(...) Paul ouviu atentamente cada palavra. A descrição de Delphine havia sido detalhada. A capacidade de observação dela era aguçada e acima do normal.
— Temos chance. Vou ajudar vocês. Contem comigo.
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Dias antes
— Senhor, o horário da execução se aproxima. — informou Aldous a seu mestre, assim que foi autorizado a adentrar em seus aposentos. Peter dava um nó na gravata preta, de frente ao espelho do quarto, enquanto ouvia o recado.
— Checaram o estado dela? Permanece viva? — seu tom de voz não expressava um mínimo de sensibilidade sequer, ao falar sobre o assunto com o vassalo.
— Permanece sim. Ela é bem resistente senhor. Na verdade é de surpreender a qualquer um. — comentou Aldous.
— Ela pode ser forte, mas não é imortal. Hoje terá sua vida ceifada, conforme os desígnios do Celestial.
— Claro senhor.
— E os outros vassalos? Estão a caminho da cerimônia? — questionou Westmoreland.
— A grande maioria está. Edgard teve um problema e chegará em cima da hora. Parece que o caçula dele sumiu de novo. — explicou Aldous. — Ele juntou alguns homens e foi à procura do garoto. Não devem demorar. — supôs por fim.
— Acho bom. — comentou Peter impaciente. Apanhou o paletó preto absoluto, que estava amparado milimetricamente sobre uma das cadeiras e acompanhou Aldous.
Na saída da residência foi possível de pronto observar uma multidão se deslocando para a praça central, onde ocorreria a execução de Delphine à forca, uma de suas múltiplas condenações. As pessoas saudavam com respeito Westmoreland quando passavam por ele. As mulheres, trajadas com suas vestes usuais, permaneciam de cabeça baixa a maior parte do tempo, pois essa era a principal forma de se demonstrar respeito, encarnando um estado de completa submissão.
Caminharam por pouco tempo até notarem uma mudança no comportamento das pessoas. Aos poucos via-se homens e mulheres se voltando para trás, como se algo estivesse acontecendo. A palavra fogo começou a ser dita e rapidamente se espalhou pela multidão. A fumaça tingiu o céu com volume e velocidade, e o que antes era uma dúvida, passou a ser certeza, um incêndio estava acontecendo. O semblante de Peter se transformou assim que percebeu a veracidade dos fatos. Sua mente fervilhava com pensamentos, mais precisamente suposições.
— Parece que vem da direção do templo. — Aldous sugeriu preocupado, enquanto observava a fumaça se intensificar no céu.
— Eu quero todos em direção ao templo imediatamente! Cessem o fogo e descubram a origem das chamas. — Westmoreland instruía os homens ao seu redor. Partiu então em direção ao incêndio e interrompeu Aldous que fazia o mesmo.
— Você não. Vá checar a prisioneira. Tenho certeza que algo está prestes a acontecer. Isso é coisa dela. Sei disso. Sinto isso. — Aldous assentiu na mesma hora e manteve, portanto, sua rota inicial em direção à praça.
Grande parte da multidão seguia alarmada em direção ao incêndio que se mostrava cada vez mais violento, a medida que as chamas se tornavam mais próximas. Aos poucos já era possível visualizar pessoas correndo com baldes visando apagar o fogo que se alastrava pela estrutura da construção com voracidade. A brigada de incêndio da Comunidade, formada por alguns homens treinados especificamente para a remediação de incêndios, começou a agir rápido. Peter observou a cena com mais clareza, assim que chegou a uma distância segura do templo em chamas.
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Reborn
RomanceA Comunidade Prolethean era como se fosse um mundo paralelo a tudo. Alguns do meio externo (como chamavam aqueles que não viviam lá) a rotulavam como uma seita de total isolamento. A vida de Delphine era basicamente de uma escrava da casa. As mulher...