A bola de couro avermelhado passava de mãos em mãos rapidamente, quicando e sendo arremessada. O jogo de basquete começou há pouco tempo, mas já me sinto perdido.
Não sei mais para qual time torcer, apenas me concentro no objeto mais importante do jogo. Astrid me dá uma cotovelada fraca, esticando o pacote de pipoca debaixo do meu nariz. Dispenso o alimento com a mão, e volto a me concentrar no jogo. Mesmo não entendendo nada do jogo, consigo ver a beleza que atrai olhares. Os jogadores e seus movimentos fluidos, às vezes brutos e atravancados. A expectativa e a emoção de ver a bola atravessando o aro. O furor da comemoração. Torcer se resume a isso para mim.
Tento entender que tipo de táticas ambas as equipes estão usando. É tudo bastante intuitivo. Compreender toda a extensão da quadra, ter que localizar e memorizar a posição de cada companheiro de time. Pensar em todos os tipos de jogadas, as erradas e as certas. Forçar sua mente a processar isso num quarto de segundo.
Entendo o porquê de esse esporte ser tão popular.
– Você parece hipnotizado por esse jogo, Sam – Astrid diz perto do meu ouvido.
Dou um pulo no assento, sentindo minha pele arrepiar-se. Viro-me na direção de Astrid, e a flagro dando um sorriso divertido. As pontas das minhas orelhas esquentam, enquanto comprimo meus lábios. Meus dedos passeiam pelos meus cabelos atrás da orelha, constrangidos.
– Eu só achei legal, só isso – eu falo, tentando evitar contato visual com Astrid.
– Sério? Eu não sou grande fã, mas acho um bom passatempo. É bom sair de casa, de vez em quando.
– É, é legal mesmo – meus olhos se viram, de volta ao jogo.
Uma porção de silêncio se instala entre nós, que abafa o barulho da torcida a nossa volta. A bola quica no chão rapidamente, parando nas mãos do armador. Sob as minhas mãos, está a madeira fria da arquibancada do ginásio. Sinto dedos quentes deslizarem sobre os meus, contrastando. Meus olhos vão para o ponto do toque, e se fixam ali. Os dedos de Astrid puxam os meus, buscando entrelaçá-los. Levanto meus dedos, deixando Astrid fazer o que quer. A cabeça dela encosta no meu ombro, de qualquer jeito.
– O que foi? Algo errado? – pergunto.
Astrid suspira, com os olhos grudados na quadra.
– Nada de errado. Eu só estava me perguntando uma coisa – os dedos dela brincam com os meus, eles deslizam, fazendo movimentos circulares.
– Que tipo de coisa você estava se perguntando?
Sinto a mandíbula dela remexendo, nervosa.
– Você já quis isso? – Astrid aponta a quadra com a cabeça.
– Se eu quis uma quadra de basquete?
– Se você já quis... – ela faz uma pausa – Nada. Deixa pra lá.
O ala vê que não há mais passes a se fazer, olha para o aro, e flexiona os joelhos para o lançamento da bola. Faço meus dedos segurarem os dela agora, gentilmente. Um por um, eles vão se encaixando nos espaços entre os dedos dela. A bola de couro é catapultada das mãos do ala. Meus olhos se fixam nos olhos gélidos de Astrid.
– Se eu quis o quê? Pode me perguntar qualquer coisa, Astrid.
Os lábios dela são umedecidos por sua língua.
– Se você já quis sair de casa, fazer esse tipo de coisa com as outras pessoas. Sair com amigos... alguém especial.
A bola pinga no aro, gira em seu contorno, mas o ponto não é convertido.
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Estou aqui
General FictionTodos esperam ser notados em algum momento. Sam esperava que alguém o notasse. Mas essa tarefa parece impossível, por um único motivo: ele é invisível. Incapaz de se relacionar e conectar a uma pessoa, ele passa seus dias viajando de trem, sem um de...