Capítulo 47

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Assim que cheguei demorei um pouco para entrar, mas entrei de cabeça erguida, já fazia algum tempo que eu não via aquela casa, os moveis, meu quarto e tudo mais naquele lugar; entrei um pouco ressentida no meu quarto que estava da mesma forma que o deixei, entrei e fui em direção ao tapete no meio do quarto, ajoelhei ao lado dele e o empurrei para longe, em baixo dele estava escondido à mancha de sangue enorme que uma vez já escorreu de minhas veias até se aglomerar em um só lugar, eu poderia muito bem mover vários moveis daquele quarto que escondiam meu sangue e todas as coisas pela qual passei; mas aquela mancha embaixo do tapete foi a mais profunda de todas e a ultima que fiz, ao tocar aquele pedaço foi como se eu ainda pudesse sentir o sangue que saiu de minhas veias para a madeira no chão do meu quarto, assim que fechei os olhos começaram a escorrer lagrimas em meu rosto, por mais que tentasse era mais forte do que eu então não conseguia de forma alguma esconde-las, sentia facilmente elas escorrendo e atingindo a madeira até o meu sangue seco, novamente outra parte do meu corpo fazia parte do chão daquele quarto, aquelas madeiras possuíam mais DNA meu do que o meu próprio corpo, todas as coisas que passei conseguia relembrara perfeitamente apenas de pisar naquele chão ou simplesmente ver as paredes daquele quarto que sozinho suportou meu sangue, minhas lagrimas e principalmente o meu eterno sofrimento, diferente de mim aquele quarto conseguiu aguentar tudo isso de pé (creio que essa metáfora muitos irão entender), em todos esses anos nenhuma hachura, nenhum piso quebrado, mofo, bolor, nada, não havia nada, somente marcas escondidas que todos temos para manter as aparências, ou seja, nada fora do normal.

Agora eu pergunto e peço franqueza na resposta. Quem não possui cicatrizes? Marcas? Demônios em sua mente? Manchas marcando seu corpo? Pesadelos?...

Todos temos, pois estamos vivos, estar vivo não é seu coração bater, sentir o sangue em suas veias, abrir os olhos, respirar, tudo isso são apenas as condições impostas para viver; cair, ralar o joelho, rir, chorar, se entregar de corpo e alma a algo que te faça realmente feliz, que seja parte de você, brigar, fazer amigos e inimigos, basicamente "sentir" isso sim eu considero estar vivo e viver, são as suas escolhas, ações, pensamentos, desejos, basicamente ser você sem precisar se esconder de todos e o mais importante de si mesmo, por isso vale a pena viver, ter histórias para contar e nunca, eu repito nunca se arrepender de ser quem é, aprender com tudo o que faz, fala, ouve, isso sim é viver.

Enquanto eu ficava ajoelhada sentindo novamente cada momento e os porquês no qual fiz essas cicatrizes no meu corpo, meu irmão chegou sorrateiro, colocou as mãos em meus ombros, sentou-se do meu lado e me abraçou forte como sempre fez em todos os momentos.

Max se não fosse você eu não estaria viva, não teria aguentado chegar nem aos dez anos de idade com todas as coisas que passei, que ouvi e tudo mais, mas principalmente te agradeço meu irmão por cada abraço muito mais muito apertado, cada cafuné, todas as vezes que escutou meus problemas, me desculpe se não consegui retribuir ou estar ao seu lado nos momentos mais importantes de toda a sua vida como a formatura, o casamento, o nascimento da minha linda sobrinha e tudo mais que sei que foi importante e te fez essa pessoa maravilhosa, justa, honesta, amiga que você é hoje meu irmão; sinto muito, mas não sinto por saber que fiz a melhor escolha tanto pra você quanto para Liv, estar longe foi o melhor assim não os envolvi em todo o que fiz, até que decidi começar a escrever este diário neste lugar que facilmente me deixa repugnada e com muitos calafrios somente de lembrar aonde estou e ter que voltar para essa terrível realidade, mas que foi minha escolha e isso não tem mais volta, mas nunca teve.

Assim que Max me acalmou voltei a andar pela casa, ao chegar em frente ao quarto de meus pais, tremendo abri a porta e lá fiquei parada sem reação alguma, somente imaginando meus pais dormindo juntos e principalmente em paz.

O diário de uma assassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora