II
Laudrup havia acabado de retornar ao refeitório. Muitos o olhavam com aquela ansiedade típica de crianças que esperam receber o seu presente de Natal. Outros denotavam certa apreensão no rosto. Estes sentimentos misturavam-se à inegável curiosidade que todos tinham por novas informações a respeito da morte de Frank.
O dinamarquês percebeu claramente esta atmosfera no exato momento em que entrou pela porta de vaivém. Depois de falar em particular com Krystyna, que se dirigiu à sala de leitura, ele falou com sua habitual firmeza na voz:
― Meu depoimento durou menos tempo que eu imaginava. Thomas parece ter sido um policial eficiente e competente no passado.
Francesca parecia uma flor murcha. Sua natural ansiedade acentuou-se com o comentário reticente feito por Laudrup. Visivelmente frustrada, ela começou a falar:
― Dio mio! Dio mio! Mas o que ele perguntou? Estou tão nervosa. Tão ansiosa! Foram muitas perguntas? Ele já suspeita de alguém? Eu sabia que esse lugar, um albergue de quinta categoria, como bem disse o Penev, não traria bons fluidos. Eu devia acreditar em minhas intuições, meus instintos. Tinha que ter deixado Bulgaville antes dessa história toda ter começado. Aliás, não deveria sequer ter vindo.
A italiana ingeriu o restante de água do copo que segurava nas mãos quando terminou de desabafar. Laudrup procurou acalmá-la:
― Não há com o que se preocupar. Nem muito a ser feito. Não somos detetives nem investigadores. Somos apenas jovens estudantes que almejávamos participar de um concurso internacional de matemática. Creio que, quando Thomas concluir todos os depoimentos, toda esta história, como você mesma disse, estará resolvida. Então, cada um de nós poderá retornar aos nossos respectivos lares.
O discurso encorajador de Laudrup amenizou a frustração até então estampada no rosto de Francesca. Ela foi encher o copo com mais água. Lavynia a advertiu:
― Francesca, este será seu quarto copo! Logo precisará ir ao banheiro.
A italiana sorveu um gole de água e disse:
― Pelo menos isso me acalma um pouco.
Jolie, com sua curiosidade aguçada, virou-se para Laudrup e lhe perguntou:
― Você nasceu em Copenhague, não é?― Sim.
― Mas nunca morou lá, não é mesmo? Disse que vive viajando pelo mundo. Gostou de Paris?
― Já morei em Copenhague quando era criança. Mas foi por pouco tempo. Sua cidade natal é uma bela cidade. Tive uma estadia de uma semana no Paris Athéneé há cerca de dois anos. Desejo retornar um dia a Paris, revisitar o Rio Sena, a Torre Eiffel...
― Conhecia Sofia?
― Não. Parece-me uma cidade exuberante. Pretendo prolongar minha estadia aqui após o Equation Awards e passar uns dias no Hotel Sofia.
― Ouvi dizer que Sofia é a terceira capital mais antiga da Europa. Também ouvi falar muito bem sobre este hotel. Há poucos meses abrigou dezenas de médicos que participaram de um congresso internacional. Dizem que é deslumbrante.
A romena Lavynia, que ouvia atentamente o diálogo entre os dois, baixou os olhos ao ouvir a francesa dizer, com aparente naturalidade, a palavra "deslumbrante".
Olhou com discrição para suas roupas pretas e exóticas. Acariciou seus cabelos ruivos com mechas aloiradas. Sentia-se bem com seu visual, considerado desleixado por muitos que a julgavam sem conhecê-la intimamente.
Sua infância difícil criara ao longo de sua vida um crescente sentimento de repulsa a ambientes luxuosos. Considerava-os pura hipocrisia, um exemplo emblemático da desigualdade entre as classes sociais. Orgulhava-se de expressar através de seu visual sua indignação contra as injustiças do mundo.
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A equação imperfeita (COMPLETA) #CPOW
Mistero / ThrillerResolva este enigma. #################### (...) Calma! Precisamos de calma. Isso aqui está virando um barril de pólvora. Não vamos chegar a lugar algum deste jeito. Daqui a pouco desenvolveremos teorias tão absurdas que, mesmo após o crime ser de...