(...) A partir daquele momento, ela começou a se permitir e sentir coisas que nunca havia sentido antes.
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A semana passou rápido. Delphine aos poucos foi pegando o ritmo de trabalho. Com o auxílio de sua colega de quarto, ela foi entendendo o uso do laptop e da internet. Conseguia frequentar as aulas de Art sem maiores problemas, dar conta das correções e projetos e ainda começou a acompanhar algumas aulas como ouvinte de outras disciplinas, inclusive algumas eletivas fora do curso de Matemática, como sociologia.
Já passava das 10 horas de sábado e Cosima estava desacordada na cama ao lado, após chegar de madrugada de uma festa. Delphine havia ouvido os passos. Cosima insistiu para que ela fosse, mas Delphine ainda não se sentia confortável com esse tipo de evento social. Ela se aproximou da cama e então começou a cutucar e chamar Cosima sem muito alarde.
— Ei Cosima. Acorde.
— Uhm... — resmungou por baixo dos cobertores.
— Você disse que iria comigo fazer compras. Já recebi meu adiantamento.
Ela retirou o cobertor de cima do rosto. Estava com a maquiagem borrada e murmurou — Ok, ok. Já estou levantando.
— Você está péssima. — disse Delphine a observando de perto, com sua sinceridade de sempre.
— Uhm...obrigada pela sutileza.
Cosima se levantou e Delphine percebeu que ela dormiu com a roupa que havia saído para a festa. Após uma meia hora no banheiro, Cosima estava pronta, em um vestido básico com tênis estilo All Star. Quando Delphine conheceu Cosima, ela se lembrava que havia ficado impressionada com seu "estilo" totalmente diferente do que costumava ver na Comunidade. Agora, passada uma semana, achava ela, sem dúvida, uma das mulheres mais bonitas da universidade. Seu cabelo era moderno, com dreads muito bem delineados, ora presos por um coque, ora por um rabo de cavalo, sempre com um jeito único. Seus olhos castanhos se destacavam em meio aquele contorno preto que fazia com o lápis de olho. Delphine se surpreendeu, ao se pegar reparando com tanta atenção todos esses detalhes e enrubesceu sozinha.
— Está pronta para repaginar seu visual? — perguntou Cosima ajeitando seus óculos.
— Acho que sim. — respondeu animada Delphine.
Cosima conduziu Delphine até seu carro, que estava no estacionamento próximo aos alojamentos. A loira não entendia muito sobre modelos de carros, mas pôde notar que não era um carro simples.
Delphine observava a cidade com deslumbramento. Haviam construções colossais, uma praia belíssima, pessoas dos mais diferentes tipos. Pensava em como sua mãe teria gostado de presenciar, assistir a tudo aquilo. Será que seu pai sabia que o mundo exterior era daquele jeito? Estaria ele vivo, após aquele trágico incidente na Comunidade? Era melhor apagar tais pensamentos.
A primeira parada foi em uma loja de departamento enorme. Cosima tomou a iniciativa pegando um carrinho para as compras. As duas começaram a caminhar entre os diversos setores. Ela perguntava se Delphine gostava de determinada peça e então colocava no carrinho. Iniciaram com roupas básicas, seguidas de algumas próprias para o trabalho. Delphine notou que Cosima já tinha uma noção de como era seu gosto. Mais discreto. Após vários vestidos, chegaram ao setor de jeans. Delphine tinha começado a se acostumar com o uso de calças, durante essa semana que precisou de utilizar as roupas cedidas pela colega.
— O que acha dessa? — perguntou Cosima mostrando uma calça jeans.
— Está com defeito. — comentou Delphine.
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Reborn
RomanceA Comunidade Prolethean era como se fosse um mundo paralelo a tudo. Alguns do meio externo (como chamavam aqueles que não viviam lá) a rotulavam como uma seita de total isolamento. A vida de Delphine era basicamente de uma escrava da casa. As mulher...