Golpes no escuro (7)

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O grito fez a alma de Haltr gelar, e foi um medo bem diferente do que jamais havia sentido até então. Se virou na direção do som como se não tivesse controle sobre o que fazia e viu um dos homens caído ao chão, um enorme pedaço de osso amarelado se projetava para fora de suas costas, como se houvesse sido enterrado ali. Lentamente Haltr foi olhando para cima até ver a figura negra responsável por aquilo. A princípio pensou por um instante delirante que fosse um dos mineradores todo sujo de fuligem, como era comum ficar após um dia de trabalho. Mas aquela figura era negra de um modo diferente. Comparada a ela os trabalhadores sujos de fuligem dos pés a cabeça estavam bastante visíveis e claros. A escuridão na pele daquele ser era completamente diferente. Era tão negra que ele parecia se fundir a escuridão a volta. Só era possível discerni-lo por causa da luz das lamparinas lhe denotando os contornos. Se parecia humano em forma, exceto por seus olhos. Eram completamente negros também e só era possível perceber sua existência porque o reflexo da luz neles que era mais intenso. Aquele olhar lembrou Haltr de um inseto. Algo completamente desprovido de emoções ou humanidade, governando somente por instintos, como de caçar, comer, matar.

E ainda sim quando o ser falou, sua voz foi bem clara, embora um tanto seca.

-Vocês roubaram a luz de nós. - quando seu queixo se moveu ao falar Haltr percebeu que brotavam de seu pescoço e ao redor da boca diversos espinhos finos e afiados. Aquilo o remeteu novamente a um inseto, como antenas e ferrões. - Agora pretendem nos privar até mesmo da escuridão?

A figura abriu os braços deixando cair uma capa de pele negra que cobria seu corpo e exibindo o peito nu onde haviam pinturas brilhantes do mesmo tipo que haviam nas paredes, e vários colares e pulseiras com pedaços de ossos presos como se fossem joias. A figura parecia ser do sexo masculino, seja lá o que ela fosse. Todos os homens pareciam paralisados com a visão. Foi como se vissem em câmera lenta o ser sacar uma faca de osso presa a coxa.

-Houve um pacto com o líder de vocês. Vocês o quebraram vindo até aqui. Agora é hora de pagar. - dizia a figura negra com a voz seca.

-Agora espere um segundo... - começou Tegthan um tanto sem ímpeto levantando a mão como se quisesse conversar ao invés de fazerem algo perigoso.

Mas não houve tempo, das sombras pularam outras figuras negras portando armas de ossos afiado. Era como se estivesse estado ali o tempo todo, mas ocultas da luz das lamparinas por conta do relevo do local. Eles caíram sobre o grupo como chuva sobre o barro, desfazendo qualquer coesão que pudesse existir entre eles. Homens gritaram e correram sem sequer tentar lutar, somente para terminarem suas vidas em gritos-interrompidos e o gorgolejar de sangue na boca. Alguns tentaram lutar é claro, mas foram poucos. Jorg desferiu golpes com seu facão como se fosse um louco, quase acertando seus companheiros, mas sua selvageria furiosa pareceu fazer vários dos seres recuarem para trás para não serem acertados. Aquilo deu espaço para outros atacarem. Haltr também tentou atacar, procurou a volta por algum alvo fácil e correu atrás de um dos seres que lutava com um homem para o acertar por trás. Mas as figuras negras iam e vinham como se desaparecessem de repente. Aquela pareceu pressentir o ataque e fugiu de volta para escuridão deixando o homem com quem lutava meio ferido, com um corte no braço.

Haltr trincou os dentes se sentindo agoniado. Seu coração estava tomado pelo terror e os inimigos eram esquivos e difíceis de se perceber. Aquilo era como jogar um punhado de areia para o alto e tentar acertar um grão específico antes dele cair no chão. Se sentiu completamente inútil enquanto a luta acontecia a sua volta. Até que viu Tegthan tentando aparar os golpes de um deles com sua espada sem fio.

-Não sei de pacto! Que o negrume te consuma desgraçado eu não sei de nenhum pacto! - dizia parecendo pálido e francamente desesperado enquanto tentava se defender.

Entre a escuridão e a auroraOnde histórias criam vida. Descubra agora