Mergulho(22)

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            Após algumas horas de viagem a caravana lustsi decidiu parar para descansar. Eles tinham todo o equipamento necessário para acamparem onde quer que fosse, lonas e estruturas permitiam que as carroças se tornassem barracas. Acamparam a beira da estrada e cumprimentavam os viajantes que passavam, mas os sorrisos eram tensos e meio travados, os lustsi estavam preocupados com os companheiros de viagem que haviam encontrado.

Haltr também estava preocupado, mas tentava disfarçar. Esperava que o plano de Sieh desse certo. Atravessar o rio sem avisar a ninguém e ir até a cidade efêmera. Se alguém lhe falasse que ele iria fazer isso, não iria acreditar. Porém se perguntava como os lustsi ficariam bem depois que ele e Sieh desaparecessem. Seu maior medo era de que os caçadores suspeitassem e fizessem algo contra o grupo. Sieh não demonstrava nada além de sua irreverencia habitual, mas ele tinha certeza de que sua preocupação era muito maior.

- Haltr? Está dormindo em pé? Vai me passar essa lona ou não vai?

De repente as palavras de Eider o trouxeram de volta a realidade. Ele pareceu mais áspero do que de costume, mas Haltr estava começando a entender que era o modo como o lustsi reagia quando estava muito tenso.

- O que? Ah sim. - Respondeu Haltr desatento.

Haltr entregou a ele a lona e o ajudou a montar uma das barracas. Nos últimos dias havia aprendido tudo sobre como montar as barracas lustsis. Elas eram de lona pesada e resistente que até mesmo a uma chuva forte ou um vendaval não poderiam derrubar. Eram feitas para durar décadas e podiam ser montadas de modos diferentes, para uma estadia prolongada ou breve. Da primeira vez que as viu sendo erguidas Haltr tinha ficado impressionado. Um punhado de materiais parecia se desdobrar e se tornar uma barraca enorme, e todas juntas se tornavam um grande pavilhão colorido. O interior podia ficar tão bem decorado quanto o de uma casa comum, até mesmo com moveis, mesas e cadeiras que eram montadas na hora.

Os lustsi haviam elevado o ato de acampar a uma espécie de arte, suas barracas e mobília se desencaixavam na hora levantar acampamento e todas as peças se juntavam como um compacto quebra cabeça que ocupava pouco espaço. Na verdade, montar era muito fácil, o acampamento podia ser erguido em poucos minutos uma vez que se aprendia a fazê-lo, mas desmontar e guardar tudo do jeito certo para que coubessem dentro dos compartimentos na lateral das carroças era complicado, e Haltr ainda tinha dificuldades com essa parte.

-Esses caçadores não ajudam em nada. - Reclamou Eider.

Haltr assentiu como se concordasse, mas sua mente estava em outro lugar. Não resistiu e olhou para trás, na direção de onde os caçadores estavam. No momento o gorducho estava sentado e apoiado em um tronco caído. Empunhava uma faca na mão e a usava para esculpir uma ponta afiada em um galho grosso de árvore que encontrou caído no meio da estrada. Ao ver Haltr o encarando ele sorriu e fez um gesto de saudação com a cabeça.

Eider pareceu captar o olhar de Haltr e olhou na direção do caçador também, ele comprimiu os lábios exibindo um olhar tenso como os demais lustsi. Cuinte pareceu notar e explicou com a voz calorosa.

- É para a armadilha! Pegar alguma boa caça aqui pelas redondezas. - Ele dizia alegremente.

- Não tem muita caça por aqui. - Explicou Eider - Muito perto de Turach, já caçaram todos os veados e porcos que pastavam por essas redondezas. Só tem ratos, coelhos e raposas. Não acha que essa estaca está muito grande para caçar animais pequenos?

- Não se preocupe meu jovem, eu sou o caçador aqui, sei a ferramenta certa para cada ocasião.

Cuinte começou a assobiar de modo jovial enquanto tirava lascas de madeira com sua faca. Eider pareceu desistir e se voltou novamente para Haltr, seu olhar era cheio de preocupação.

Entre a escuridão e a auroraOnde histórias criam vida. Descubra agora