t w e n t y | stay

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Eu odeio essa sensação.

A sensação de que quanto mais eu avanço, mais eu sinto que algo vai me derrubar no final. É algo que se arrasta dentro de mim, fazendo-me ficar paranóica. Essa sensação está em mim, se movendo morosamente. Como se esperasse, como se protegesse algo. A sensação me encara, desafiando-me a ver o que ela guarda. Tenho medo do que posso ver.

Meus dedos deslizam no ar noturno, enquanto meu corpo descansa sobre a cama. Minha mão estendida para o cosmos tenta alcançar uma solução invisível. O corpo de Sam está aqui ao meu lado, e sinto-me segura aqui. Mas é assustador demais olhar para dentro de mim mesma. Assim como é assustador olhar para fora da segurança que é estar com Sam.

Lá fora, meus medos também aguardam. Todos atentos em sua eterna vigília. Como se esperassem o toque de uma corneta para agir. Sufocar-me em minha própria pele, soterrar-me na minha tristeza e desespero.

Afasto-me do cosmos, e as pontas dos meus dedos tocam a pele de um universo. Em seu sono, Sam incorpora a serenidade e imutabilidade. Encosto meu ouvido sobre seu peito, e escuto. O som do centro desse universo. Pulsante, à primeira vista calmo, mas se eu prestar atenção, consigo ouvir o rugido do que mantém ele vivo.

Sinto que ele também me mantém viva.

Pergunto-me se isso é errado.

Meu lado racional me diz que não posso viver apenas em função de Sam. Que posso achar a minha felicidade dentro de mim.

Meu lado irracional grita em meu ouvido que já não pertenço apenas a mim mesma. Grita que a cada segundo que se passa, universos e dimensões antes longínquas, se unem e se expandem. Não há mais possibilidades de um estar sem o outro.

Não há mais possibilidades de um ver a existência sem os olhos do outro.

(...)

O cheiro de chuva é a primeira coisa que sinto.

A luz agride meus olhos, e meus músculos reclamam da súbita movimentação. Pisco algumas vezes, vendo um braço pálido sob minha cabeça. Meu olhar desce, e vejo um braço com mais cor enlaçar minha cintura.

Devagar, viro-me. Meus olhos encontram o rosto de Sam, que reside em seu sono. Seu peito ressona baixinho. Volto a fechar meus olhos, e permaneço assim por alguns segundos. Meus ouvidos apreciam a melodia da manhã.

Apoio a mão sobre a cama, dando um pequeno impulso, conseguindo me sentar.

– Fique...

Viro-me em sua direção, e ainda encontro Sam envolvido pelo sono. Meus lábios puxam para cima, insinuando-se num sorriso.

Acho meu celular, e vejo as horas. Ainda não é tarde, mas também não é tão cedo. Sinto meu interior comprimir-se por deixar Sam. Ponho minhas roupas sobre meu corpo, e tento sair do quarto o mais quietamente possível. Meu pé aterrissa na escada, e causa um rangido. Minhas pernas tentam descer o mais rápido que podem, e o som escandaloso da escada me acompanha.

Discrição não é o meu forte.

Estou quase chegando à porta, quando escuto:

– Astrid, por favor, venha aqui.

Giro meu corpo em direção a voz, e encontro a mãe de Sam aguardando-me no corredor que leva a sala. Meus lábios se comprimem, e aceno positivamente para ela. Sigo-a, enquanto minha mente fervilha, pensando no que ela pode estar querendo falar comigo.

Ela se senta em sua poltrona, esperando que eu ache um lugar para me acomodar. Quando termino de me localizar, Lauren pega as pontas de seus cabelos, enrolando-as umas nas outras. Seus olhos cinza vão de um lado ao outro, como se estivesse escolhendo o assunto de nossa conversa no ar. Finalmente, eles param em mim.

Estou aquiOnde histórias criam vida. Descubra agora