Eu fui rejeitado.
Fui rejeitado antes mesmo de poder me declarar para Astrid. Toda esperança que eu pudesse cultivar foi esmagada, pisoteada, e incinerada.
Isso dói.
Eu me reviro na cama, sem conseguir dormir. Meus pulmões se comprimem, e eu espirro com força. Um resfriado. Ótimo, tudo que eu mais queria. Repreendo-me por deixar meu moletom com Astrid. Mesmo sendo rejeitado, a visão de Astrid usando aquela roupa duas vezes maior que ela me fez ter um pouco de empatia.
Tenho que me certificar de matar essa empatia. Deixá-la como a minha esperança.
O que eu fiz de errado, para ela me rejeitar?
Eu me pergunto isso infinitas vezes. Visito cada lembrança que envolve Astrid. Reviso cada conversa, cada encontro. Cada olhar e cada toque entre nós. Todas essas lembranças me torturam. Quero apagá-las todas.
"É claro que continuamos amigos".
Isso deveria me confortar. Saber que Astrid me quer em sua vida, preenchendo seus dias. Quero que ela preencha minha vida também, mas quero mais. Há algo em mim. Eu não sei o que é, mas apenas desejo que Astrid pegue de mim, e faça dela.
Mas agora ela nunca terá isso.
Ela escolheu ficar com o namorado. Astrid sempre o escolherá. Dói saber disso, assim como dói repetir isso em minha mente. Minhas mãos esmurram o travesseiro, buscando afofá-lo, e descontar a frustração. Se eu gritar, talvez Astrid me escute. Ela está na casa ao lado, ela ouviria. Fazê-la saber da minha raiva, minha tristeza. Astrid perceberia que continuo aqui, a eterna lembrança de sua rejeição. Meus olhos transmitiriam ódio, enquanto meu corpo se recusaria a reconhecê-la. Quero rejeitá-la da mesma maneira que ela fez comigo.
Mas tudo o que sinto é dor.
Astrid está na casa ao lado. Meu coração quer vencer cada centímetro que nos separa. O espaço entre nós. Eu sou a minha vontade, e minha vontade é de amá-la. Destruir essa distância que se criou, e sentir o toque de Astrid. Sei que nossa história é um clichê. Mas eu anseio por esse clichê, porque ele dá propósito a minha existência.
Mas esse propósito também me faz sofrer.
(...)
Eu não respondo as mensagens que Astrid me manda.
Peço para minha mãe que, caso alguém procure por mim, diga que eu não estou em casa. Hoje, quero estar morto e enterrado. Eu não saio de casa, pois nada lá fora me interessa. Muito menos as pessoas. Eu me sento em frente ao computador, e faço minhas aulas a distância. Sempre foram chatas e desnecessárias, mas não tenho mais nada de interessante para fazer. Tiro algum tempo para usar a internet livremente, assistir vídeos. Mas a atividade se torna maçante.
Meus olhos passeiam rapidamente na tela do celular, mas não encontram nenhuma mensagem nova de Astrid. Sinto uma pontada de frustração. Eu deveria parar de ansiar por uma conversa com Astrid. Sou apenas um amigo, nada mais. Podemos dividir risadas e algumas lembranças, mas não passaremos disso. Não importa o quanto eu queira mais.
Astrid tem um namorado.
Se eu não fosse quem eu sou, talvez eu soubesse o que isso significa. Poderia ter encontrado uma pessoa com quem eu me identificasse e começaríamos um relacionamento. Cresceríamos, poderíamos ter discussões, também reataríamos. A compreensão mútua prevaleceria. Teria amigos, lembranças duradouras.
Também penso em outro paralelo.
Chegar numa escola nova, dividindo a mesma sala que Astrid. Não iríamos interagir no começo, mas poderíamos nos aproximar. Fazer a lição de casa em conjunto, ter uma troca de olhares constrangedores. Passamos cada vez mais tempo juntos. Seria apenas questão de tempo. Teríamos algum desentendimento, e nos afastaríamos. Com o tempo, percebemos nossos sentimentos. Um beijo seria o selo de nosso futuro.
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Estou aqui
General FictionTodos esperam ser notados em algum momento. Sam esperava que alguém o notasse. Mas essa tarefa parece impossível, por um único motivo: ele é invisível. Incapaz de se relacionar e conectar a uma pessoa, ele passa seus dias viajando de trem, sem um de...