Capítulo 3 - O jantar de confraternização (Parte2/2)

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IV

Krystyna retornou ao refeitório após terminar seu banho. Encontrou Lubinka vigiando as panelas.

― Ainda bem que você chegou logo. Não suporto este cheiro de repolho. ― disse a russa fazendo uma careta.

― Precisávamos preparar um cardápio para agradar a todos. Poloneses e búlgaros, por exemplo, adoram repolhos.

― Búlgaros? Se eu soubesse disso... Aquele búlgaro, o Penev, por que perguntar aquilo para o professor?

― Aquilo o quê? ― Krystyna fez uma pausa. ― Ah! Sobre alguém ser assassinado aqui? Você não o levou a sério, não é?

Lubinka ia responder quando Laudrup e Penev abriram a porta do refeitório. Conversavam animadamente.

― Boa noite, garotas. Hum! Pelo jeito o rango está quase pronto. ― Penev gracejou. ― Krystyna, a cozinheira do grupo. Não foi isso que o professor falou na palestra? E a Lubinka? É uma boa aluna?

A russa ignorou. Laudrup olhou ao redor do refeitório e comentou com sua firmeza habitual na voz:

― O espaço daqui me surpreendeu. Frank tinha razão sobre a despensa. Vejam quantas frutas. Quando morava com minha mãe, ela dizia que meu falecido pai adorava salada de frutas.

― Também não conheci meu pai. ― consolou Krystyna ― Mamão e maçã são as minhas frutas prediletas.

― Não seria torta de mamão e de maçã? ― brincou Penev.

A húngara deu um sorriso amarelo. Lavynia entrou no refeitório, seguida por Pawel e Joseph.

― Repolhos. Isso é bom ― exclamou o polonês.

Krystyna e Lubinka trocaram sorrisos cúmplices. Joseph também parecia aprovar o jantar com o sorriso nos lábios. Os jovens começaram a se sentar ao redor das mesas redondas.

Yannes abriu a porta do refeitório. Cumprimentou os presentes e olhou ao redor. Todos estavam se acomodando. Uma leve sombra de desapontamento pareceu pairar sobre o pensamento do grego quando ele notou pouca simetria no local. Dirigiu-se até a mesa onde Laudrup, Pawel e Lavynia estavam sentados.

Krystyna olhou para o relógio de parede do refeitório. Eram cinco para as sete da noite. Sentava-se em outra mesa redonda com Lubinka, Joseph e Penev.

― Jolie e Francesca ainda não chegaram. ― a voz da húngara parecia transmitir um leve tom de preocupação.

― O professor Frank também. Será que ele vai se atrasar? O feitiço sempre vira contra o feiticeiro. ― disse Lubinka.

― Relaxem. A noiva sempre é a última a chegar à igreja. ― Penev voltou-se para a russa. ― Não concorda comigo?

― Nem sempre. Às vezes a noiva é abandonada no altar.

― Eu não faria isso com você, Lubinka.

Ela ignorou o comentário do búlgaro. Krystyna observou que Francesca e Jolie abriram a porta.

― A abelha e o papagaio. ― Penev anunciou para todos no refeitório ouvirem.

― As abelhas pousam de flor em flor, contribuindo indiretamente para colorir os jardins. ― Jolie apontou para os seus óculos escuros. Em seguida, acrescentou: ― As raposas acham que são as mais espertas.

Laudrup interveio com firmeza na voz:

― Deixemos as diferenças de lado. Afinal, hoje é um jantar de confraternização.

Dio mio! O jantar pode até ter ser para confraternização. Mas aquele banheiro está mais para resignação. Tão minúsculo e apertado. A água esfriou um pouco no meio do banho. Além disso, as paredes dos corredores são acinzentadas, sem vida. Um ambiente lúgubre, sem dúvida. Estou começando a concordar com o Penev quando ele comparou Bulgaville a um albergue na palestra inaugural daquele professor arrogan...

Francesca não chegou a completar a frase. Parada na entrada do refeitório, a italiana percebera que, naquele exato momento, os demais estudantes convergiam o olhar para uma figura magra de cavanhaque grisalho aproximando-se dela.

Ela empalideceu quando o professor Frank pigarreou e pediu licença para entrar no refeitório. Seu cenho franzido fez com que ela percebesse que, certamente, havia falado demais.

V

Frank sentou-se com Jolie e Francesca na terceira mesa redonda. Sua expressão, para surpresa de todos, parecia serena.

― Meus caros ― sua voz de barítono ecoava pelo refeitório. ― Imagino que muitos de vocês estejam sentindo no íntimo uma ponta de decepção. Reconheço que alguns aspectos das instalações deste prédio não são tão luxuosos como gostariam que fossem. Infelizmente, aconteceram alguns imprevistos durante a construção de
Bulgaville. Mas isso não vem ao caso agora. É hora de brindar. Hora de confraternizar.

Todos levantaram os copos. O jantar transcorria tranquilamente. O humor do professor em nada lembrava a sua habitual austeridade. Em dado momento, Yannes tomou a palavra:

― Gostaria de parabenizar quem preparou o jantar. Está divino. Um manjar dos deuses.

― Concordo plenamente. ― opinou Pawel enquanto se levantava para pegar mais batatas com repolho.

Francesca e Lubinka não pareciam concordar muito.

― E temos salada de frutas de sobremesa. ― anunciou Krystyna com empolgação na voz.

― Que maravilha! Não hesitarei em provar. Acertou na mosca, minha cara. ― Frank comentou amigavelmente.

Jolie observava toda a cena com desconfiança. Algo no seu subconsciente lhe dizia que a aparente tranquilidade do jantar não duraria muito tempo. Seu pressentimento começou a se materializar após uma pergunta aparente inofensiva feita pelo búlgaro, que, até aquele momento, mantivera-se calado.

― Professor Frank. E a prova do concurso amanhã? Guardada a sete chaves em alguma gaveta?

A mudança de expressão do professor valia mais que mil palavras, Mas, assim mesmo, ele chamou a atenção do grupo e respondeu:

― A prova de amanhã ― ele fez uma pausa. ― surpreenderá todos. Mas já que você perguntou, eu permitirei que divida com seus novos colegas sua aguçada curiosidade. Vocês resolverão cinco questões discursivas envolvendo assuntos variados: Probabilidade, geometria, matemática financeira, álgebra e trigonometria. No entanto, vocês se enganam se pensam que todas elas valem a mesma pontuação.

Dio mio!...

― Como eu ia dizendo antes de ser interrompido ― ele evitou que Francesca começasse a tagarelar ―, uma das questões valerá oito pontos. Bem, acho que havia me esquecido de contar a principal mudança na regra do concurso.

Fez outra pausa e encarou cada um dos presentes com uma expressão triunfante no olhar.

― Não bastará para vencer o concurso ser o candidato que obtiver mais pontos na prova de amanhã. Será preciso também atingir nota superior a sete pontos. Creio que todos já entenderam o que eu quero dizer.

― Quem não acertar esta questão específica estará automaticamente eliminado do concurso. ― concluiu Yannes.

― Perfeitamente. E esta questão, particularmente, está guardada em um local ao qual só eu tenho acesso. ― Pigarreou. ― Bem, adorei o nosso jantar. Estejam todos amanhã às oito horas da manhã na sala principal. Sem
atrasos. A sorte está lançada.

Frank levantou-se da cadeira e antes de deixar o refeitório, teceu um último comentário:

― Caso alguém se interesse em retirar alguma dúvida sobre qualquer coisa, estarei à disposição na sala principal até bem mais tarde.

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Obrigado,
Vincento Hughes.

A equação imperfeita (COMPLETA) #CPOWOnde histórias criam vida. Descubra agora