I
Thomas retornou ao refeitório com seu rosto contraído. Ainda processava mentalmente sua recente descoberta. Tornou-se o ponto central da atenção dos estudantes quando começou a falar:
― Vocês estão encrencados. Receio que tenho que informá-los de que a chave do quarto de Frank não foi encontrada. O aposento está trancado. Isso me leva a crer que há uma grande probabilidade de que a cena do crime tenha sido... ― fez uma pausa longa, olhou para cada um dos presentes e completou em um tom de voz um pouco mais alto ― modificada.
O silêncio reinava na sala. Thomas retomou a palavra:
― Bem, peço que todos permaneçam aqui enquanto eu prossigo com as diligências. ― ele olhou para o dinamarquês Laudrup e falou: ― Alguma objeção em ser o primeiro a ser interrogado?
― Absolutamente. ― respondeu com sua habitual firmeza na voz.
Enquanto os demais saíam do local, foram avisados pelo ex-policial:
― Mantenham-se no refeitório. À medida que cada depoimento terminar, eu pedirei que o próximo seja chamado.
Thomas entrou na sala de leitura e indicou uma cadeira para que Laudrup se acomodasse. O ex-policial, que segurava o passaporte do dinamarquês, fitou por um instante o jovem alto, loiro, olhos azuis e barba em estilo viking sentado à sua frente. Possuía uma beleza rústica. Passava a imagem de uma pessoa firme e ponderada. Começou a interrogá-lo:
― Laudrup Rasmusen. É esse seu nome, não?
― Sim, nasci na Dinamarca, em Copenhague.
― Gosta de morar lá? Dizem que é bem frio.
― Realmente, os países nórdicos possuem invernos bastante rigorosos. Talvez, por esta razão, eu goste tanto de viajar pelo mundo.
― Viajar pelo mundo, meu jovem? Interessante. Conhece muitos lugares diferentes?
― Sim. Já estive na França, Inglaterra e Alemanha, Hungria...
O ex-policial o interrompeu:
― E em Sofia? Conhecia a capital da Bulgária?
― Infelizmente não. Parece-me uma bela cidade.
Thomas fitou o dinamarquês e perguntou a ele:
― Como soube da sua convocação para o Equation Awards?
― Recebi um telegrama há alguns dias. ― respondeu ele esboçando um leve sorriso de contentamento.
― Não estava... viajando pelo mundo quando o telegrama foi entregue?
― Felizmente, não ― sorriu o dinamarquês. ― Caso contrário, perderia uma oportunidade única. Estudo em uma universidade em Londres.
― Rapaz de sorte! Trouxe o telegrama?
― Sim. Mas não está comigo agora. Guardei-o no meu quarto.
― O que achou do professor Frank? Já tinha ouvido falar dele?
― Quem nunca ouviu falar dele? Ele é venerado por estudantes de matemática Europa afora. Apesar de sua fama de ser autoritário e austero.
― O cavalheiro compartilha da opinião alheia a respeito do comportamento de Frank? ― Thomas o encarou.
― Honestamente não. Acredito que seja uma estratégia utilizada por alguns professores com a intenção de impor limites aos estudantes.
― Não deixa de ter razão. ― disse o ex-policial. ― A que horas foi dormir ontem à noite?
― Voltei para o meu quarto logo após o jantar. Desejava descansar para a prova que ocorreria hoje de manhã. Dormi durante a noite toda. Infelizmente, pela manhã...
A voz de Laudrup soava pesarosa.
Thomas interrompeu-o:
―Ouviu algo enquanto dormia?
― Não. De qualquer modo, tenho sono bastante pesado.
― O que pensa a respeito da folha de papel encontrada na cena do crime?
― Bem... Suponho que ela esteja relacionada à intenção de Frank alterar as questões da prova do concurso.
Os olhos de Thomas foram tomados por um brilho incipiente.
― O cavalheiro poderia explicar mais claramente?
― Frank pretendia alterar a pontuação das questões da prova. Parecia incomodado com alguma coisa. Uma das questões valeria oitenta porcento da prova.
― Na folha de papel estava escrito: "Explique como é possível dois ser igual a um." ― disse Thomas, que
depois completou com um sorriso no canto da boca. ― Bem, então ele parecia desejar que não houvesse
vencedor no concurso.Laudrup assentiu com a cabeça. Thomas prosseguiu:
― Já conhecia algum dos participantes?
― Nenhum deles. ― depois de uma ligeira pausa, continuou: ― Entretanto, tive um encontro rápido e casual com Lavynia, a jovem romena, na estação de trem em Bucareste.
O ex-policial ergueu as sobrancelhas e perguntou:
― O que fazia na Romênia, meu jovem?
― Mais um roteiro das minhas viagens pela Europa. ― disse calmamente.
― Compreendo. ― Thomas o encarou por um instante enquanto indagava: ― Como você me definiria esta jovem? Lavynia é o nome dela, não é?
― A primeira impressão que eu tive dela foi a de uma jovem arredia e esquisita, principalmente por causa
da sua aparência gótica. Usava roupas pretas e seu cabelo ruivo tinha mechas louras na ponta.― Lembra-se se ela mencionou algo sobre o Equation Awards?
― Não. Somente disse que vinha para Sofia. Mas não nos estendemos muito sobre o assunto. O trem logo chegou e nos separamos dentro do vagão. A jovem parecia cansada. Não quis incomodá-la.
― Você me parece um bom rapaz. ― comentou Thomas. ― Uma última pergunta. Algum palpite pessoal sobre quem possa ter assassinado o professor?
― Seria leviano de minha parte acusar alguém sem prévio conhecimento dos fatos. Mas estou mais inclinado a acreditar que isso foi trabalho de um homem. Estes extintores de incêndio me parecem muito pesados para que uma mulher tenha força suficiente para golpear fatalmente um homem.
― Concordo com você. Mas levemos também em consideração que o crime foi cometido por alguém que sentia muita raiva pelo professor. E a raiva pode, sem muitas dificuldades, alimentar forças inimagináveis na pessoa que a sente, independentemente de ser um homem ou uma mulher.
Thomas permaneceu alguns instantes observando o dinamarquês. Por fim, disse:
― Por ora é suficiente. Quando voltar ao refeitório, peça para que a senhorita Krystyna se dirija até esta sala, por favor.
Laudrup despediu-se polidamente e deixou a sala de leitura. Thomas coçou seu queixo, pensativo.
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Vincento Hughes.
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A equação imperfeita (COMPLETA) #CPOW
Mystery / ThrillerResolva este enigma. #################### (...) Calma! Precisamos de calma. Isso aqui está virando um barril de pólvora. Não vamos chegar a lugar algum deste jeito. Daqui a pouco desenvolveremos teorias tão absurdas que, mesmo após o crime ser de...