f o u r t e e n | here

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– Ele fez o que? Vocês o quê? – Cassie berrou no meio do refeitório.

Ninguém deu muita atenção para o estardalhaço dela, que já era uma coisa corriqueira. Sua reputação de exagerada era merecida, e Cassie fazia bom uso disso. Seu berro foi o que me faltava para acordar realmente. Eu posso estar fora da cama e de pé, mas isso não quer dizer que estou realmente acordada. Meu corpo ainda ansiava pela maciez e suavidade da cama da minha amiga, mas o repreendi tomando outro gole de café. Bebida que faz maravilhas no começo do meu dia, não me abandone jamais.

– Eu e Jaime terminamos. Bom, ele terminou comigo para falar a verdade.

– Motivos?

– Apenas não estávamos na mesma pagina, Cassie. Tudo terminou bem, sem mágoas – respondo apoiando minha cabeça no meu punho fechado.

As narinas de Cassie se expandiram, exasperados. Ela se levanta, anda rapidamente em minha direção, e me aperta num abraço. O ar me escapa, e começo a me debater.

– Cassie... – falo, enquanto busco ar.

– Quieta! "Sem mágoas". Não existe isso. Um de vocês deve estar abalado, então estou confortando quem está mais perto – ela diz, me soltando. Cassie me empurra para o lado, e se senta.

– Então quer dizer que se Jaime estivesse aqui e não eu, você o abraçaria também? – pergunto retomando o ar que Cassie expulsou dos meus pulmões. Minhas costelas doem.

Minha amiga dá um meio sorriso.

– Apesar de vocês dois terem terminado, ele ainda continua um gato. Você sabe disso. Não ia deixar a chance de sentir o corpo e o calor de Jaime Walker passar em branco.

Dou um belisco no braço de Cassie, que guincha chorosamente.

Seguro o copo de café entre as mãos, e encaro o liquido preto. Sei que ela está brincando, mas o que ela disse sobre um de nós estar abalado, pode estar certo. Eu me sinto mal por ser a causa do nosso término. Não sei se posso culpar as circunstâncias que me cercam, ou se posso culpar qualquer outra coisa. Minha cabeça ziguezagueia entre pensamentos, é difícil me concentrar numa só coisa. O único ponto fixo é o término, e tudo que ele implica no meu futuro.

– E você já falou com ele? – Cassie pergunta sobriamente.

– Ele quem?

– Você sabe. Sam não vai estar sempre te observando da janela, o que é estranhamente fofo e assustador ao mesmo tempo. Mas não sei o que me assusta mais. Ele observando, ou você observando de volta. Se ele aparece, você esquece o mundo, quase não pisca – dou uma olhadela inquisitiva para Cassie, ela está exagerando de novo. – Tudo o que estou dizendo, é que vocês dois tem que se resolver logo. Minha janela não é um deque de observação.

Dou uma risada curta. Sei que isso é verdade. Se Sam aparece na janela, meus olhos logo o acham e se ancoram em seu olhar. Mas são momentos rápidos, momentos em que tento transmitir tudo o que está em minha alma para a dele. Eu vejo o espaço entre nós, e quero vencê-lo. Mas Sam não abre brechas para eu avançar.

– Eu vou falar com ele, um dia.

Cassie bufa, desdenhosa.

– Um dia, eu vou lá falar com ele eu mesma. Então se apresse! – ela exclama, rindo.

Levanto uma sobrancelha para ela, mas não dou mais corda para essa conversa. Puxo as mangas do moletom de Sam, deslizando meus dedos por sobre os fios quentes. Não consigo me desfazer dessa roupa, assim como não consegui me desfazer dos meus sentimentos por ele. O cheiro de chuva de seu dono permanece, e eu me conforto nele.

Estou aquiOnde histórias criam vida. Descubra agora