Rimas (6)

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Depois de todos se recolherem - Tegthan foi para a pequena hospedaria que havia na vila - Haltr foi se deitar. Julgou que seria melhor aproveitar o máximo de sono que podia. Mas acabou por ter sonhos agitados que não conseguia recordar. Quando acordou Halgen ainda dormia em seus aposentos então Haltr tentou silenciosamente dar uma ultima geral antes de partir. O patrão havia ostensivamente aconselhado ele a não participar daquilo. Mas Haltr não seria dissuadido, precisava do dinheiro. Como ainda se sentia culpado por ir mesmo assim e ficar pelo menos dois dias sem trabalhar, tentou limpar o máximo possível.

Depois da faxina juntou suas roupas menos esburacadas e vestiu uma por cima da outra para se agasalhar na jornada. Então saiu e foi até o barracão ao lado das minas para pegar uma picareta. Tecnicamente só mineradores podiam pegar picaretas emprestadas, mas ele julgou que ninguém iria reclamar. Afinal ele pretendia devolver, e se morresse, provavelmente não iria se importar se alguém reclamasse.

Quando chegou ao ponto de encontro fora das muralhas viu que a maioria dos homens já estava por lá, e alguns levavam picaretas para servir como arma também. O que fez ele se sentir menos idiota em relação a isso.

-Muito bem. Já comprei os mantimentos, carne seca, água, alguns pães e um queijo enorme. - dizia Tegthan indicando dois sacos enormes que apenas dois homens juntos conseguiriam carregar ** Assim como a termalina. Não tinham bolsas o suficiente a venda por isso comprei algumas lonas resistentes e umas cordas para improvisar. E também não tinham lamparinas para todos. Comprei todas as 8 que havia a venda.

-Como faremos então? - perguntou um dos homens. Contando com todos, eram 18.

-Iremos revezar. Os que estiverem com a lamparina irão na frente e ao lados para iluminar bem o caminho. O resto atrás levando a termalina e os mantimentos.

-Então vamos logo! - disse Jorg como se estivesse ansioso para aquilo - Estamos esperando o que?

-Certo. É melhor irmos mesmo. Todos aqui? - Tegthan olhou a volta contando, seu olhar esbarrou com o de Haltr e ele deu um sorriso sarcástico. - Vamos embora!

E assim começaram a contornar os muros da vila. Haltr percebeu para sua admiração que nunca havia estado ali antes. No cinzal tudo era uma grande penumbra e a sombra projetada por qualquer relevo, como o muro da vila se tornava a mais profunda escuridão. Mas as oito lamparinas iluminavam bastante o caminho, e Haltr olhou para trás quando começaram a deixar a vila pra trás. Fungos brancos cresciam no muro de trás, onde ninguém jamais ia para os remover. Andaram durante algum tempo aos poucos deixando a cidade para trás. Por um tempo a luz que emanava das tochas nos muros acompanhou eles. Mas Após uma hora de caminhada no escuro elas já haviam se tornando quase imperceptiveis e logo desaparecido. Pouco a pouco foram reparando em um estranho fenômeno. Uma miríade de pontinhos de luz começavam a aparecer no céu conforme avançavam, haviam centenas, milhares.

-O que é isso? No céu? - perguntou Var, um homem meio obeso e meio medroso. - Eu quero voltar, isso não é normal! São muitas! Elas brilham, parecem olhos!

-São estrelas idiotas. - comentou Jorg de modo seco. - as mesmas que as vezes aparecem ao norte quando o céu está limpo.

-São muitas mesmo! - comentou Haltr assombrado, se intrometendo na conversa - Na vila você vê só umas cinco, bem apagadas, e só às vezes. Mas aqui... são tantas... e são lindas... - dizia de um modo arrebatado enquanto olhava para o céu. Literalmente haviam estrelas em seus olhos, no reflexo ao menos.

-São o sinal de que estamos completamente dentro do anoitecer. - dizia Tegthan que também olhava para cima. Ele parecia admirado também - Já havia lido muito sobre este fenômeno... mas os desenhos nos livros.. Não fazem jus a essa imagem.

Entre a escuridão e a auroraOnde histórias criam vida. Descubra agora