Cabeça Dura (28)

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Haltr sentia a cabeça latejando. Não sabia onde estava ao certo antes de abrir os olhos e por um momento sua cabeça lhe pregou uma peça: a última coisa de que se recordava era da batalha de porto negro, de como caiu e bateu a cabeça após a grande explosão de termalina. Sua cabeça estava doendo do mesmo jeito que naquela ocasião. Quando abriu os olhos ficou totalmente aturdido ao perceber que o ambiente em que estava não lembrava qualquer parte de Porto Negro que conhecesse. Levantou-se depressa, mas sentiu sua cabeça doer ainda mais e perdeu as forças na perna caindo de volta no chão de pedras duras, sentia a cabeça dar voltas.

-Haltr! Haltr!

Uma voz o chamava, mas ele demorou um pouco para localizar a origem. Olhou a volta registrando que estava em uma cela com grades grossas de ferro e paredes de pedra, nas celas ao lado estavam duas pessoas, um homem e uma mulher de peles morenas. Ao ver ele consciente o homem se agarrou as grades cravando os olhos nele.

-Garoto você está bem? Consegue nos entender? Onde está Sieh?!

De repente Haltr começou a reconhecer Esron, o pai de Sieh. Uma avalanche de memórias voltou para ele como um balde d'água sendo jogado sobre sua cabeça, tudo ao mesmo tempo. Haltr gemeu e tentou pensar.

-Sieh... ela... está viva. - disse de modo fraco

Ele não se recordava exatamente de onde ela estava, de como tinha se salvado ou mesmo do que, mas tinha a vaga impressão de que ela estava bem. O alívio de Esron foi palpável, mas ele nem deu chance de Haltr respirar antes de começar a bombardear de perguntas:

-E os outros? Estão todos vivos? Chegou a ver o resto da caravana? Como pegaram você? Tem certeza de que está bem?

Haltr não teve tempo de pensar ou responder, um guarda apareceu e o encarou de modo mal humorado e então saiu dizendo em voz alta para alguém além do campo de visão de Haltr:

-Ele acordou! O prisioneiro que queria está acordado.

Haltr tornou a se levantar, dessa vez sentiu as pernas mais firmes embora tivesse um leve enjoo. Sentiu o gosto de sangue e notou que tinha um corte dentro da boca.

Algumas figuras se aproximaram de sua cela, reconheceu um deles como um inimigo, Cuinte o caçador e feiticeiro. Haltr se lembrou no mesmo instante das sensações terríveis que foi obrigado a sentir por causa do homem, de como foi expulso do próprio corpo por ele. Ao lado do feiticeiro o mesmo guarda de antes.

-Ora ora aí está ele. O garoto tenaz. Você é cheio de surpresas não é mesmo?

Haltr recuou para o fundo da cela, era muito pequena, mesmo se encostando-se à parede alguém poderia o alcançar com o braço se o passasse por entre as barras de ferro. Esron e Ital também recuaram, mas o pai de Sieg gritou em um momento de coragem:

-Deixe o garoto em paz! Ele nem faz parte da nossa caravana! Ele não tem nada a ver conosco!

Cuinte meramente fez um gesto de descaso com a mão, como quem desse um safanão em um inseto irritante que estivesse à sua frente, no mesmo instante o lustsi caiu no chão se contorcendo e gritando, ele colocava a mão em várias partes do corpo, como se estivesse sendo golpeado, muito embora ninguém o tocasse. Haltr se sentiu agoniado ao ver aquilo e gritou.

-Pare! Pare de fazer isso com ele!

Esron parou de gritar e ficou apenas gemendo no chão de sua cela enquanto a esposa tentava o alcançar através das barras de ferro. Cuinte encarou Haltr com um ar quase espirituoso e comentou para os lustsis sem sequer se dignar a olhar na direção deles.

Entre a escuridão e a auroraOnde histórias criam vida. Descubra agora