Capítulo 19 - Interlúdio para o almoço (Parte 2/2)

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II

― Sente-se melhor agora, Lavynia? ― perguntou Krystyna.

As duas terminavam de almoçar em companhia de Francesca e Lubinka. A romena esperou engolir o último pedaço de batata para responder:

― Estou sim. Foi somente um mal-estar passageiro.

― Saco vazio não para em pé. ― disse a húngara.

― Você devia estar fraca demais para desmaiar daquele jeito.

― É verdade. Nem cheguei a tomar café da manhã direito.

― Pudera! ― a voz estridente de Francesca fez-se ouvir entre as companheiras de mesa. ― Ninguém queria se atrever a chegar atrasado para a prova do concurso. Ai! Dio Mio! Não aguento isso! Todos os assuntos sobre o qual conversamos culminam no lamentável assassinato de Frank. Que coisa angustiante!

Com seu tom de voz ponderado, Krystyna, mais uma vez, tentou tranquilizar a italiana:

― Devemos manter a calma sempre, Francesca. Mais cedo ou mais tarde o culpado será descoberto.

― Temos que dar tempo ao tempo. ― acrescentou Lubinka.

― Eu sei disso. Mas, de qualquer forma, eu preciso reavivar a minha memória no que diz respeito aos barulhos que eu ouvi durante a madrugada. Alguém se opõe?

Lubinka expressou ar de enfado, mas não fez objeção. Lavynia parecia ter o pensamento distante. Ao perceber o desinteresse de ambas diante da iminente tagarelice da italiana, Krystyna, em nome dos bons costumes, fez sinal para que Francesca prosseguisse.

― Pois bem. Sigam o meu raciocínio. Eu escutei passos de pessoas caminhando fora do meu quarto entre meia-noite e uma hora da manhã. Sim, sim. Agora me lembro. Era meia-noite e meia quando eu acordei assustada com o barulho de passos de alguém deixando um dos quartos. Eram passos pesados, apressados.

― Sobre o que podemos deduzir que se trata da pessoa responsável por entupir o vaso sanitário. ― opinou
Krystyna.

Lubinka emitiu um som semelhante ao de alguém que sente ânsia de vômito e instintivamente tampou o nariz com uma das mãos.

― Desculpem. O simples fato de imaginar aquele cheiro odioso me provoca náuseas. Prossiga, por favor, Francesca.

― Cinco minutos depois eu ainda não havia recuperado o sono. Neste momento eu ouvi passos leves, porém cadenciados, como se a pessoa tivesse decidido passear. Dio Mio! Que loucura, não? Andar por este prédio
sombrio a esmo? Algum desmiolado. ― ela fez uma pausa e depois acrescentou: ― Ei! Esperem. Desta vez eu ouvi com nitidez o barulho da porta se abrindo e se fechando. Duas vezes. De fato, um desmiolado. Ou desmiolada.

― Quem sabe foi alguém que tenha se arrependido de deixar o quarto no meio da madrugada? ― indagou Krystyna à italiana.

Os olhos de Lavynia pousaram fixos no chão.

― Mas por que razão então esta pessoa não se preocupou em evitar o barulho como os demais fizeram?

A húngara deu de ombros.

― Talvez nem ela mesma saiba por quê.

― Seguindo a cronologia ― continuou Francesca ―, chegamos ao terceiro ruído de passos, que ouvi cerca de dez minutos após ouvir os passos do tal desmiolado. Tão suaves e silenciosos que, se eu não estivesse sido acordada da primeira vez, sequer teria notado. Em seguida, adormeci até a manhã de hoje. ― E, com um tom de voz triunfante, concluiu: ― A meu ver, esta deve ter sido a pessoa que liquidou Frank.

A equação imperfeita (COMPLETA) #CPOWOnde histórias criam vida. Descubra agora