Renascer

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(...) Ela se dirigiu até o elevador, tentando equilibrar seus batimentos cardíacos e respiração, o que era extremamente difícil. Aquele homem era realmente capaz de desestruturá-la. Parou em frente ao principal quarto daquele andar. Não precisou bater à porta. Ele parecia sentir o cheiro dela.

— Seja bem-vinda minha nobre esposa.

— Pode parecer estranho, mas eu tinha certeza que essa viagem me reservaria surpresas. Quase um pressentimento. — ele disse abrindo espaço para a entrada de Delphine.

"Você nem imagina", pensou ela.

— Até onde sei, existe um trato que diz pra eu ficar bem longe de você. — lembrou Peter mantendo proximidade da loira.

— Sim, existe. Mas eu precisava tirar algumas coisas a limpo e queria ouvir isso da sua boca.

— Sabe que você quebrando o trato, me dá carta branca para reagir. — ele fez questão de frisar, enquanto passava os dedos pelo cabelo dela, fazendo com que o estômago de Delphine embrulhasse. Se distanciou dele num rápido impulso. Ela sabia, contudo, que estava segura, afinal estava em um hotel movimentado e Paul estava à espreita assistindo tudo.

— Eu quero saber o porquê disso tudo. — ela afirmou com veemência.

— Como assim? Do que está falando precisamente? — Westmoreland parecia não entender.

— Você ser assim. Quem te tornou esse monstro? Seu pai? — questionou sem hesitação.

— Todos somos reflexos do meio em que vivemos minha cara. Deveria saber disso. Você não foge a essa regra.

— Eu discordo. Eu sou a prova viva de que somos aquilo que desejamos ser.

— Não, você não é. Você não passa de um erro de percurso Delphine. Uma pedra de tropeço. Um ponto fora da curva que deve ser mitigado. Eu acredito que a Comunidade é um modelo que tem que ser expandido. Esse é meu objetivo na política. O liberalismo tem matado a alma desse país e do resto do planeta. Os valores viraram de ponta cabeça e é preciso força para colocar esse trem de volta aos trilhos.

— Quer dizer que você vai tentar vender essa baboseira de que você é o escolhido, quase uma divindade, para o resto do país?

— É claro que não. A Comunidade é um trabalho de gerações. Uma doutrinação longa. Os proletheans são ingênuos como cães domesticados. Daqueles que você maltrata, mas quando você oferece colo, eles vêm correndo. Traduzindo, são imbecis. Aqui fora, vou ter que mudar um pouco minha metodologia, mas visarei os mesmos resultados.

— Você é um farsante.

— Chame do quiser. Os fins justificam os meios.

— A mim você nunca enganou. A liberdade sempre ameaça tipos como você. Seres pensantes põem em risco o autoritarismo.

— Como você está ousada. Pena eu não poder fazer, nesse exato momento, o que quero fazer com você. Mas na hora certa, você terá o que merece. Não está longe de acontecer.

— Quero saber o que aconteceu com o meu pai. — ela foi objetiva, ignorando a ameaça. Talvez essa não fosse a melhor abordagem, porém decidiu arriscar.

— Teve o mesmo destino que meus filhos e Angela, a morte.

— Algo me diz que tem muito mais além disso. — ela se manteve firme.

— Se quer saber mesmo, fiz com ele o que eu tenho tentado fazer com você a algum tempo. A face de alguém em agonia, ali à beira da morte, é uma das coisas mais impressionantes de se presenciar. Vi nele todos os sentimentos possíveis e um deles o arrependimento.

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