Tinder - T3ddy

Cliente || LXXVII

Ok, talvez eu esteja um pouco acima do fundo do poço, graças a Júlia eu consegui arrumar um emprego e agora tenho um motivo pra acordar pela manhã, passar um batom e sair na rua.

Não era nada demais trabalhava em uma loja de jóias, mas minha chefe era bacana e me tratava como uma filha.

Enquanto a dona Marisa organizava os novos brincos eu olhava o buquê de girassóis que o Pedro tinha me mandado. Depois da briga com o Lucas todo os dias ele manda um pra mim com um pedido de desculpas, não tinha mais lugar no meu apartamento pra colocar tantas flores.

- Dona Marisa? - A chamei.

- Fala Mariazinha. - Toda carinhosa ela respondeu.

- Posso deixar esse aqui hoje? - Disse me referindo ao buquê.

- Eu adoraria, girassóis trazem muita alegria ao ambiente, mas você já deixou o de ontem aqui e o de antes de ontem também. Daqui a pouco não vai ter mais espaço dentro da loja. - Ela diz sorridente.

- Tem razão. Vou ter que levar esse. - Disse desanimada.

- Não sei o que ele fez pra você. Mas pra mandar tantas flores assim ou ele está muito arrependido, ou gosta muito de você. - Ela diz olhando para as outras flores.

- Pode ser. - Disse guardando as flores.

- Tenho a impressão que você não sente o mesmo que ele.

- Não. - Suspiro. - Quer dizer eu gosto dele, mas não como...

- Eu entendo querida. - Ela põe a mão no meu braço.

Eu balanço a cabeça em sinal de positivo e ela sorri, peço licença e vou até o banheiro. Chego lá e retoco minha maquiagem, a única exigência da dona Marisa era que eu estivesse impecavelmente bem arrumada sempre.

Ouço uma voz conversando com ela e volto pra ver quem era, de costas pude ver um homem que olhava alguns brincos, me aproximei deles e encarnei a Maria simpática.

- Posso ajudar? - Perguntei gentilmente.

- Claro. - Ele se virou e então senti meu interior estremecer. - Eu quero comprar algo pra minha... - A sua voz foi sumindo conforme ele me olhava.

- Ele quer um presente pra uma mulher. - Dona Marisa disse.

- Tudo bem. - Disse disfarçando o que estava sentindo. - Tem preferência por algo?

- Não. Só quero uma coisa bonita. - A voz de Lucas vacilava.

- Tudo bem. - Dou uma olhada em alguns brincos. - Do que se trata? Aniversário, alguma data em especial?

- Aniversário. - Ele mal tirava os olhos de mim e aquilo me incomodava, eu não conseguia mais ser tão simpática.

- Entendi. - Eu olhava sem parar as peças como se nunca tivesse as visto, sendo que na verdade eu sabia de cor cada uma ali.

Eu mostrava algumas coisas ao Lucas mas ele não gostava de nada, não quis ser indiscreta mas fiquei me questionando pra quem seria essa jóia, talvez uma nova namorada até por que já faziam mais de 20 dias que brigamos. O fato dele não gostar de nada me fazia ficar mais tempo com ele ali, sendo que minha vontade era que ele fosse embora logo, ali era meu local de trabalho e a presença dele me deixava desconfortável.

- Gostaria de ver um colar. - Ele pede.

- Claro. Por aqui senhor. - Digo indo em direção aos colares.

O telefone toca na parte de trás da loja e dona Marisa vai atender me deixando sozinha com o Lucas.

- Esse aqui é maravilhoso. - Digo mostrando uma chocker com um pingente de ouro.

- É bonito mesmo, mas não sei se a minha mãe vai gostar dessas coleiras. - Ele diz sem graça.

- Mãe? - Minha voz sai como um grito.

- Sim, você achou que era pra quem?

- Não sei. - Senti minhas bochechas queimarem, continuei de cabeça baixa vendo outros colares.

- Engraçado você trabalhar aqui. - Lucas diz olhando todo ambiente. - Era justamente aqui que eu ia comprar nossas alianças. Já tinha até escolhido.

- Lucas por favor aqui é meu ambiente de trabalho, não me faz ser grossa com você. - Peço tentando ser o mais delicada possível.

- Eu entendo, não vim aqui desestabilizar você, nem sabia que você estava trabalhando aqui. Se soubesse nem teria vindo. - Lucas diz com desdém.

- Esse aqui. - Digo mostrando um colar de prata com um pingente de pérola. - Esse é maravilhoso, sua mãe vai adorar.

- Mãe? Um menino bonito como você veio comprar presente pra mãe? - Dona Marisa aparece novamente, me impressiono como até sendo indiscreta ela consegue ser elegante.

- Eu não tenho namorada. - Lucas diz alterando sua voz. - A que eu tinha terminou comigo.

- Que pena. - Dona Marisa lamenta.

- Vai levar esse aqui? - Pergunto cortando o assunto.

- Claro, vou confiar no seu gosto. - Ele olha o preço do colar e faz uma careta. - Não tem desconto?

- Não sou autorizada a dar decontos. - Digo mais ríspida que o normal.

- Ok. - Lucas bufa e tira a carteira do bolso.

Enquanto minha chefe faz o pagamento junto com Lucas eu embrulhava o colar. Pensar que estava ajeitando pra mãe do meu ex namorado me fazia um enorme nó na garganta. Eu estava prestes a chorar quando Lucas veio até mim e pegou a pequena caixa da minha mão.

- Muito obrigada Maria. - Ele olhou fixamente nos meus olhos e sua voz falando meu nome fez meu interior estremecer.

- As ordens. Volte sempre. - Falei o que falava pra todos os clientes.

Antes de sair da loja ele olhou o buquê de girassóis e parou durante alguns segundos o encarando.

- Girassóis eram as flores favoritas da minha ex namorada. - Ele disse.

- São as da Maria também. - Dona Marisa parou ao meu lado e passou a mão nos meus cabelos. - Ela ganha um todos os dias.

- Tenho certeza que deve ser de alguém que gosta muito dela. - Ele disse e finalmente partiu.

Eu sentei em um banquinho que tinha lá dentro e soltei o ar que estava trancado nos meus pulmões, abaixei a cabeça e senti aquele nó na minha garganta desaparecer.

- Viu como ele olhava pra você? - Dona Marisa disse.

- Sim, eu percebi. - Disse ainda de cabeça baixa.

- Me desculpa minha indiscrição, mas vocês se conhecem? - Ela para ao meu lado.

- Sim, eu sou a ex namorada que ele disse. - Eu disse e ela cobriu a boca com as duas mãos.