Capítulo 11 - Francesca Lazarotti (Parte 2/2)

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II

Pawel desviou para um canto do refeitório. Por um triz Francesca não esbarrou nele quando saiu em disparada rumo à sala de leitura.

― Eu avisei a ela sobre o exagero na ingestão de água. ― comentou Lavynia. ― Nunca havia visto uma pessoa tão aflita.

Laudrup compartilhou da mesma opinião da romena.

― Sim. Ela passou por mim como uma bala.

― Eu sei que ninguém terá coragem de assumir, mas... nossos ouvidos agradecem. ― declarou Lavynia.

― Lavynia, sua franqueza me surpreende. ― emendou Penev. E dirigindo-se a todos, indagou: ― Acham que ela é suspeita? Ela parecia muito agitada.

― É possível. ― disse Jolie. ― Como também pode ser um comportamento natural dela. Dizem que os italianos usualmente são mais expansivos, mais exagerados. Talvez ela realmente esteja transbordando de emoção.

― Meramente cultural. ― acrescentou Krystyna. ― Devemos nos lembrar de que fomos selecionados de diversos países, cada qual com seus costumes, suas diversidades, suas crenças e suas diferenças.

― No meu país, as pessoas são um pouco mais reservadas. ― comentou Lubinka.

Penev deu uma risada curta e disse:

― Temos aqui uma autêntica russa.

Joseph mantinha seu comportamento: Observava a conversa entre os estudantes e, eventualmente, sacava um pedaço de papel do bolso e escrevia algumas palavras.

Pawel aproximou-se do iugoslavo, abordando-o em um tom amistoso:

― Joseph, está tentando resolver a "equação imperfeita"?

O outro movimentou a cabeça expressando negação. Suas mãos pousaram exatamente sobre suas anotações, passando a ideia de que tentava ocultá-las.

O polonês insistiu com a curiosidade de uma criança de sete anos:

― Já sei. Está quase solucionando o problema. ― ele sorriu simpaticamente.

O iugoslavo assentiu e retribuiu com um sorriso malicioso. Pawel avançou alguns passos, em direção à outra mesa, na qual Yannes permanecia rascunhando números em um papel em branco. À sua chegada, o grego gracejou:

― Parece que temos aqui uma competição informal para descobrir quem de nós três ― ele movimentou a cabeça indicando Joseph ― resolverá a questão que Frank pretendia incluir no Equation Awards.

― Algum progresso?

Yannes soltou um suspiro desanimado.

― Nada. Pensei que havia encontrado um caminho promissor, mas estou de volta à estaca zero.

O polonês baixou o tom de voz para que somente o grego pudesse ouvir:

― Tenho um segredo para lhe contar. Posso confiar em você?

Após um gesto afirmativo de cabeça de Yannes, Pawel prosseguiu:

― Acho que sei como encontrar a resposta desta equação. Mas preciso esperar o término do interrogatório.

Os olhos do grego brilharam enquanto ele consentia.

― Aguardarei ansiosamente. Este será um segredo nosso.

Pawel foi beber um copo d'água e não notou que era acompanhado por um olhar ressabiado de Jolie.

― Ai! Estou começando a sentir fome. Sobrou comida do jantar de ontem? ― A jovem francesa suspirou.

― Infelizmente, não. ― lamentou Krystyna enquanto abria a geladeira. ― Vamos precisar preparar daqui a algum tempo e...

Ela se calou e permaneceu por um instante observando, o interior da geladeira. Em seguida, disse, com surpresa:

― Estranho. Havia vinho ontem no jantar?

― Não que eu me lembre. ― retrucou Jolie, em um tom de voz hesitante.

― Tomamos somente sucos de fruta. ― afirmou Lubinka.

― Com certeza. ― enfatizou Laudrup. ― Eu me lembro disso porque bebi suco de laranja.

― Porque há uma garrafa de vinho aqui dentro. ― disse Krystyna enquanto retirava o objeto da geladeira.

Lavynia, que estava próxima da húngara, observou o nível da garrafa e comentou:

― Beberam pelo menos metade desta garrafa. ― fez uma breve pausa e leu o rótulo: ― É francês. Que chique!

Joseph lançou um olhar interrogativo para Jolie.

A francesa se antecipou a qualquer comentário maldoso que pudesse surgir a respeito da nacionalidade do vinho.

― Não fui eu quem trouxe esta garrafa.

― Ninguém está acusando você disso. ― disse Lavynia, antes de soltar o veneno: ― Vestiu a carapuça?

A resposta da francesa veio com a classe de uma genuína dama parisiense.

― Absolutamente. Às vezes a verdadeira intenção daquele que aponta a seta para o outro é justamente encobrir seu próprio erro. ― e com um sorriso triunfante acrescentou: ― Mas sei que esse não é o seu caso.

A romena retrucou:

― Evidente que não. ― e dirigindo-se aos demais continuou: ― Mas é óbvio que a garrafa de vinho não veio andando sozinha e pulou para dentro da geladeira. Alguém a colocou lá.

― E deve ter sido após o jantar. ― emendou Pawel.

― Não seria nenhum absurdo que este alguém tenha sido a mesma pessoa que assassinou o professor Frank. ― disse Laudrup. ― E ainda teve a ousadia de beber vinho após o feito. Que mórbido!

― Também não podemos descartar a hipótese de que o próprio Frank tenha trazido a garrafa de seu quarto para beber reservadamente após o jantar. ― opinou Penev.

― Mas ele não disse que estaria disponível na sala da palestra inaugural após o jantar? ― lembrou Lubinka.

Jolie respondeu à indagação da russa com outra pergunta intrigante.

― Isso foi o que Frank nos disse. Mas algum de nós compareceu àquela sala depois do jantar?

Um silêncio sepulcral tomou conta do refeitório.

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Obrigado,
Vincento Hughes.

A equação imperfeita (COMPLETA) #CPOWOnde histórias criam vida. Descubra agora