(...) Delphine agora não tinha mais dúvidas.
Delphine não conseguiu permanecer olhando aquela cena por muito tempo, não permitindo ser notada. Discretamente, a moça contornou o prédio e entrou por outro acesso, retornando ao alojamento. Muitas coisas passavam por sua cabeça no trajeto. Definitivamente seu sentimento por Cosima era algo mais. Ao ver aquele beijo, sua vontade era de parar aquilo imediatamente, ou simplesmente de desaparecer, mas sua racionalidade falava mais alto. Talvez Shay tivesse razão, Cosima era um ser livre, não havia motivos para cultivar esperanças. Suas naturezas eram diferentes. Elas deveriam ser amigas e nada mais. Cosima não nutria os mesmos sentimentos que ela. Por um lado, isso era bom. Afinal, era o mais sábio a se fazer, já que sua vida era uma bagunça e um risco para aquela com quem tanto se importava.
Cosima não retornou ao alojamento naquele dia e Delphine logo imaginou com quem ela havia passado a noite. Aquela noite foi diferente das outras, pela sensação de vazio.
*************
Algumas semanas se passaram. Tudo era corrido e os dias eram intensos, uma vez que os estudantes estavam repletos de provas e entregas de trabalhos. Cosima passou algumas noites em claro estudando e por vezes fora surpreendida, ao acordar, ainda debulhada nos livros sobre a escrivaninha, por um café quente e algumas anotações em post-it, feitas por Delphine e espalhadas em seus rascunhos de estudos. Essa correria as deixava confortáveis porque no fundo não dava tempo para que elas pensassem em questões mais sentimentais.
Era sexta-feira e Delphine acabara de assistir uma das aulas de Art para uma turma inicial do curso de Matemática. Apesar de a moça ainda ter pendências de coorientação, haviam dois alunos com os quais não tinha se reunido naquela semana, Art solicitou a ela que cancelasse os encontros e a convocou para uma reunião. Delphine chegou antes à sala de seu chefe, que estava resolvendo algumas burocracias até, por fim, chegar ao local.
— Desculpe a demora. Essa semana de provas deixa os alunos enlouquecidos e suplicantes por notas e oportunidades.
— Verdade, eu pude reparar.
— Sarah te chamei aqui porque quero te dar um feedback sobre o seu trabalho como minha assessora.
Delphine ficou um pouco tensa ao saber da pauta da reunião. Tinha muito medo de perder tudo aquilo que estava vivendo. Notando a aparente tensão, Art logo interveio.
— Não tem com o que se preocupar. Quero que você saiba que você tem sido a melhor coisa que poderia ter acontecido nesse departamento. Graças a seu trabalho, consegui captar dois novos projetos porque agora tenho tempo hábil para conduzir outras coisas.
— Nossa. Não tem noção do quanto é bom ouvir isso. — comentou aliviada.
— E quero ouvir de você o que tem achado. Preparada para mais?
— Eu nunca me cansarei de ser agradecida Art. Você me deu a oportunidade da minha vida e estou preparada para o que vier.
— Pois bem, vamos ao que interessa. Eu tenho interesse em publicar a demonstração da Conjectura de Goldbach. Já tenho na verdade uma boa parte do rascunho escrito, no entanto tenho esbarrado em uma forte questão. Se eu te incluir na publicação, chamarei a atenção do conselho da Universidade, pois eles verificarão no artigo que você não tem as credenciais necessárias para o cargo de minha assessora. Preciso que me ajude a resolver esse dilema Sarah.
Participar de um artigo científico seria uma realização para Delphine, porém ela não poderia colocar tudo a perder naquele momento. Seria um risco muito grande, ficaria exposta inclusive para Art, que não tinha conhecimento a respeito da sua verdadeira identidade.
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Reborn
RomanceA Comunidade Prolethean era como se fosse um mundo paralelo a tudo. Alguns do meio externo (como chamavam aqueles que não viviam lá) a rotulavam como uma seita de total isolamento. A vida de Delphine era basicamente de uma escrava da casa. As mulher...