Os quatro críticos(25)

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A cidade efêmera era muito diferente do que Haltr imaginou. Era como se vários construtores tivessem usado o lugar para praticar suas habilidades. O estilo de arquitetura variava muito de uma construção para a outra, era comum ver um templo de mármore com finos arabescos entalhados ao lado uma casa simples de barro e atrás das duas uma torre de pedras. As construções estavam por toda parte formando um labirinto. Não existia nenhuma separação clara entre o deserto e a cidade. Algumas construções pareciam abandonadas e cheias de areia enquanto outras eram bem conservadas. E não havia viva alma. Segundo Sieh a cidade só era usada para ocasiões especiais. Aquilo parecia uma ideia surreal para Haltr.

- Porque usam uma cidade apenas em ocasiões especiais? Porque simplesmente não vivem aqui?

Sieh ainda estava fraca demais para andar então Haltr a ajudava dando apoio. Ela respondeu com um pequeno gemido de dor.

- Não sei Haltr... em volta é tudo deserto, imagino que isso dificulte para muitas pessoas ugh... Viverem aqui ao mesmo tempo.

- Então o que vamos fazer? Não há ninguém para nos ajudar?

Naquele exato momento como se respondendo a pergunta uma figura se revelou quando cruzaram uma esquina. Era um lustsi muito velho, seu rosto era enrugado e a pintura em sua pele parecia quase apagada. O lustsi demonstrou uma leve surpresa ao vê-los ali, mas se recuperou rápido e ao ver o estado deles disse em tom urgente.

- Estão feridos? Venham por aqui, chamarei os outros.

Ele indicou o caminho com um braço muito magro cuja pele flácida balançava. O ancião ajudou Haltr a levar Sieh até o local indicado embora sua ajuda fosse quase simbólica. Ele parecia tão velho e mirrado que devia ser mais leve do que Sieh. Seus olhos eram quase ocultos por bolsas inchadas debaixo dos olhos e seu cenho severo e franzido. Ele não pareceu querer questionar o que um não-lustsi fazia ali. Adentraram em um templo grande e arejado com muitos vasos de plantas e flores dentro dele, o local parecia quase um jardim. Ele fez um sinal para deitarem Sieh sobre uma mesa de pedra que havia perto de uma parede.

Ao lado da mesa havia um grande vaso branco e largo cheio de areia. O ancião apanhou um punhado e jogou no ar. Para a surpresa de Haltr a areia ao invés de cair se tornou um pequeno passarinho que saiu voando para fora do templo.

- Essa é a menina enk né? Imaginei que algum dia isso poderia ocorrer. - Comentou o ancião lustsi.

Ainda com os olhos arregalados pelo que o homem fez com a areia Haltr gaguejou desconfiado.

- V-você é um feiticeiro?

- Não. – Respondeu o ancião, curto e grosso.

- Mas...

- Vá se sentar. Também está ferido. - Ordenou o ancião em um tom de quem não admitia discussão - Os outros vão chegar logo.

Haltr não discutiu e se sentou em um banco de pedra que havia próximo. Realmente estava exausto. Sieh parecia um tanto nervosa na presença do homem, como se fosse alguém que lhe incutia respeito. Com uma voz fraca ela começou a explicar.

- Nós dois...

- Basta. Conserve suas energias. Iremos discutir tudo que for necessário depois. – Esclareceu o ancião com severidade.

Naquele instante mais três lustsis adentraram pelo portal. Todos pareciam ter idade avançada, dois homens e uma mulher. Todos usavam túnicas colorida, os homens usavam turbantes e tatuagens no rosto, um deles usava uma bengala, mas quem mais chamou atenção de Haltr foi à mulher. Um tecido lhe cobria o rosto, exatamente como o que Sieh usava, seus cabelos eram acinzentados embora um ou outro fio negro ainda perdurasse por teimosia. Ela lembrava um pouco Sieh no modo como andava e olhava para eles, um jeito altivo, energético.

Entre a escuridão e a auroraOnde histórias criam vida. Descubra agora