Um novo horizonte(13)

70 12 75
                                    


Muitos guerreiros caídos já acordaram ouvindo as preces de um sacerdote rezando por sua recuperação. Um cavaleiro nobre ferido em batalha talvez pudesse acordar com as palavras de sua família ao redor da sua cama. Haltr porém, acordou com um sonoro palavrão.

-Merda! - cada silaba vibrou com intensidade.

Quando despertou a primeira coisa que sentiu foi um leve enjoo, abriu os olhos e viu um teto de madeira bem próximo ao seu rosto. Como todo mundo ele teve alguns segundos de confusão, tentando lembrar quem diabos ele era e o que estava fazendo ali. E então a dor o acertou com tudo. Uma hora estava bem e na outra estava consciente de todos os ferimentos, sentia como se seu corpo estivesse um bagaço completo, sem nenhuma salvação.

-Por que me dão sopa para comer?! Eu só posso usar um braço direito! E esse navio balança!

Haltr gemeu e então levantou a cabeça um pouco, viu um Urag furioso todo sujo de sopa, um de seus braços estava enfaixado e em uma tipóia, e ele parecia furioso. Ele estava sentado em uma cama suspensa, que na verdade era apenas um pano estendido entre duas vigas de madeira que davam suporte a estrutura de navio. Tegthan estava na "cama" ao lado, deitado com a perna amarrada de modo a ficar estendida e elevada, ele segurava uma garrafa de bebida na mão.

-Você realmente ainda queria comer um assado depois de sentir todo aquele cheiro de carne queimada? - perguntou o feiticeiro. -Ei, olha só quem acordou - dizia ao ver Haltr dar sinais de vida. - Pensei que tinha morrido.

-Onde estou? - Haltr sentiu então seu rosto doer ao falar e segurou a cabeça, ela começou a latejar.

-O médico disse que você estava todo ferrado, mas o mais grave foram duas batidas na cabeça. Ele disse que duas batidas seguidas na cabeça podem matar um homem.

-Isso não faz sentido - protestou Urag, limpando as roupas com a mão livre, tirando pedacinhos de legume presos - E se a segunda batida for mais fraca que a primeira? E se a primeira batida for com um martelo? Ou um machado?

-E se for um ariete, certo? - dizia Tegthan concordando de um jeito sarcástico - e se a primeira batida for com uma guilhotina? Já pararam para pensar nisso?

-Exatamente! - dizia o escudeiro. Urag não pareceu reparar quando Tegthan suspirou e revirou os olhos.

-Você não devia ter acordado garoto. Esse lugar é pior do que aquela vila no fim do mundo. Não tem nenhum vinho aqui, nenhum! - dizia Tegthan com um ar levemente desesperado.

-Onde estamos? - perguntou Haltr, tentando se levantar.

O processo de se sentar na cama foi complicado. Haltr descobriu que podia sentir dor em vários lugares que nem imaginava. Para conseguir se sentar fez uma procissão de suspiros e gemidos. Percebeu que estava todo enfaixado. Sua cabeça, seu peito, seu ombro, um de seus braços. Mas aqui e ali havia hematomas não cobertos que apresentavam cores que iam muito além do roxo. Sentia a boca seca e a língua pesada, a cabeça latejava loucamente, de tal jeito que fazia Haltr querer morrer para parar de sentir as marteladas na cabeça, ou melhor, a picaretadas.

-Estamos no navio, o navio da concordia. - informou Urag.

Haltr olhou a volta, onde estavam parecia um corredor estreito, de cada lado havia vigas de madeira onde panos grossos era amarrados em duas alturas diferentes, para servir de cama, no meio haviam mesas de madeira que na verdade eram penduradas no teto por alças e balançavam junto com o navio. O lugar estava abarrotado de pessoas, muitas parecendo feridas assim como ele, a maioria deitadas nas camas, outras sentadas no chão, ou comendo nas mesas penduradas.

Entre a escuridão e a auroraOnde histórias criam vida. Descubra agora