Não sei exatamente se gosto dos meus sonhos.
A maioria dos que tenho, são desconexos, sem sentido. Fechar os olhos num instante, e acordar em outro. Talvez seja uma opção que eu goste mais. Me sinto perdida em sonhos, sem controle sobre nada. A minha certeza, é que eu odeio pesadelos.
Mas hoje, sonhos ocuparam meu sono.
O infinito do espaço me espera, me encarando do lado de fora da janela. Eu estou encolhida dentro de um módulo de comando, aguardando a reentrada na atmosfera. A pressão dentro da cabine é intensa, me fazendo perder o ar dentro dos meus pulmões. Eu provavelmente vou morrer. Vestida apenas de uma camiseta regata e um short, procuro um traje espacial. A pressão vai me esmagar. Meu módulo parece deslizar lentamente, sendo puxado pelo planeta abaixo. Não há um traje para eu vestir, e o pânico me invade. Eu vou morrer.
Me encolho, tampando meus ouvidos com as mãos. A falta de gravidade me faz flutuar, eu giro e giro sem controle. Eu apenas desejo que tudo aquilo parasse. Acordar na cama, saber que está tudo bem. Mas continuei girando. Sinto a cabine esquentar, tremer. Fecho meus olhos com força, quero ser à prova de fogo.
Na escuridão, escuto a escotilha do módulo ser aberta e fechada. Penso que vou morrer agora. Sinto dedos envolvendo as minhas mãos, cada célula do meu corpo fica atenta. A pessoa baixa as minhas mãos, e abro meus olhos. Olhos cinza, cabelos pretos bagunçados. Atrás dele, vejo o sol pela janela. Quero dizer algo, mas minhas cordas vocais não funcionam. Sam e eu vamos morrer aqui.
Seus olhos se fixam em mim, eles são pura concentração. As mãos dele envolvem meu rosto, seus lábios dizem algo que não consigo escutar. As pontas de seus dedos se incendeiam, o fogo alaranjado se alastra devagar pela extensão de seu braço. A chama é morna em contato com a minha pele. Meus olhos seguem o fogo, enquanto ele desliza pelo pescoço de Sam e mais abaixo. Volto a olhar seus olhos, os lábios dele estão curvados num pequeno sorriso.
Ao invés de me preocupar com as chamas, chego mais perto do corpo de Sam. Suas mãos ainda estão em meu rosto, seus dedos deslizam na parte de trás da minha cabeça. Sam se inclina, e seus lábios encostam nos meus. Sinto que a chamas se espalham, percorrendo todo o meu corpo e o de Sam. É como se eu estivesse beijando um corpo celeste, algo feito de pura energia. Libera calor e radiação. Potente e intenso.
Abro meus olhos. A chama já não é mais laranja, se tornou azul. O toque do fogo é morno, assim como os lábios de Sam. Colo meu corpo no dele, e queimamos.
O módulo de comando onde estamos continua sua reentrada na atmosfera. A pintura cromada do lado de fora, é lambida pela chamas. Tudo queima. Minha pele está incendiada, meus pulmões vão definhando; meus ossos vão se tornando brasas, meu coração continua intacto. Consigo sentir o coração de Sam bater. É uma batida que posso ouvir por toda a eternidade.
Apenas cinzas chegam ao planeta, agora sendo carregadas no ar.
(...)
Eu odeio quando Cassie volta de festas, bêbada, pois eu tenho que bancar a sua babá. Todas as vezes, sem exceção.
Mas hoje não posso exercer esse papel. Mesmo eu estando dormindo em sua casa por tempo indefinido, não posso fazer isso hoje. É segunda-feira, maldita segunda-feira.
- Você não vai mesmo hoje, para a aula? - Pergunto para Cassie.
Ela apenas resmunga em resposta. Seu corpo está estirado na cama, ainda vestindo a calça jeans, e uma camiseta manchada de vômito. Não sei se esse vômito é dela, ou de outra pessoa. Beber realmente não é seu forte. Cassie não vai sair dessa cama tão cedo.
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Estou aqui
General FictionTodos esperam ser notados em algum momento. Sam esperava que alguém o notasse. Mas essa tarefa parece impossível, por um único motivo: ele é invisível. Incapaz de se relacionar e conectar a uma pessoa, ele passa seus dias viajando de trem, sem um de...