Capítulo 6 - Laudrup Rasmusen (Parte 1/2)

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I

Thomas retornou ao refeitório com seu rosto contraído. Ainda processava mentalmente sua recente descoberta. Tornou-se o ponto central da atenção dos estudantes quando começou a falar:

― Vocês estão encrencados. Receio que tenho que informá-los de que a chave do quarto de Frank não foi encontrada. O aposento está trancado. Isso me leva a crer que há uma grande probabilidade de que a cena do crime tenha sido... ― fez uma pausa longa, olhou para cada um dos presentes e completou em um tom de voz um pouco mais alto ― modificada.

O silêncio reinava na sala. Thomas retomou a palavra:

― Bem, peço que todos permaneçam aqui enquanto eu prossigo com as diligências. ― ele olhou para o dinamarquês Laudrup e falou: ― Alguma objeção em ser o primeiro a ser interrogado?

― Absolutamente. ― respondeu com sua habitual firmeza na voz.

Enquanto os demais saíam do local, foram avisados pelo ex-policial:

― Mantenham-se no refeitório. À medida que cada depoimento terminar, eu pedirei que o próximo seja chamado.

Thomas entrou na sala de leitura e indicou uma cadeira para que Laudrup se acomodasse. O ex-policial, que segurava o passaporte do dinamarquês, fitou por um instante o jovem alto, loiro, olhos azuis e barba em estilo viking sentado à sua frente. Possuía uma beleza rústica. Passava a imagem de uma pessoa firme e ponderada. Começou a interrogá-lo:

― Laudrup Rasmusen. É esse seu nome, não?

― Sim, nasci na Dinamarca, em Copenhague.

― Gosta de morar lá? Dizem que é bem frio.

― Realmente, os países nórdicos possuem invernos bastante rigorosos. Talvez, por esta razão, eu goste tanto de viajar pelo mundo.

― Viajar pelo mundo, meu jovem? Interessante. Conhece muitos lugares diferentes?

― Sim. Já estive na França, Inglaterra e Alemanha, Hungria...

O ex-policial o interrompeu:

― E em Sofia? Conhecia a capital da Bulgária?

― Infelizmente não. Parece-me uma bela cidade.

Thomas fitou o dinamarquês e perguntou a ele:

― Como soube da sua convocação para o Equation Awards?

― Recebi um telegrama há alguns dias. ― respondeu ele esboçando um leve sorriso de contentamento.

― Não estava... viajando pelo mundo quando o telegrama foi entregue?

― Felizmente, não ― sorriu o dinamarquês. ― Caso contrário, perderia uma oportunidade única. Estudo em uma universidade em Londres.

― Rapaz de sorte! Trouxe o telegrama?

― Sim. Mas não está comigo agora. Guardei-o no meu quarto.

― O que achou do professor Frank? Já tinha ouvido falar dele?

― Quem nunca ouviu falar dele? Ele é venerado por estudantes de matemática Europa afora. Apesar de sua fama de ser autoritário e austero.

― O cavalheiro compartilha da opinião alheia a respeito do comportamento de Frank? ― Thomas o encarou.

― Honestamente não. Acredito que seja uma estratégia utilizada por alguns professores com a intenção de impor limites aos estudantes.

― Não deixa de ter razão. ― disse o ex-policial. ― A que horas foi dormir ontem à noite?

― Voltei para o meu quarto logo após o jantar. Desejava descansar para a prova que ocorreria hoje de manhã. Dormi durante a noite toda. Infelizmente, pela manhã...

A voz de Laudrup soava pesarosa.

Thomas interrompeu-o:

―Ouviu algo enquanto dormia?

― Não. De qualquer modo, tenho sono bastante pesado.

― O que pensa a respeito da folha de papel encontrada na cena do crime?

― Bem... Suponho que ela esteja relacionada à intenção de Frank alterar as questões da prova do concurso.

Os olhos de Thomas foram tomados por um brilho incipiente.

― O cavalheiro poderia explicar mais claramente?

― Frank pretendia alterar a pontuação das questões da prova. Parecia incomodado com alguma coisa. Uma das questões valeria oitenta porcento da prova.

― Na folha de papel estava escrito: "Explique como é possível dois ser igual a um." ― disse Thomas, que
depois completou com um sorriso no canto da boca. ― Bem, então ele parecia desejar que não houvesse
vencedor no concurso.

Laudrup assentiu com a cabeça. Thomas prosseguiu:

― Já conhecia algum dos participantes?

― Nenhum deles. ― depois de uma ligeira pausa, continuou: ― Entretanto, tive um encontro rápido e casual com Lavynia, a jovem romena, na estação de trem em Bucareste.

O ex-policial ergueu as sobrancelhas e perguntou:

― O que fazia na Romênia, meu jovem?

― Mais um roteiro das minhas viagens pela Europa. ― disse calmamente.

― Compreendo. ― Thomas o encarou por um instante enquanto indagava: ― Como você me definiria esta jovem? Lavynia é o nome dela, não é?

― A primeira impressão que eu tive dela foi a de uma jovem arredia e esquisita, principalmente por causa
da sua aparência gótica. Usava roupas pretas e seu cabelo ruivo tinha mechas louras na ponta.

― Lembra-se se ela mencionou algo sobre o Equation Awards?

― Não. Somente disse que vinha para Sofia. Mas não nos estendemos muito sobre o assunto. O trem logo chegou e nos separamos dentro do vagão. A jovem parecia cansada. Não quis incomodá-la.

― Você me parece um bom rapaz. ― comentou Thomas. ― Uma última pergunta. Algum palpite pessoal sobre quem possa ter assassinado o professor?

― Seria leviano de minha parte acusar alguém sem prévio conhecimento dos fatos. Mas estou mais inclinado a acreditar que isso foi trabalho de um homem. Estes extintores de incêndio me parecem muito pesados para que uma mulher tenha força suficiente para golpear fatalmente um homem.

― Concordo com você. Mas levemos também em consideração que o crime foi cometido por alguém que sentia muita raiva pelo professor. E a raiva pode, sem muitas dificuldades, alimentar forças inimagináveis na pessoa que a sente, independentemente de ser um homem ou uma mulher.

Thomas permaneceu alguns instantes observando o dinamarquês. Por fim, disse:

― Por ora é suficiente. Quando voltar ao refeitório, peça para que a senhorita Krystyna se dirija até esta sala, por favor.

Laudrup despediu-se polidamente e deixou a sala de leitura. Thomas coçou seu queixo, pensativo.

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Obrigado,
Vincento Hughes.

A equação imperfeita (COMPLETA) #CPOWOnde histórias criam vida. Descubra agora