Cavaleiro (11)

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Todos desceram ao térreo rapidamente, onde os guardas da vila estavam recebendo suas armas de volta para ajudar a defender o local. Ainda estavam acendendo as lamparinas na sala, mas mesmo no escuro Haltr encarou cada um dos guardas como se quisesse decorar seus rostos. Alguns deles com certeza sabiam sobre os Enks, tinham parte naquilo. Haltr queria ver se qualquer um deles parecia se arrepender de seus atos, ou demonstrar algum medo agora que a situação havia se virado contra eles. O líder dos guardas pareceu perceber aquilo.

-Tá olhando o que garoto? Quer arranjar confusão? Já temos que limpar a bagunça que vocês fizeram então não tenta nada engraçado.

-Bagunça que nós fizemos? Eu ouvi o que o tesoureiro falou! Vocês sabiam dos Enks! Vocês é que são culpados por isso tudo!

-Nós?! Vocês mineradores retardados e aquele maldito feiticeiro resolveram ir lá e atiçar eles! - retrucou o guarda.

-Guarde sua energia para os Enks, esse ai é uma ferinha, quebrou o meu braço, o maldito.

Haltr olhou para o lado e viu o prefeito sentado em uma cadeira, apertava o seu braço quebrado contra o corpo com uma expressão de dor, mas quando o encarou, foi com um sorriso cruel.

-Você não terá chance alguma garoto. Aqueles Enks desgraçados são duros na queda. Eles também são bem mais numerosos do que você pensa. E mais espertos também.

-Silêncio! Se eu ver algum de vocês guardas lutando com alguém que não seja Enk, o perdão será removido e serão considerados inimigos. Agora vão! - ordenou o capitão ao ver a discussão.

Os guardas resmungaram um pouco, como se não estivessem nem um pouco afim de ir lá lutar, mas começaram a sair da casa. O líder da guarda olhou para trás encarando Haltr com uma expressão pouco amigável e então olhou para o prefeito com o mesmo olhar antes de partir.

-Defendam os civis! Todos eles! - ordenou o capitão para os guardas - Vocês irão obedecer ao imediato Stor enquanto a batalha durar! Vão! Mestre de armas, quero que os voluntários sejam protegidos, se organizem em pares com eles! Agora todos os outros, venham comigo! Faremos uma formação! Mantenham-se agrupados, não se separem! Pela concórdia! Somos o escudo do entardecer!!!

Todos os soldados agrupados ali repetiram o grito de guerra reverberante, embora algumas vozes parecessem um tanto incertas e vacilantes. Após o grupo sair restaram apenas um punhado de soldados, entre eles o que parecia ser o mestre de armas.

-Tome aqui, vocês vão acender as lamparinas. - dizia apressado entregando uma lamparina acesa e uma vela apagada a cada um dos voluntários.

-Eu posso lutar! - retrucou Haltr.

-Eu também! - adicionou Urag.

-Sim, e talvez vá ter de fazê-lo. Mas são civis então vão ficar com o trabalho menos perigoso. Nós vamos dar cobertura enquanto vocês acendem as lamparinas. Tome aqui... merda acho que não tem mais armas o suficiente... os guardas pegaram de volta quase tudo.

O homem vasculhou acima de uma mesa e deu uma espada para Haltr. Ele se surpreendeu com o peso dela. Mais pesada do que a espada sem fio de Tegthan, tinha um equilíbrio ruim também, pesando mais na ponta, ao invés de ter o peso bem dividido. Para própria surpresa viu que a arma estava cravejada de joias no punho. Aquela era a espada do prefeito.

-Espero que essa espada lhe traga mais sorte do que eu tive - dizia o prefeito de modo sarcástico. Ele parecia estar estranhamente bem humorado para quem tinha o braço quebrado e a vila atacada, como um homem que encontra o seu fim e ri da ironia dele ao invés de se desesperar. - Você vai precisar de muita para não morrer. E quanto aquela taça... você sabe onde enfiar - dizia dando um sorriso cheio de dor.

Entre a escuridão e a auroraOnde histórias criam vida. Descubra agora