Capítulo 1 - Chegando ao mundo exterior

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(Muitos anos antes...)

Susan abre a porta da biblioteca apreensiva. O tempo estava acabando.

— Se apresse Del. Seu pai já deve estar chegando e ele estará acompanhado do Mestre.

Delphine fecha seu caderninho repleto de anotações matemáticas e guarda um enorme livro na prateleira logo atrás dela. Apressada, vai ao encontro de sua mãe e as duas deixam o espaço exatamente como ele se encontrava algumas horas antes.

As duas caminham a passos largos, a mãe segurando a mão da filha, subindo as escadas do porão. Assim que chegam a parte superior da casa, Susan ouve a porta se abrir. Seu esposo havia acabado de chegar. E ele estava acompanhado. Susan leva Delphine para o quarto. Já era hora de dormir.

— Hora de descansar. Dorme bem minha filha.

— Por que sempre temos que fugir quando o Mestre está por perto mamãe?

— Ele é um escolhido. Descobriria que o que estou fazendo é errado.

— Por que é errado aprender? Pra mim parece algo bom...

— Só devemos aprender aquilo que nos mandam. Acima disso, não é permitido. Você sabe disso, já conversamos. Não estamos autorizadas a questionar os desígnios celestiais e você sabe disso querida.

— Então por que me deixa?

— Porque é algo da sua natureza. Você é diferente das outras crianças, Del. Às vezes me pergunto... se é errado, por que você nasceu assim? — Susan fica pensativa por um tempo, até que volta de seu devaneio. —Enfim, hora de dormir. Durma bem querida — E despede-se dando um beijo na testa da filha.

************

(Presente)

Delphine serve mais uma taça de vinho. Muitos sãos os convidados à mesa. Sua casa estava recebendo a reunião dos Vassalos, um grupo seleto de homens da Comunidade Prolethean, liderados por seu esposo e Mestre, Peter Westmoreland.

A Comunidade Prolethean era como se fosse um mundo paralelo a tudo. Alguns do meio externo (como chamavam aqueles que não viviam lá) a rotulavam como uma seita de total isolamento. Mas Westmoreland dizia que apesar de rótulos serem importantes para a vida em sociedade, aquele em específico não se aplicava a eles. Todos tinham direito a ir e vir, mas a Comunidade era capaz de suprir qualquer que fosse a necessidade material ou espiritual do indivíduo. Dessa forma, para quê sair e se contaminar com a vaidade e devassidão do meio externo? Além disso, a contaminação e o pecado deveriam ser punidos, sendo assim, não se viam membros da comunidade deixando seu território. Apenas os Vassalos, pois esses eram seres superiores, unicamente capazes de não serem corrompidos pelo pecado. Os Vassalos eram verdadeiros enviados celestiais. Os escolhidos. Sua linhagem deveria ser perpetuada para manutenção e purificação da Comunidade.

Delphine havia se casado com Westmoreland quando tinha 14 anos. Muito tempo antes, ela já estava destinada a ele. Uma vez, em conversa com o pai de Delphine, Westmoreland soube que ela era uma criança de altas habilidades. Nada melhor do que tentar inserir isso à genética do seleto núcleo de Vassalos. Susan nunca foi de acordo com isso. Achava que era muito precoce tomar uma decisão como essas na vida de sua filha. Mas ela não estava presente, quando tudo aconteceu. Em poucos meses, ela partiu, pelos desígnios celestiais. Os do meio externo, diriam que ela morreu de câncer. Assim que Delphine teve sua primeira menstruação, seu casamento foi realizado. Mas as coisas não correram conforme esperado.

Após inúmeras tentativas, Delphine não ficara grávida. E na Comunidade a esterilidade era sinônimo de pecado. Delphine estava marcada pelo mal. Algo nela deveria pagar o preço, afinal o mal a impedia de gerar vida. Westmoreland se incubiu de fazê-la pagar durante os últimos 10 anos. Como a poligamia era permitida da Comunidade, Westmoreland se casou com outra mulher, Angela. Essa sim, deu-lhe três filhos.

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