(...) Delphine ouvia gritos ensurdecedores, contudo estava demasiadamente confusa. Sua vista embaçava dada sua fraqueza e começava a ter alucinações. Via uma multidão agora seguir o sentido contrário ao seu, o que era estranho pois há poucos instantes os mesmos iam ao seu encontro. Percebeu que sua hora havia chegado, pois em meio a tantos rostos que partiam, ela notou um vir em sua direção que mais parecia um anjo. E ela teve certeza que era de um anjo, pois muito se assemelhava à mulher que mais amava, sua Cosima.
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Minutos antes
Cosima caminhava a passos largos. Não corria, uma vez que não queria chamar a atenção e colocar tudo a perder. Supunha que a parte do plano relativa à distração havia funcionado, pois uma grande multidão se mobilizava na direção contrária a sua. Fazia algum tempo que não recebia novos direcionamentos por parte de Paul, contudo isso não importava, não agora. Ela não pararia enquanto não encontrasse Delphine. Quando enfim observou o que parecia ser uma praça ao fundo, não se conteve e quase que involuntariamente acelerou o passo, desviando das pessoas que estavam em estado de alerta e agitadas.
Sentiu as pernas bambearem e um enjoo surgiu quase que instantaneamente com a cena que presenciou. Ao fundo da praça, em um palanque, havia uma mulher acorrentada a um instrumento de madeira. Ela não tinha dúvidas de que era Delphine. A mulher mais doce que já conheceu, que preencheu todos os espaços, até mesmo aqueles dos quais ela não fazia ideia da existência, estava em sofrimento. Seu coração estava sendo dilacerado com o que via. Quanto mais se aproximava, mais detalhes obtinha da situação. Foi percebendo os ferimentos no rosto. Delphine estava praticamente irreconhecível, parecia até mesmo agonizar. Ela se aproximou o quanto pôde do palco. Queria loucamente tirar sua mulher dali. Em contrapartida, sabia que seria arriscado ao plano. Por um momento, seus olhares se cruzaram e soube que Delphine a reconhecera, mas a fraqueza evidente da loira a impedia de dizer qualquer coisa. Sua boca ressecada estava repleta de bolhas, possivelmente causadas pela exposição de sua pele ao Sol. Cosima aguardou mais um pouco até que a praça estivesse vazia. Quando percebeu que era o momento certo, subiu com a maior urgência de sua vida. Ergueu com cuidado Delphine que tinha dificuldade até mesmo de abrir os olhos.
— Meu amor, o que fizeram com você? — as lágrimas afloraram em Cosima. — Agora eu vou te tirar desse inferno. — disse determinada.
O semblante de Delphine era de completo estranhamento, mas, ao mesmo tempo, ela não conseguia reagir ou responder. Por um momento ela achou que estava tendo uma alucinação, mas agora sentia de fato o toque de sua amada.
Cosima se deparou com o primeiro obstáculo do resgate: a corrente que prendia Delphine à berlinda de madeira pelos braços. Tentou com a força dos braços puxá-la, de modo a romper a conexão com o instrumento de madeira, entretanto sua força não era suficiente. Considerou as opções e lembrou que tinha uma arma. Suspendeu a lateral da saia e ficou em posse da pistola. Ela sabia que o barulho chamaria atenção, no entanto ela não tinha alternativas e algo deveria ter acontecido, pois Paul não mais dava sinal de vida.
— Meu amor, eu vou atirar na corrente para quebrá-la. Preciso que me ajude. Onde podemos nos esconder aqui perto que seja seguro? — Delphine, apesar de fraca, murmurou como pôde.
— O armazém. Mais (pausa) a frente.
— Tá. — concordou Cosima.
A morena mirou sua arma no meio da corrente, distante do corpo de Delphine, pois sabia que era inexperiente no assunto. O disparo foi certeiro e rompeu a corrente com precisão. O som redundou naquela praça.
— Sei que está fraca meu amor. Mas preciso que se esforce ao máximo agora. — disse apoiando a namorada em seus ombros. As duas iniciaram uma caminhada que seria mais difícil do que Cosima previu. Delphine estava extremamente fraca. Originalmente, segundo o plano, Cosima caminharia com Delphine até uma das fronteiras para a extração ser executada. Todavia as condições agora eram outras. Paul desaparecera e ela não conseguiria conduzir Delphine para um local tão longe. Dessa forma, a melhor e única opção seria o tal armazém do qual se acercavam.
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Reborn
RomanceA Comunidade Prolethean era como se fosse um mundo paralelo a tudo. Alguns do meio externo (como chamavam aqueles que não viviam lá) a rotulavam como uma seita de total isolamento. A vida de Delphine era basicamente de uma escrava da casa. As mulher...