(...) — Acho que terminamos por aqui. — antecipou-se Westmoreland. — Lembre-se do sigilo que alertei no início de nossa conversa. Tenha um bom dia Arthur. — terminou se erguendo do assento. Ele sabia muito bem para onde iria naquele momento.
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Delphine estava com a mochila pronta. Estava sentada na cama, aguardando ansiosa o retorno de Cosima. Nas mãos segurava e observava ternamente uma sequência de três fotos. Em uma delas Cosima e ela faziam caretas, na segunda, ambas estavam muito próximas, com bochechas coladas e um enorme sorriso aberto, ao passo que a última mostrava as duas trocando um beijo romântico. Delphine adorava recordar aquele dia, quando seus problemas aparentemente estavam próximos de ter um fim. O silêncio foi rompido por batidas ruidosas à porta. Delphine praticamente prendeu a respiração e ergueu com cautela as pernas para cima da cama, mantendo-as envolvidas pelos braços. As batidas se repetiram dessa vez com maior potência e foram acompanhadas por uma voz já conhecida:— Abra agora, do contrário, farei aquela mulher que passou a noite aqui abri-la, mas garanto que não será de uma forma gentil. — a primeira ameaça havia chegado, em tom de voz cortante.
Delphine sentiu um temor invadir seu coração. Ponderou algumas alternativas, porém não podia arriscar. Cosima chegaria a qualquer momento e, de fato, ele a abordaria. Se mandasse uma mensagem agora, aí que Cosima tentaria bancar a heroína. Obedeceu ao comando e abriu a porta, entretanto não encarou quem por ela entrava, adiando o encontro de olhares. Westmoreland percorreu cada canto daquele espaço com os olhos que, em seguida, foram direcionados para ela que, acuada, estava mais ao fundo do quarto. Ele fechou a porta e se aproximou mais, a ponto de erguer o queixo da moça com a mão. Delphine sentiu seu estômago revirar, em razão da tamanha repugnância que sentia por aquele homem. Ele afrontou-a, como se estivesse inspecionando-a e seu semblante era um misto de animosidade e desaprovação.
— Achou mesmo que eu não te encontraria querida esposa? — indagou com sarcasmo e mantendo a inspeção criteriosa. Continuou após uma tensa pausa:
— Veja só o que você se tornou, uma típica mulher do mundo exterior. — mencionou tocando com desprezo a roupa que Delphine vestia, em seguida seus cabelos. — Bem, a brincadeira acabou. Pegue apenas aquilo que trouxe da Comunidade, nada de celular ou coisa parecida. O carro está nos esperando lá fora.
Se aproximou do ouvido da moça e ainda murmurou:
— O juízo final começou, querida.
Delphine permaneceu imóvel por um curto espaço de tempo até ter a coragem de encará-lo olho no olho. O ódio estava extravasando as barreiras de sua sanidade.
— Está esperando o quê?! — ele aumentou o tom de voz.
— Aqui as coisas são diferentes Peter. Você não tem poder sobre mim. Eu não vou a lugar algum. Vá embora. — Delphine foi incisiva.
Westmoreland soltou uma risada exasperada e a encarou com escárnio. Delphine estava o desafiando. Ele viu as fotos sobre a cama dela e apanhou uma a uma. A indignação foi evidente e instantânea. Rasgou cada uma das três fotos sem pensar duas vezes.
— Você veio pra cá e se tornou uma meretriz?! É isso mesmo?! — exclamou. — Sabe como isso é encarado pelo Celestial? Vou te ensinar novamente qual é o papel de uma mulher. Vai se lembrar do que é um homem de verdade.
Dessa vez a risada partiu de Delphine, em tom de desafio.
— Lá vocês pregavam um amor que nunca existiu. Só aqui eu fui aprender o que é o amor de verdade. Ela me completou, me fez mais mulher e me fez sentir o que eu nunca havia sentido. Coisa que você nunca fez, nem nunca fará.
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Reborn
RomanceA Comunidade Prolethean era como se fosse um mundo paralelo a tudo. Alguns do meio externo (como chamavam aqueles que não viviam lá) a rotulavam como uma seita de total isolamento. A vida de Delphine era basicamente de uma escrava da casa. As mulher...