A festa (Parte 2)

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(...) — Quer dizer que você não tem direito a recomeçar? Poderia ter sido mais claro e dito que você não queria recomeçar comigo?! — uma bela mulher indagava com os olhos marejados e dor pungente.

— Elizabeth?!

— O que você está fazendo aqui? — Paul questionou surpreso e, igualmente, desconcertado com a situação.

— A Nora me mandou representando a Parsons, do contrário não teria vindo. Você sabe que não sou de eventos desse estilo, assim como você. O você de antes, pelo menos. — replicou Elizabeth, que estava visivelmente decepcionada. Ela deu as costas para Paul e partiu apressada em direção à saída. Ele, por sua vez, abandonou a bebida em uma mesa e a seguiu em seu encalço.

— Não é da maneira que está pensando. — ele interrompeu a ex-esposa, contendo-a pelo braço, já do lado de fora da mansão. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque, a maquiagem era de um tom nude e discreto, ao passo que o vestido era um preto básico. Paul sempre fora apaixonado pelo seu jeito natural e, ao mesmo tempo, encantador. Ela respirou fundo, ao encará-lo uma vez mais.

— Você mais do que ninguém sabe que eu não queria assinar aquele papel. Assinei porque você quis assim. — iniciou exasperada. — Mesmo depois do divórcio, eu te esperei. Julguei que você precisava de tempo para curar suas feridas, talvez mais tempo do que eu. Mas agora percebi que fui uma tola. — as lágrimas brotaram dos olhos de Elizabeth.

— Não diga isso Beth. Não diga. Você merece alguém melhor do que eu. E isso aqui — apontou em direção a mansão — eu só estou ajudando uma pessoa.

******************

Anos antes

Paul estava sentado em meio a escuridão. Olhava fixo para um ponto, mas não por um motivo especial. Era apenas um ponto avulso no vazio do espaço e no vazio de seu interior. Ouviu batidas ruidosas na porta. Um facho de luz invadiu o local, a medida que alguém cruzava a porta.

— Paul, o médico trouxe notícias. — informou um senhor de cabelos grisalhos, com excesso de cuidado. Paul não emanou nenhum tipo de resposta imediata. Nem ao menos gesticulou demonstrando compreensão acerca do que acabara de ouvir.

— São boas notícias Paul. Realmente boas notícias. — O homem reforçou. Paul se levantou. Esteve sentado durante um tempo do qual havia perdido a conta. Ali era um almoxarifado e as pessoas responsáveis pela limpeza do hospital, já tinham desistido de convencê-lo a sair dali. Aquele senhor, em contrapartida, havia conseguido.

Do lado de fora, após alguns instantes de fotofobia, as olheiras de Paul ganharam destaque, comprovando as incontáveis noites sem sono. A palidez indicava, sobretudo, má alimentação. O senhor o conduziu até a sala de espera do hospital. Lá algumas pessoas conversavam com um médico, quando os dois chegaram.

— Doutor, aqui está ele. — mencionou o homem de cabelos grisalhos.

— Senhor Dierden, trago boas notícias. Sua filha Kira está estável. Nós a retiramos do coma induzido e a resposta dela tem sido excelente. Se seu quadro permanecer estável, vamos transferi-la para o quarto, mais cedo do que o previsto. — os familiares se abraçavam com as notícias, exceto Paul. O médico continuou. — Sua esposa acaba de deixar a U.T.I. Está sendo instalada no quarto 205 e está se recuperando muito bem. — Paul assentiu. — Se me dão licença. Qualquer dúvida estou à disposição — a família assentiu e o médico se retirou em seguida.

— Ela quer te ver. — o homem se voltou novamente para Paul — Ela não entende porque você não foi à U.T.I. nem um dia sequer. Minha filha precisa de você Paul. — Paul parecia travado com as palavras e gestos. Estava completamente perdido. Como se ali fosse apenas uma casca. Ele caminhou em direção ao corredor que levava até os quartos. Seguiu as indicações, bem como sinalizações dispostas nos corredores e, em poucos minutos, estava de frente para a porta do quarto 205. O sentimento que deveria ali existir era o de ansiedade, mas não era, e Paul sentia, por isso. Outros sentimentos haviam ocupado seu coração e o assombravam desde dias atrás: culpa, remorso, arrependimento, dor. Bateu à porta e a abriu lentamente. Elizabeth estava deitada sobre a cama e ligada a inúmeros aparelhos. Abriu os olhos, assim que notou movimentação. Seus olhos encontraram e se fixaram aos de Paul. Ele se aproximou da cama. Pela primeira vez teve noção do estado dos ferimentos de sua esposa. O braço direito dela se encontrava enfaixado com um curativo feito de membrana de celulose e impregnado com prata, em razão das queimaduras. A cabeça também estava enfaixada em razão de uma concussão sofrida pela intensidade da explosão que a jogara a metros de distância do ponto onde se encontrava. Além disso, alguns estilhaços haviam perfurado sua região abdominal. Elizabeth buscou a mão de Paul que repousava sobre o anteparo da cama onde estava.

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