Capitulo 6 - Fique comigo

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Los Angeles
UCLA MEDICAL CENTER- UTI
06 de Dezembro, 3:09am

Acordei um pouco confusa, não sabia direito onde estava e como havia parado naquele lugar. Mas quando encontrei o monitor, que mostrava os sinais vitais dos pacientes da UTI, lembrei exatamente onde estava.
Esfreguei os olhos como uma criança, depois pisquei varias vezes, até que minha visão se acostumasse com o escuro.
Jungkook estava com os batimentos baixos, muito baixos, e quando percebi isso pulei da cama, pegando meu jaleco que estava pendurado na escada do beliche onde dormia, e sai correndo em direção ao seu box ao mesmo tempo que vestia o uniforme.

O salão estava silencioso, e ninguém parecia perceber o que estava acontecendo. Ou só não estavam preocupados mais.
A verdade é que todo mundo já esperava por isso, mas eu não ia desistir sem tentar. E assim que cheguei em frente ao box, e vi Jungkook, meu coração afundou no meu peito.
Uma ruga surgiu em minha sobrancelha assim que vi que ele respirava mais pausadamente, enquanto sua mãe segurava a sua mão com pesar.

-Você não ir embora?- perguntou ela, assim que me viu parada, encarando seu filho.

Balancei a cabeça negando, depois me aproximei do garoto com cuidado. Sua pele já não tinha a mesma cor, e estava fria de mais. Me apressei em cobri-lo com mais dois cobertores, depois conferi todas as drogas que ele estava recebendo. Ao que tudo indicava aquelas eram as ultimas horas do garoto.

-Onde esta seu marido?- perguntei pausadamente para que ela pudesse me entender.

Ela me encarou, tentando compreender o que eu dizia.

-Estar resolvendo problemas burocráticos.- disse ela com dificuldade, antes que eu pudesse balançar a cabeça demonstrando que tinha entendido.

Parei ao seu lado, depois acariciei seu ombro quando juntas encaramos o garoto em seu estagio terminal. Me doía pensar daquele jeito, mas não poderia negar que Jungkook estava se entregando.
Fiquei parada ao lado da mulher por mais algum tempo, sem que ninguém aparecesse. Eu teria que pegar o plantão das sete horas da manhã, deveria dormir para me recuperar, mas não conseguia sair dali.
Segui para o outro lado da cama quando a mulher ficou cansada. Segurei a mão livre do garoto, enquanto sua mãe adormecia com a cabeça por cima da cama. A mulher parecia exausta, cansada por causa da mudança de fuso horário, destruída por ver o filho naquele estado e angustiada com o que iria acontecer. Tudo naquela cena era cortar o coração.

Aquele momento me fez lembrar dos meus pais, me perguntar se minha mãe ficaria comigo assim, até meu fim. Não tinha certeza, mas queria acreditar que sim. Ela não era o pior tipo de pessoa, só não sabia lidar com situações como aquela.
Geralmente era meu pai que me levava ao medico sempre que eu adoecia, ele nunca teve problemas com momentos como aquele, porque vivenciou muitas situações ruins enquanto seu pai morria de câncer.
Mas a questão que mexia comigo não tinha nada a ver com serem meus pais ou os do garoto, mas sim com o fato de ter medo de morrer sozinha.

Encarei Jungkook mais uma vez, depois soltei sua mão e me direcionei para mais perto do seu rosto. Ele tinha o nariz mais saliente, e bochechas cheias, mas eram as manchas escuras ao redor dos seus olhos que se destacavam.
E foi então que seu coração começou a bater ainda mais devagar, fazendo com que uma luz vermelha aparecesse no monitor.
O som estridente dos aparelhos estava prestes a alarmar, o que me dava tempo de dizer algumas palavras antes que alguém aparecesse. Me aproximei do garoto, inclinando meu rosto na direção do seu ouvido.

-Eu lamento por não ter te convencido a ficar...- comecei, sentindo meus olhos marejarem ao mesmo tempo que eu tentava ridiculamente me recompor.-...mas respeito a sua decisão. Sinto muito anjo.- então deixei que meus lábios repousassem na sua bochecha, em um beijo triste e casto.

Parecia que era um familiar meu ali, e não sabia explicar porque me sentia tão mal de repente. Queria chorar, me esconder, como se o mundo fosse desabar.
E quando os ruídos ecoaram pela UTI, chamando a atenção de todo mundo, inclusive da mãe do garoto que dormia sobre sua mão, me afastei com uma sensação de derrota.
Me sentia como se não tivesse feito tudo que podia, como se fosse minha culpa o coração do garoto estar parando de bater.

-Ele está parando!- gritou o médico, fazendo com que todo mundo se preparasse.

A mãe do garoto não entendia o que estava acontecendo, quando a afastaram da cama. Parecia perdida, até que viu o monitor e percebeu o obvio, então seus olhos começaram a se inundar de lágrimas. E quando eles vieram na minha direção, foi quase impossível não chorar também.
Naquele momento eu soube que precisava fazer alguma coisa.

-Comecem a massagear!- gritou o médico já preparando as pás para o choque.- Dimitri, prepare a adrenalina.

Imediatamente subi em cima da cama, ficando de joelhos ao lado do corpo de Jungkook, enquanto um dos meus colegas ventilava o tubo que entrava pela sua boca com um ambu. Com as mãos unidas, no centro do peito do asiático, eu comecei os movimentos que substituíam as contrações do seu coração.
Estava nervosa, me sentia com a responsabilidade de fazer ele voltar, e a medida que os segundos passavam meu desespero aumentava ao perceber que ele não estava respondendo como o esperado.
Quebrei uma costela de Jungkook com os movimentos fortes que fazia, mas não liguei, tudo que eu queria era fazer ele voltar.

-Vamos Jungkook, eu não vou desistir de você!- gritei com ele, ganhando a atenção de todos ao meu redor. Suor corria por minha testa, e meu jaleco já grudava nas minhas costas. Entretanto não parei com os movimentos até que o médico mandasse eu me afastar para dar os choques.

Dois choques foram realizados, mas só o terceiro com carga total fez com que os médicos percebessem que não havia mais o que fazer. E mesmo que eu tenha dito que respeitava a vontade do asiático, me vi desesperada ao recomeçar a massagear seu peito na esperança que ele voltasse para mim, mesmo que o médico tenha me ordenado a parar.

-Por favor...não desisti.- sussurrei entre lagrimas, enquanto meu colega, o mesmo que estava ventilando antes, colocava a mão no meu ombro me incentivando a desistir.

Só que eu não queria ouvir o que todos tinham a dizer, simplesmente não conseguia me afastar do garoto, precisava fazer ele voltar. Lagrimas corriam pelo meu rosto, me fazendo perder completamente o profissionalismo.
Eu nunca tinha deixado meu emocional me atrapalhar, e era nítido que não havia mais o que fazer, mas mesmo assim continuei massageando, enquanto todos encaravam o chão já desacreditados.

-Por favor... fiquecomigo.- sussurrei com um soluço assim que parei meus movimentos, percebendoque não importava o quanto eu quisesse trazê-lo de volta, ele não voltaria.    

2 - Salve meWhere stories live. Discover now