n i n e | endings

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Enquanto corremos, somos ágeis e habilidosos. A calçada não é muito larga, mas desviar dos outros pedestres é fácil. São lentos, e nós rápidos. Seriamos ainda mais eficientes se estivéssemos correndo separados. Seguro a mão de Astrid com firmeza, não vou deixá-la sozinha.

As estrelas brilham acima de nossas cabeças, neon nos envolve com seu brilho hipnotizante e sensual. Corremos lado a lado, cada passo sincronizado. O toque dela é quente. O vento uiva em nossos ouvidos, fazendo fios de nossos cabelos voar. O frio luta conosco. O zumbido do vento em meus ouvidos é como uma canção, uma musa cantando aos céus.

Astrid e eu paramos de correr, quando o celular dela começa a tocar. Ela fala que é importante.

- Alô?

A pessoa do outro lado da linha grita algo incompreensível. Acho que está em um lugar barulhento.

- Cassie, onde você está? Não consigo ouvir nada! - Astrid olha para mim, seus olhos estão um pouco confusos.

Astrid e eu caminhamos até a entrada duma loja de conveniência, ficando sobre o alpendre. Ficamos apenas a dois passos de distância um do outro.

- Aonde eu estou? - Ela olha para mim novamente. - Estou no meio da rua agora, estamos voltando.

Seu rosto de repente assume uma expressão azeda, estreitando os olhos. Não entendo essa reação dela, como não entendo nada na minha vida.

- Não, Cassie. Não estou com Jaime.

Minha boca fica com um gosto amargo, ao ouvir esse nome. Não conheço ninguém com esse nome, e duvido que eu vá gostar. Parece que esse Jaime, é alguém que passa algum tempo com Astrid. Ele pode ser qualquer coisa na vida dela. Amigo, primo... namorado. O gosto em minha boca fica pior quando penso nessa última palavra.

Astrid ergue a mão, e começa a brincar com o meu rosto. Ela aperta minhas bochechas com os dedos, e não sei se gosto disso ou não.

- Estou com um amigo - Astrid diz, encarando meus olhos.

Amigo. Aperto meus lábios, olhando para o outro lado da rua. Não sei se gosto dessa palavra. Amigo.

- Sim. Sim, estou com Sam. É, Cassie! Saímos juntos hoje - os olhos de Astrid se arregalam por um instante, indignados. - Não é da sua conta com que passo meu tempo! O que você quer?

Não consigo evitar dar um sorriso. Astrid parece fofa, quando está irritada. Ela percebe, e dá um tapinha na minha testa. Os cantos da boca dela ficam encrespados, ameaçando um sorriso. Astrid põe dois dedos sobre os lábios, segurando-os. Os olhos dela alternam entre a mão que segura o celular e meu rosto. Ela não sabe em qual dos dois deve prestar atenção.

- O que? A estação de metrô mais próxima de onde estou, está a dois quilômetros! Como assim você não liga? Cassie? Cassie!

Astrid tira o celular da orelha, e o guarda no bolso. Ela me encara, com olhos inquietos. Seus dedos buscam os meus, entrelaçando-os. Calor e eletricidade.

- Sam, o que acha de irmos a um show? Não é muito longe, e é de graça. Bom, mais ou menos.

Conto a quantidade de sardas no rosto de Astrid, enquanto penso em sua proposta. O caminho até seus olhos é longo. Sempre que os encaro, é como perder o senso de realidade. Me lembro da primeira vez que os vi. Sustentar um olhar direcionado para outra pessoa, me parece algo tão poderoso, elegante até. Poder olhar a pessoa, num gesto tão cheio de intimidade. É como adentrar barreiras, feitas para desmoronarem. Olhos azuis gélidos, às vezes gentis. Algumas vezes, arranca o fôlego.

Estou aquiOnde histórias criam vida. Descubra agora