouco? Dividir o banheiro com quatro estranhas? Dio mio! Que decadência!

Lavynia encarou a italiana. Franziu o cenho. Virou- se para a húngara:

― Krystyna, me passa uma faca para cortar estes tomates. Não podemos atrasar o jantar. O professor deixou as regras bem claras. ― A porta do refeitório se abriu e a romena cochichou para as outras duas. ― Aquela russa antipática voltou.

― A comida já está pronta? ― Lubinka disse enquanto entrava no local.

― Se você estivesse ajudando em vez de estar descansando... ― Lavynia enfatizou a palavra "descansando".

― Você está sendo precipitada em suas afirmações. ― falou com um tom de indiferença. ― Voltou-se para a húngara: ― Krystyna, o que estamos preparando?

― Batata, tomate, repolho, macarrão e arroz. Um cardápio simples. Infelizmente, temos pouco tempo. Lembrem-se de que pontualidade é umas das principais regras.

― O que vocês acharam do tirano do professor? ― perguntou Lubinka enquanto picava o repolho.

― Ele me pareceu com ar de superioridade. E aquele olhar intimidador! Dio mio! Aqui estão as batatas.

― Também o achei bem estranho ― Lavynia comentou. ― Mas temos que reconhecer o seu alto grau de conhecimento dos ramos da matemática.

― Seu humor é bem... ― Krystyna escolheu a palavra ― instável. Não repararam Francesca, o macarrão e o arroz, por favor. ― E virou-se para as
outras: ― Podemos começar a nos arrumar. Nosso jantar de confraternização estará pronto em pouco mais de trinta minutos.

III

Frank permaneceu sentado sozinho em frente à mesa da sala onde ministrou a palestra de inauguração do concurso. Mais uma vez seu olhar mirava um ponto indefinido. A reação dos estudantes ao tomarem conhecimento das mudanças das regras surpreendeu o professor.

"Albergue! Que insolência", murmurou para si mesmo com o cenho franzido.

Momentos depois seu semblante se transformou. Esboçou um sorriso malicioso no canto dos lábios. Decidido, levantou-se da sala e caminhou vagarosamente por Bulgaville.

Observou a movimentação dos jovens. Penev, Joseph e Laudrup saíam da sala de estudos. Dirigiu-se ao outro lado do prédio e sentiu um cheiro convidativo vindo do refeitório. Consultou o relógio e sorriu com satisfação ao deduzir que o horário do jantar seria cumprido.

No caminho de volta ao seu quarto, notou que Pawel batia na porta do quarto de Yannes para avisar ao grego que o banheiro estava livre para que ele se arrumasse. O professor Frank ficou orgulhoso em perceber que sua postura enérgica surtira efeito.

Frank entrou no seu quarto. Destrancou uma das gavetas do criado-mudo e pegou um envelope pardo. Retirou o conteúdo e analisou-o cuidadosamente por alguns segundos. Guardou tudo novamente na gaveta.
Deitou-se na cama pensativo. Tudo estava conforme o previsto. E em breve o jantar seria servido.

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Obrigado,
Vincento Hughes.

A equação imperfeita (COMPLETA) #CPOWOnde histórias criam vida. Descubra agora